Em momentos de crise, o passado pode surgir como uma saída confortável. Lembrar de momentos bons em meio a uma situação desconfortável nos ajuda a ter esperanças de que aquilo que vivemos é somente passageiro e pode trazer algo melhor. No entanto, o passado também pode ser uma prisão.
Muitas vezes, lembrar do passado leva a comparações com o que estamos vivendo e a lembrar daquele “sim” que deixamos de dizer ou a encarar o fruto de nosso próprio descuido. Descuido com os relacionamentos, com a própria autoestima ou com aquilo que nos tornamos como pessoas.
Visto com as lentes da memória, que filtram os lados ruins, o passado pode parecer algo glorioso que deixamos para trás. O momento em que éramos mais jovens, mais dispostos, mais bem-sucedidos profissionalmente… parece que tudo aquilo passou e não pode ser resgatado. O auge já foi, e o que vem pela frente nunca vai conseguir superar — ou igualar — o que já aconteceu.
Ao mesmo tempo em que pensar assim é limitante — e injusto —, também há certa atração em seguir essa linha. Afinal, o auge já passou, mas ele existiu — em algum momento as coisas foram boas, estavam sob seu controle e valeram à pena. E, se você conseguiu uma vez, ainda há a chance de que consiga novamente (por mais que seu cérebro diga sutilmente que não, vez atrás de vez).
O que esses pensamentos têm a ver com The Magnificent Trufflepigs? Não muito com o jogo em si, mas muito com o tipo de questionamento que ele me fez enfrentar ao final de sua curta duração. Mostrando quase uma “sessão de terapia” entre dois personagens, ele é uma narrativa centrada em mostrar como o passado é importante, mas não deve ser um fator limitador para o que está pela frente.
Desenvolvido pela Thunkd e publicado pela AMC Games, o jogo conta a história de Beth, uma garota de uma família rica que decide explorar pela última vez a fazenda que marcou sua infância — que será oficialmente vendida em questão de uma semana. Usando um detector de metais, ela tem como missão reviver um momento marcante de sua infância e encontrar o par que falta de um brinco valioso encontrado há muitos anos.
Para tornar isso possível, ela conta com ajuda de Adam — personagem que controlamos —, um antigo namorado que foi o único a responder a seus convites. A narrativa se desenrola durante uma semana e, a cada dia, temos que vasculhar os campos em busca do objetivo desejado, encontrando outros itens e lembranças pelo caminho.
Se isso parece simples e um tanto desinteressante, é porque fazer essa tarefa não é realmente algo atraente. Felizmente, o game reconhece que a parte mecânica não é seu forte — você vai passar uma quantidade de tempo mínima procurando por objetos, dedicando a maior parte de seu tempo a diálogos aos quais comenta sobre e se aprofunda nos motivos que levaram Beth a realizar suas buscas.
O resultado disso é uma trama que se desenvolve rápido e que, pessoalmente, não me surpreendeu tanto. Com pouco mais de duas horas de duração, The Magnificent Trufflepigs faz o que é possível para desenvolver seus personagens e nos fazer gostar deles — o que é facilitado por diálogos e interpretações de alta qualidade —, mas falha justamente por questão de tempo: no fim das contas, não temos a oportunidade de conhecer Beth e Adam tanto assim porque as coisas precisam andar rápido e não há muito tempo para digeri-las aos poucos.
Assim como acontece com Airplane Mode, título anterior da publicadora AMC Games, fica evidente que os criadores do game possuíam tempo e orçamento bastante limitado para dedicar a ele. Mesmo sendo bem-sucedidos em certos pontos, eles falham em outros — a parte “jogo” é mínima, e dá para tranquilamente chamar esse de um “walking simulator”, em que a parte de andar em si também é bastante limitada.
Embora The Magnificent Trufflepigs em si seja uma experiência meramente mediana, não posso dizer que não sai afetado por ele — conforme acredito que os primeiros parágrafos deste texto deixaram claros. As dificuldades de Beth em abandonar algo bom que teve um resultado negativo ressoam muito com minha história pessoal, e as lições do game me fizeram ficar por dias remoendo situações do passado, o que me permitiu passar a vê-las de forma diferente.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm