Análise: Sonic Origins - Neo Fusion
Análise
Sonic Origins
26 de julho de 2022
Cópia digital da versão de PS5 cedida pela Sega.

Quem viveu com intensidade o mundo dos games nos anos 80 e 90 com certeza conhece Sonic The Hedgehog. O personagem foi criado pela Sega, mais especificamente por Yuji Naka e seus companheiros de equipe que vieram a se tornar a Sonic Team, para competir com o encanador Super Mario que estrelava grandes hits nos consoles da concorrente Nintendo.

Velhos conteúdos para novos públicos

É comum e aceitável que quem estava presente acompanhando a “Guerra dos Consoles” protagonizada por Nintendo e Sega na época tenha na cabeça que todas as pessoas conhecem os personagens principais da disputa e já tenha jogado ao menos um jogo dos mascotes. Porém, a grande realidade é que mais de 30 anos se passaram desde que os principais games dessa época foram lançados e muita gente sequer teve contato com eles. Inclusive é muito mais comum encontrar jovens que conhecem o Sonic pelas aventuras cinematográficas recentes do que pelos jogos. Sim, amigos de 30 anos ou mais, estamos ficando velhos.

Pensando por essa forma, é extremamente bem vindo qualquer relançamento ou remasterização dos grandes clássicos dos games para plataformas atuais, para que cada vez mais pessoas possam conhecer os jogos pela primeira vez, sem contar o fator nostálgico daqueles que não possuem mais os equipamentos necessários para ter acesso a eles. Mas para que um relançamento seja algo que agrade tanto o público novo quanto os jogadores de longa data ele precisa ser bem feito, e quando entrega além do produto original agrega ainda mais valor.

Compilando muitos anos de história

Aproveitando o aniversário de 31 anos da franquia Sonic The Hedgehog a Sega lançou a coletânea Sonic Origins, que contém os 4 principais jogos da franquia sendo executados de forma nativa no hardware e não por emuladores, além de uma quantidade enorme de extras que complementam o pacote. Mas será que é interessante jogar novamente esses clássicos? As novidades fazem valer a pena o relançamento tendo em vista seu alto valor? É o que vamos descobrir nessa análise

Em sua era de ouro do Mega Drive, Sonic teve quatro principais jogos que estão presentes nesta coletânea: Sonic The Hedgehog, Sonic The Hedgehog 2, Sonic The Hedgehog 3 & Knuckles e Sonic CD. Vários outros episódios paralelos e versões portáteis foram lançados mas não estão contidas aqui. Inclusive é uma pena que sempre que surgem coletâneas e relançamentos desses clássicos, as versões de Game Gear e Master System deles são ignoradas. Eram jogos excelentes que lidavam com o personagem de forma diferente já que os consoles mais simples não poderiam ter a velocidade do processador do Mega Drive.

Depois do excelente Sonic Mania era natural que o projeto fosse parar na Headcannon, do desenvolvedor Christhian Whitehead. Os games rodam diretamente nos dispositivos atuais, sem necessidade de emuladores e na engine da Headcannon, que foi criada lá em 2011 para o lançamento de Sonic CD nos celulares. Desde que começou a parceria com a Sega, a desenvolvedora tem trabalhado com o personagem de forma ainda mais satisfatória que a própria Sega e seu Sonic Team, que tenta achar uma maneira de trazer o mascote em jogos mais modernos mas com muita oscilação pelo caminho.

O velho e o novo se unem

Todos os quatro games possuem elementos que vieram posteriormente na franquia, como o “Drop Dash” que foi adicionado em Sonic Mania, mas pode ser usado em todos os jogos dessa coletânea. Essas adições não revolucionam, mas adicionam novas estratégias e maneiras de atravessar as fases e é um bom toque de modernidade. Os visuais que já eram lindos lá nos anos 90 ficaram deslumbrantes nas TVs modernas. Joguei a versão de PS5 com seus gloriosos 4K, 16:9 sem filtros e 60 quadros por segundo que deixaram o pequeno Flávio que habita em mim de queixo caído. Até mesmo a tela inicial que possui uma ilha em 3D ao fundo com vários personagens aparecendo ficou perfeita, o que me deixou ainda com mais vontade de ver um jogo 2D do Sonic naqueles gráficos modernos, assim como foi em Sonic Generations. A fórmula está aí Sega, é só fazer.

Sonic Origins possui diferentes modos para cada jogo e um que mistura todos. No modo aniversário, é possível aproveitar os games de forma mais suave e sem preocupações. Vidas infinitas eliminam a temida tela de Game Over e as vidas coletadas se tornam moedas que são usadas nas fases especiais onde buscamos as esmeraldas, ou seja, também facilita finalizar os jogos com o final verdadeiro. Uma ótima adição já que os games eram curtos, mas bastante desafiadores e completá-los era uma tarefa e tanto, ainda mais coletando todas as esmeraldas do caos. Foi o modo que escolhi e que mais joguei e a experiência foi bastante satisfatória.

Para os saudosistas tem o modo clássico, com a experiência original intocada, inclusive com a tela em 4:3 e sem a possibilidade de usar os movimentos modernos. Muita adrenalina e frustração o aguardam nesse modo. O desafio dos chefões é o que o nome já diz, a possibilidade de enfrentar novamente os chefes de cada jogo e o modo espelhado que é liberado após a conclusão do jogo principal inverte as fases e é uma grande novidade dessa coletânea.

Por último e não menos importante tem o modo Missão, onde podemos completar todos os jogos em sequência como se fosse uma história só ou completar pequenas missões que fornecem moedas para ajudar a coletar as esmeraldas e servem também para desbloquear novos itens do museu na versão Deluxe.

Museu caprichado e completo

O Museu reúne curiosidades, artes e músicas do Sonic. São várias coisas que complementam o pacote que é Sonic Origins, explorando todo o universo do personagem e o que ele significou nos anos 90. Ao completar jogos e missões novos conteúdos surgem e que elevam a nostalgia ao máximo e claro, apresentam o mascote da melhor forma possível para os novos jogadores.

Na versão Deluxe existem os conteúdos Premium, que vão mais fundo, como remixes de composições e capas de revistas. As ilustrações possuem capas dos jogos, modelos dos personagens, storyboards, manuais entre outras imagens. 

Os filmes dão um show à parte já que trazem as belíssimas novas animações feitas para os jogos. São novas introduções e finais em animação tradicional que saltam aos olhos. Cada jogo possui pelo menos duas desses novos desenhos. Um trabalho cuidadoso e muito caprichado por parte dos desenvolvedores. A inspiração veio dos curtas de animação “Sonic Mania Adventures” que foram lançados em 2017 junto do game Sonic Mania e que também estão presentes no museu de Sonic Origins. Uma excelente adição.

Em áudios é possível ouvir as músicas das fases e até mesmo criar playlists com elas e curtir enquanto faxina a casa. E o que Sonic mais acertou em todos esses anos foi em sua trilha sonora. É uma delícia atravessar as fases curtindo esses verdadeiros clássicos dos games. É difícil eleger uma música específica como favorita, já que todo novo estágio traz uma composição inspirada. Até mesmo os marcantes efeitos sonoros estão presentes. Finalmente poderemos ouvir o som de coletar uma argola em loop.

Infelizmente algumas composições de Sonic 3 foram alteradas. Não se sabe ainda se é por conta do licenciamento das músicas criadas pela equipe de Michael Jackson ou pelos samples de voz utilizados que foram removidos também, mas o que se tem são músicas da versão de PC do jogo. Algumas dessas composições estavam em protótipos e versões beta do game antes de seu lançamento, mas que agora fazem parte do jogo principal e ficam muito aquém das originais presentes no cartucho.

E Sonic é realmente bom?

Jogar toda a saga principal do Sonic em 2022 foi uma experiência e tanto. Como fã do personagem eu tive contato com todos esses games por muitos anos, inclusive finalizando eles várias vezes e tenho como jogos excelentes, mas a memória afetiva pode nos enganar. Voltar a esses clássicos me permitiu analisá-los de forma mais crítica e entender o que eles possuem de bom, ruim e perceber coisas que não havia percebido antes.

Sonic The Hedgehog não poderia ter outro destino a não ser o estrelato. Finalmente a Sega criou um mascote digno de enfrentar seu principal concorrente, o Super Mario. O carisma transborda e a magia começa já na primeira fase, com o estilo visual bem distinto e belíssimo. Mas algumas coisas envelheceram mal, como a falta de inspiração na criação de desafios e até mesmo a fase especial para coletar esmeraldas, extremamente irritante. Mas o vilão marcante e com ótimo design foi o suficiente para manter todo mundo jogando até o final.

Sonic The Hedgehog 2 é tudo que se espera de uma sequência. Mais velocidade, mais fases, mais beleza visual e claro, mais personagens. Tails é encantador desde a tela inicial e acompanha o herói em sua jornada. É possível jogar de forma cooperativa, mas é uma experiência frustrante já que a tela está sempre seguindo o Sonic e deixando a raposinha para trás. Nesse jogo as composições são ainda mais inspiradas e as fases muito bem desenhadas até o final e o bônus de coletar esmeraldas bem mais divertido. Na minha cabeça de alguns dias atrás era o melhor dessa era do Sonic.

Sonic 2 era meu favorito até poder jogar Sonic 3 novamente. Uma superprodução que com certeza recebeu um baita orçamento em sua época. O game é verdadeiramente muito bom. Os anteriores oscilam em qualidade mas esse terceiro mantém o nível alto até o final. A dificuldade é a melhor balanceada e o level design muito bem executado. As músicas que perdem o charme das originais já que algumas foram substituídas e não possuem a mesma qualidade, mas é algo que podemos relevar. O design do personagem recebeu uma reformulação com mais pixels e carisma e é aqui que temos a chegada de Knuckles, outro amigo/rival da turma do Sonic que já entrou para o coração dos jogadores.

A presença de Sonic 3 nessa coletânea é um grande chamariz, já que esse é um jogo pouco relançado ao longo da história. Os dois primeiros possuem inúmeras versões em vários dispositivos, mas o terceiro sempre ficou para trás. O motivo é meio nebuloso mas pode envolver licenciamentos que mencionei antes, mas o que importa é que está disponível em Sonic Origins e em sua forma mais completa, que era a junção dos cartuchos de Sonic 3 e Sonic & Knuckles, que adicionava mais fases e a possibilidade de jogar com querido Echidna.

A Sega, no auge da sua megalomania, lançou um acessório para Mega Drive chamado Mega CD (ou Sega CD em alguns países) que prometia mais armazenamento para os jogos, graças ao CD e algum processamento gráfico extra pro console. Foi um fiasco, mas trouxe ao mundo Sonic CD. Elogiadíssimo na época de seu lançamento, é um game mais ambicioso do mascote. Jogando ele atualmente e pela primeira vez até o final, percebi que a Sega perdeu um pouco a mão aqui. Toda a parte de fases com versões no passado e presente é meio confusa e não deixa tão claro quais são os objetivos, que se não fosse pela introdução que Sonic Origins faz, eu não saberia até hoje como funcionam. O level design judia do jogador o punindo sem ao menos saber o que o acertou, causando caos na tela e bastante frustração. Foi o que menos gostei, mas possui suas qualidades. Graças ao CD, novas animações, como as perninhas em infinito do Sonic, e a trilha sonora cheia de samples de vozes, instrumentos e carisma foram possíveis. A animação de introdução feita na época me lembra o desenho que passava na TV e também existia na época graças ao maior armazenamento da mídia.

Fazendo uma análise bem rápida e superficial é possível observar os motivos que levaram a Sega ir se perdendo com o personagem ao longo dos anos. Na tentativa de extrair o máximo do sucesso alcançado, a produção dos jogos foi acelerada e vários jogos entraram em linha de produção, que salvo algumas diferenças aqui e ali, se parecem tanto a ponto de ao longo dos anos se confundirem na cabeça dos jogadores. Diferente do que a Nintendo fazia e ainda faz com Super Mario, que mesmo se apoiando em mecânicas parecidas, traziam novidades suficientes para marcar o que cada sequência tinha de diferencial. Claro que não é o único motivo da Sega ter dificuldade de tornar Sonic relevante novamente, mas é um dos fatores mais significativos.

Emulação nativa

A engine criada pela Headcannon é sensacional e cumpre seu papel, mas nem sempre da melhor forma. Inúmeros bugs acontecem pelo caminho sendo necessário reiniciar a fase para sair de uma enrascada. O pobre do Tails quando controlado pela IA fica perdido em alguns obstáculos e diferente do que acontecia antes, ele não ressurge na tela, gerando assim barulhos e efeitos consequentes das falhas dele e que causam desconforto em algumas vezes. A falta de uma possibilidade de salvar a qualquer momento, ou até mesmo rebobinar o jogo, presente em muitos games retrô atualmente incomoda, mas é compreensível quando os desenvolvedores usam outras ferramentas para facilitar a experiência sem prejudicá-la.

Nas opções é permitido modificar algumas coisas, como o aspecto da imagem e alguns filtros para suavizar a experiência ou deixá-la ainda mais retrô, porém a sua forma básica segue sendo a mais indicada e mais bonita, resgatando o que a arte tinha de mais linda e a destacando ainda mais.
Erros dos clássicos foram corrigidos, principalmente as fases bônus que no console original eram mais travadas e com frame rate baixíssimo. Agora tudo flui com leveza e suavidade.

No ano que Sonic completa 31 anos com carinha de 2, graças ao sucesso das adaptações pro cinema, a Sega traz a versão definitiva de seus jogos clássicos. Rodando diretamente dos dispositivos modernos, os jogos nunca foram tão exuberantes nas telas grandes atuais. A adição de modos facilitadores tornam a experiência mais suave e divertida para quem quer relembrar a época que jogava em sua infância, mas principalmente para mostrar a quem conheceu o mascote nos cinemas recentemente conhecer as origens do carismático Porco-Espinho. O modo museu complementa o pacote com conteúdos extras que vão desde a nostalgia até os belíssimos curtas de animação criados para Sonic Origins e Sonic Mania.

Seja você novo no universo de Sonic The Hedgehog ou um velho amante do mascote da Sega, Sonic Origins é para você. O objetivo de relembrar os clássicos com aquele toque de modernidade foi executado com louvor e se o valor não for pesado para você, é uma excelente pedida. Se achar um pouco caro é só esperar uma eventual promoção para curtir.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm