Vamos primeiro aos fatos: Star Wars e videogames são uma combinação natural (para não dizer inevitável). O apelo da franquia criada por George Lucas sempre foi enorme, seja por conta do rico universo introduzido pela primeira vez no cinema em fins dos anos 70, com Episódio IV; seja porque para a maioria das pessoas é irresistível a ideia de assumir o papel de um Jedi empunhando sabres de luz ao mesmo tempo que usa truques incríveis manifestados pela Força para derrotar o Império Galáctico.
Nos últimos 40 anos, inúmeros jogos carregando o nome Star Wars vieram ao mundo capitalizando em cima disso mesmo. Alguns foram enormes sucessos de crítica e público (como o clássico Knights of the Old Republic) enquanto outros nem tanto (como o execrável Masters of Teräs Käsi), mas sempre explorando de diversas maneiras o que a saga pode oferecer de melhor (ou pior).
Após a compra da franquia pela Disney, no entanto, ficou mais comum encontrar jogos que apelam para o multiplayer abusando de loot boxes do que títulos voltados para campanhas solo — inclusive com o cancelamento de um projeto promissor capitaneado pela lendária Amy Hennig (diretora da trilogia Uncharted e de Legacy of Kain: Soul Reaver). Então, olhando por essa ótica, é louvável que Star Wars Jedi: Fallen Order exista e seja um enorme sucesso, já superando a marca de 20 milhões de jogadores entre todas as plataformas em que está disponível.
Agora, cerca de um ano e meio depois de seu lançamento original, a EA e a Respawn entregam de surpresa um update feito especialmente para o PlayStation 5 e Xbox Series. É sobre ele que esta análise falará.
A aventura de Jedi: Fallen Order se situa após os eventos de Episódio III: A Vingança dos Sith (sim, o filme). Assumimos o papel de Cal Kestis, sobrevivente da chamada Ordem 66 que ficou conhecida por ocasionar a queda da Ordem Jedi ao exterminar seus cavaleiros. O jogo abre com Cal trabalhando como sucateiro de naves no planeta Bracca e faz o possível para esconder seu conhecimento da Força e o fato de ter tido treinamento Jedi no passado. Todo esse disfarce, porém, é descoberto quando um acidente ocorre num dia normal de trabalho e Kestis se vê obrigado a utilizar a Força para salvar a vida de um amigo.
Obviamente, tal habilidade não passa despercebida e logo membros do Império aparecem para perseguir o protagonista numa sequência claramente inspirada por Uncharted 2: Among Thieves. Kestis é então resgatado por uma ex-Jedi, Cere Junda, e seu companheiro, o piloto Greez Dritus, a bordo da nave Stinger Mantis. Daí em diante, o jogo faz com que nos aventuremos por diversos planetas que vão desde Kashyyyk, terra dos carismáticos Wookies, até Dathomir, terra do cruel Darth Maul, numa bem feita coletânea de lore “Star Warseana”.
Entre indas e vindas, Cal toma contato com diversos personagens que buscam derrubar o Império bem como ganha a companhia do pequenino droid BD-1 — facilmente uma das melhores personagens do jogo. Narrativamente, não é O Império Contra-Ataca, mas cumpre o papel como uma história menor nos moldes de um Rogue One ou Solo da vida.
Fallen Order usa aqueles diversos planetas como plano de fundo para uma exploração calcada no metroidvania, inclusive com um sistema de escanear objetos, construções e corpos tipo Metroid Prime. Por um lado, a atenção aos detalhes dada pela Respawn é um ponto alto e que dificilmente decepcionará os fãs da saga; por outro, há inúmeras ressalvas na forma como o jogo opera em termos de design.
O que quero dizer com isso é que Fallen Order pode ser interpretado como uma espécie de amálgama do AAA. Ele pega inúmeras ideias de outros jogos consagrados das últimas décadas como Uncharted — vide as set pieces explosivas e seções de escalada —, Dark Souls e Sekiro – esquema de meditar em “fogueiras” que resetam inimigos e combate melee com mecânica de parry —, Tomb Raider — exploração de tumbas com quebra-cabeças mais ou menos básicos — e o já citado Metroid — uma vez que os mapas são construídos de forma que você retornará aos mundos explorando áreas antes inacessíveis por conta da falta de determinadas habilidades na primeira vez que os visitamos.
Isso por si só não é algo errado. O problema real vem quando se olha mais a fundo: não há exatamente uma “originalidade” em nada do que Fallen Order faz. Cada um de seus elementos já foram feitos antes por outro jogo e de maneira mais eficiente e inspirada. O que acaba por redimi-lo é que, por mais que haja um ar de mediocridade no que ele faz, não dá para não se alegrar com o fato de ser o primeiro Star Wars seguindo esses moldes em muito tempo.
A Respawn é um estúdio talentoso, basta olhar para a qualidade de Titanfall e Apex Legends, então a impressão que tenho é de que Fallen Order sempre teve o coração no lugar certo, mas não o tempo de desenvolvimento e polimento necessários, já que ele precisou sair um mês antes de Episódio IX: Ascensão Skywalker. E isso, infelizmente, afeta tanto a qualidade geral de como as ideias foram implementadas como… bugs.
Quando joguei a versão original de Jedi: Fallen Order no PlayStation 4 base, minha experiência foi um bocado frustrante. Além de ser uma versão que sofre com uma taxa de quadros pouco estável, inúmeros bugs me tiraram da experiência. O jogo chegou a travar e fechar sozinho mais de uma vez. Diversos inimigos agiam com problemas na inteligência artificial, correndo contra objetos que bloqueavam seus caminhos. Em um momento específico, um deles começou a flutuar num espaço onde deveria haver um elevador, mas que não estava lá (e eu não podia pular ali, senão caía).
Em outras ocasiões, ao tomar dano, o controle vibrava para registrar o golpe/tiro mas não parava de tremer mesmo se eu entrasse no menu. E um dos erros mais esquisitos aconteceu ao levar dano de um míssil: o jogo simplesmente ficou sem som e cheguei a pensar que era um efeito temporário do impacto, o que faz sentido… mas na verdade o áudio simplesmente sumiu por inteiro mesmo e tive de reiniciar o jogo para resolver. Não fossem esses problemas técnicos, eu provavelmente teria gostado mais de jogar Fallen Order quando de seu lançamento inicial. Agora, com esta segunda oportunidade, a Respawn foi capaz de limpar esses problemas?
Bem… sim e não. Veja, esta atualização para a nova geração tem aspectos muito positivos e outros nem tanto, ficando num meio termo. Por um lado, o jogo roda numa resolução nativa de 1080p no Xbox Series S a 60 frames por segundo (sem opção de resolução maior a 30 fps), 4K no PS5 no Series X a 30 fps e também uma opção de rodá-lo a uma resolução nativa de 1440p a 60 fps nas duas máquinas, que foi o modo que optei, já que resposta mais rápida beneficia muito a ação. O carregamento do jogo também é bem mais rápido (cerca de 15 a 16 segundos ao invés de 30, nas versões anteriores), apesar de não estar no mesmo nível dos recentes Resident Evil Village e Final Fantasy VII Remake Intergrade (ambos com versões nativas para a nova geração). De resto, melhorias em qualidades de sombras e certas texturas foram implementadas, deixando o jogo mais limpo em certas cenas.
Por outro lado, o jogo ainda apresenta alguns problemas de IA, aquele bug do controle vibrar loucamente (que não sei a essa altura se é um feature do DualSense mesmo ou o mesmo problema de antes) e alguns problemas de texturas, além das animações esquisitas para o ciclo de corrida do Cal (coisa que incomoda muita gente). Ah, e eu também encontrei este bug bizarro em que um inimigo simplesmente caiu fora do cenário. Mas, de um modo geral, sim, a experiência é menos problemática do que aquela de 2019 e a Respawn continua a atualizar o jogo.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm