Histórias de ficção científica muitas vezes extrapolam situações da realidade para outro ambiente, permitindo um diálogo crítico sobre problemas que permeiam a sociedade de múltiplas formas. Ao apresentar o contato de seres humanos com alienígenas, frequentemente se usa uma simbologia que remete ao colonialismo que ocorre na Terra — por vezes, nós somos os colonizadores (vide Avatar de James Cameron), por outras somos os colonizados (como em Marte Ataca).
Scars Above traz uma discussão tangencial, porém distinta. Nele, acompanhamos a equipe SCARS (Sentient Contact Assessment and Response), responsável por investigar uma enorme nave espacial extraterrestre que entrou em órbita da Terra. Ao tentar investigar o objeto, somos levados a um planeta misterioso. Controlando Kate (não a nossa Kate), descobrimos que não são os alienígenas em si que apresentam uma ameaça, mas uma inteligência artificial desenvolvida por eles que, na obsessão por descobrir o segredo da vida, busca coletar o DNA de espécies desenvolvidas pelo universo mas, no processo, os transforma em criaturas selvagens e perigosas.
Para lidar com o planeta hostil, Kate conta com um arsenal de armas desenvolvidas principalmente para propósitos científicos, mas reapropriadas para combate. Conseguimos elas ao longo do jogo, cada uma com um atributo particular — eletricidade, fogo, gelo e veneno. É bacana que elas servem tanto para navegar o cenário quanto para resolver situações de combate, tornando o jogo mais satisfatório à medida em que progredimos. Provavelmente não é por acaso, mas as quatro armas elementais me lembram muito de Metroid Prime. Com a ausência de outros poderes particulares, elas são uma parte mais central deste jogo do que daquele. Quase todo inimigo grande ou chefe apresenta um tipo de combate quebra-cabeças, onde devemos descobrir e atingir algum ponto fraco com alguma arma em particular para causar dano considerável.
É legal que Kate nunca deixa de lado seu aspecto de cientista e, para desenvolver nossas habilidades, devemos coletar informações sobre as criaturas que encontramos e o ambiente que habitamos. Ao invés de pontos de experiência, ganhamos pontos de conhecimento, que então são usados para adquirir habilidades em uma skill tree. Esta por sua vez é bastante básica e poucos itens despertam uma grande vontade de desbloquear, mas de qualquer forma é legal de melhorar a personagem. Ao fim do jogo, porém, eu tinha mais pontos de conhecimento do que habilidades para desbloquear, então ficou uma sensação de desperdício.
À primeira vista o jogo parece muito com Returnal, porém a semelhança é principalmente estética. Não se trata de um roguelike com fases que se rearranjam. Os níveis são estruturados e o progresso é bastante linear. Porém, para dar um gostinho de exploração, o caminho frequentemente se separa em galhos, que ora convergem ao mesmo ponto, ora oferecem alguns benefícios para os exploradores. Muitas vezes, há algum bloqueio adiante e precisamos tomar um caminho alternativo, para então voltar e remover o bloqueio, abrindo um corta-caminho. Porém, como raramente há motivo para voltar, esses corta-caminhos não são particularmente úteis, fora permitir usar o mesmo monolito (pense bonfire) mais vezes.
Apesar da linearidade, há perto do final do jogo a oportunidade de revisitar alguns trechos anteriores e liberar alguns caminhos adicionais nas regiões. Mas, assim como a busca de artefatos de Metroid Prime, acaba passando a sensação de uma solução artificial para esticar um pouco a duração do jogo.
Fora os combates, há também quebra-cabeças mais tradicionais que nos fazem interagir com o ambiente. Gostei deles e é uma boa trégua do combate e exploração de caminhos, mas o jogo já cai no hábito de dar dicas pesadas sobre como resolvê-los enquanto estamos apenas pensando e tentando algumas possibilidades. Por exemplo, há um quebra-cabeça que requer interagir com um terminal três ou quatro vezes, mas cada vez que acionava o terminal, Kate dava dicas cada vez mais pesadas sobre o que fazer, mesmo que eu estivesse no começo apenas experimentando, e depois já soubesse o que era para ser feito.
De forma geral, minha experiência com Scars Above foi agradável, apesar do jogo não ser particularmente excepcional em nenhum elemento individual. A história, os gráficos, o combate, e o level design são todos bons o suficiente para me manter entretido e engajado, mas nenhum se destaca além do que já vimos em outros jogos. Ajuda que suas inspirações principais — Returnal e Metroid Prime — são jogos que eu gosto muito, então mais jogos nesse estilo são sempre bem-vindos. De certa forma é um jogo fácil de dizer se é para você ou não; se o tipo de combate, exploração e desenvolvimento descrito acima te agrada, será uma experiência divertida, se não transformadora.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm