Análise: Stick it to the Man! - Neo Fusion
Análise
Stick it to the Man!
24 de novembro de 2017

Um aspecto de videogames que me interessa muito é como mecânicas (habilidades do personagem) vão poder interagir com outros elementos da obra para formar as situações do jogar. Disso decorre um bom punhado de coisas e a mais óbvia delas é o tal do level design (como o estágio vai trazer obstáculos e/ou oportunidades para o jogador exercer as mecânicas). Mas a ideia que nos leva até Stick it to the Man! é a das mecânicas unitárias que possuem múltiplos usos. O exemplo maior e mais recente vem de Super Mario Odyssey; arremessar o Cappy é ao mesmo tempo ataque, possibilidade de plataforma e, sobretudo, possessão.

Em Stick it to the Man! temos uma mecânica desse tipo, mas antes de falar dela cabe uma breve explicação do contexto do enredo do jogo. Ray é um rapaz com uma vida bem comum; tem um trabalho, uma namorada, e um tanto de inseguranças. Isso muda quando um acidente aéreo acontece e a carga que estava sendo levada na aeronave cai diretamente na cabeça do rapaz, fazendo com que um alienígena (a tal carga secreta) se instale em seu cérebro.

A partir daí Ray passa a ter um grande braço saindo de sua cabeça (e que só ele pode ver), e vai precisar lidar com essa nova realidade e com a ameaça da organização que perdeu o alienígena. O grande braço saindo de sua cabeça traz toda a gama de interações que teremos no título. A mecânica unitária é grudar o braço em algo, e com isso podemos puxar o Ray alçando-o para uma nova plataforma, conectar ao cérebro das pessoas e ler seus pensamentos, e puxar ou colocar itens e “ideias” em locais ou pensamentos.

Essa habilidade está intimamente relacionada aos dois tipos de jogos que Stick it to the Man! tenta combinar; adventures e platformers. A parte de plataforma existe ao longo de toda a experiência, mas o foco do jogo é contar sua história através da resolução de problemas que se colocam para Ray e para o jogador.

O enredo se desenvolve a partir de cada estágio e do pensamento dos personagens que encontramos. Essa ideia de podermos ler os pensamentos é muito interessante pois dá a chance de revermos a qualquer momento as dicas que a mente de cada um nos dá para a resolução dos puzzles, além de ser uma forma boa de se contextualizar o mundo e seus personagens.

Stick it to the Man! é bastante marcante em seus tipos e seu visual. A arte do jogo funciona muito bem para o tipo de humor buscado no jogo, e é bastante característica da Zoink, desenvolvedora também de Zombie Vikings e do já anunciado para Switch, Flipping Death. Casa bem com isso o fato de que todos os obstáculos e puzzles que temos que vencer são muito bem sinalizados através das cutscenes e depois dos pensamentos que você pode ouvir. É muito improvável você não saber quais são seus objetivos.

Aliás, o jogo peca em ter resoluções muito simples. Veja, além de itens que podemos grudar nossa mão e pegar, também é possível retirar conceitos e ideias do pensamento de alguém, transformando-os em utensílios. O contrário também é verdadeiro, já que podemos pegar algum objeto e colá-lo na mente de alguém. É divertido como a abstração do pensamento de cada um pode gerar um objeto físico que vai ajudar com o puzzle.

Tudo está muito orientado pelo contexto do jogo e por suas mecânicas, mas a óbvia resolução dos problemas apresentados retira um pouco o brilho da experiência. Não apenas a coisa é bem fácil, como geralmente ela é muito segmentada: o item que você precisa costuma estar perto de onde será usado. Isso talvez seja uma resposta ao jogo de plataforma que também existe aqui, mas cria problemas.

Um maior número de interações em cada estágio seria essencial para que SittM! passasse de um bom título para algo mais do que isso. Os puzzles são sim interessantes, bem como a narrativa e personagens que os envolvem, mas a maior parte dos estágios acaba se tornando raso a partir por essa gama reduzida de problemas e possibilidades.

Existem alguns puzzles que pedem conhecimento de alguma referência externa ao jogo, mas são poucos e de obras bem famosas.

Talvez isso se dê pela opção de não precisarmos transitar muito pelo estágio, já que algumas seções de plataforma dividem o local. Ray é caçado constantemente por uns capangas, e ele não pode fazer nada a não ser fugir. Assim, é necessário passar por esses guardas, seja atraindo eles e pulando por outro caminho, ou até mesmo usando stickers (os itens que pegamos com nossa mão alienígena) para fazê-los dormir ou caçar uns aos outros, por exemplo.

O lado bom é que a mecânica está, de novo, no centro da experiência. O lado ruim é que esses trechos acabam travando um pouco nossa movimentação pelo espaço em que estamos. Existem soluções que o jogo dá, como a possibilidade de mexer o cenário e abrir atalhos (como um novo grampo ou mesmo um túnel de viagem rápida), mas eles não são acompanhados de novos desdobramentos em cada puzzle ou a necessidade de ir e voltar pela cidade para ir resolvendo os problemas.

Esse é mais um exemplo de que o jogo foi pensado em suas particularidades e eventuais problemas, e que a mecânica principal está no centro de tudo, do gameplay à narrativa, e funciona em múltiplas situações. Mas a boa ideia e competente execução, acabam sendo tolhidas pelas possibilidades de ir além, que não nos são exatamente entregues.

Fica, entretanto, uma experiência singular, inteligente e bem polida. A história de Ray ao longo dos capítulos é bem humorada e cheia de tipos que vão aparecendo e reaparecendo para montar esse bizarro mundo. Dizer que um jogo é bom, mas não chega a ser brilhante, talvez seja mais elogioso do que inicialmente parece, e é assim que me sinto em relação à Stick it to the Man!.

Stick it to the Man! é um título com um visual marcante e um humor próprio. Através da mecânica da mão alienígena, faz o jogador interagir com o mundo a sua volta de diferentes maneiras. É inteligente nessa proposta, e traz um mundo que vai se desenvolvendo a partir do nosso uso dessa mecânica. Seus puzzles são bem sinalizados, ainda que triviais, o que impede o jogo de ser brilhante. É, de qualquer forma, um bom jogo que tenta misturar adventure com plataforma, e que acaba valendo pelos personagens de seu mundo e por suas boas propostas mecânicas e narrativas.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm