Pergunta comum a quem ainda está na infância, “o que você quer ser no futuro?” é algo que muitos adultos têm dificuldade em responder atualmente. Presos entre a necessidade de “pagar boletos” e corresponder a expectativas, dificilmente conseguimos fazer exatamente aquilo que desejamos como meio de vida — e as poucas exceções, normalmente, são usadas como prova de que o sistema desigual na verdade funciona, basta “querer” o suficiente.
Enquanto na vida real o conflito entre o que se quer fazer e o que é preciso para encarar o cotidiano nem sempre é resolvido — o que pode gerar uma série de problemas de ordem mental —, na ficção felizmente a história é diferente. Esse é o caso de The Artful Escape, game desenvolvido pela Beethoven and Dinosaur, que ganhou seu lançamento no dia 9 de setembro após um longo ciclo de desenvolvimento.
Nele, somos apresentados a Francis Vendetti, jovem violonista que inicia sua carreira como música sob a responsabilidade de um pesado legado familiar. Ele é sobrinho de Johnson Vendetti, um famoso artista folk que é reverenciado tanto por seu grande talento quanto pelo fato de ter morrido muito cedo, ambos elementos que colocam uma grande pressão sob seu sobrinho.
Na noite anterior à sua estreia como artista, o protagonista é surpreendido por uma série de acontecimentos inesperados. Convidado por uma figura misteriosa, ele embarca em uma espaçonave habitada por uma série de alienígenas que estão ali para ver os maiores shows que o Cósmico Extraordinário já viu, e cabe ao jogador entregar a eles justamente o que estão pedindo.
Jogar The Artful Escape é o equivalente a navegar pelos mundos pintados por Roger Dean, artista responsável pelas capas de álbuns de bandas como Yes, Gentle Giant, Uriah Heep e Asia. Viajando por mundo alienígenas que desafiam a lógica e recheiam a tela de cores, o game reflete em seus cenários a transformação interna pela qual Francis passa.
Enquanto na Terra o protagonista é forçado a seguir uma carreira folk que não deseja, fora dela ele pode revelar sua verdadeira personalidade como um prodígio da guitarra. Com solos complexos e melodiosos, ele se revela um verdadeiro showman capaz de usar seu talento para revolucionar civilizações intergalácticas e agradar até mesmo ao mais exigente dos alienígenas.
Com um roteiro compacto e direto, The Artful Escape não dedica muito tempo a debater os conflitos internos de seu protagonista, tampouco mostra momentos em que ele demonstra hesitação em mostrar quem verdadeiramente é. Livre de barreiras e em um universo em que todos o desconhecem, o músico revela seu verdadeiro lado que nada tem a ver com o legado de seu tio ou com o que esperam dele.
Na prática, o jogo é muito mais uma viagem por cenários lindos e com animações incríveis do que um desafio mecânico em si. O gameplay consiste em passar por cenários e pular sobre obstáculos simples, sem nenhuma punição por falhar — se você cair em um buraco, em questão de segundos é transportado para um checkpoint próximo. No entanto, essa simplicidade em nada tira o brilho da experiência, que é muito mais sobre ver e sentir do que sobre interagir. É mais ou menos como assistir a um bom concerto de música ou ouvir o melhor álbum de sua banda favorita usando um bom e confortável par de fones de ouvido.
As transformações pelas quais os ambientes passam refletem o interior de Francis, que desabrocha como um artista completamente diferente do que era esperado dele. Até por isso faz sentido que o game escolha uma representação tão focada em elementos alienígenas: quem o protagonista é como músico é tão distante do universo folk que, para os fãs de seu tio que veem nele uma continuidade de seu legado, o som que é feito poderia muito bem ter sido fruto de outro mundo.
O que ajuda a aumentar o impacto dessa transformação, bem como as consequências que ela pode ter, é o elenco de coadjuvantes — todos eles passando por problemas de definição de imagem próprios. Temos a técnica visual que sabe que é boa, mas tem receio do que receber crédito por seu trabalho pode trazer, até a velha estrela do rock que, mesmo sabendo que seu auge já passou, se agarra com força ao passado, mesmo que isso traga riscos a uma nova geração de talentos.
Os conflitos que o elenco adicional enfrenta se relacionam muito bem com as transformações de Francis e, felizmente, não trazem respostas fáceis. Há o reconhecimento de que certas decisões são equivocadas ou que é preciso mudar, mas isso não necessariamente vem acompanhado de soluções fáceis ou transformações imediatas — o que ajuda a tornar tudo mais realista e relacionável.
O mesmo acontece com o próprio protagonista que, por mais que não demore a assumir “o que queria ser quando crescer”, nem por isso deixa de ter suas próprias dúvidas. No final, o jogo nos deixa com uma mensagem de esperança e que vale a pena apenas tentar uma mudança, especialmente quando a alternativa é uma vida aparentemente segura, mas medíocre e infeliz.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm