A passagem do tempo é algo constante nas vidas das pessoas: É um fator natural que não importa o que fizermos, vai continuar marchando e tudo o que você pode fazer é se habituar ao andar natural das coisas. Isso pode deixar algumas pessoas ansiosas, mas dito isso, não é como se estivéssemos com pressa a todo momento de nossas vidas, e em muitas ocasiões é extremamente comum uma coisa: Esperar. Seja em afazeres corriqueiros, boas memórias, situações chatas e maçantes ou até mesmo grandes eventos e lançamentos como o famoso Silksong, você não tem muito o que fazer a não ser esperar.
E se eu te contasse que tem um jogo todo sobre o esperar? Uma boa quantidade de horas de entretenimento eletrônico completamente centradas na ideia de espera – parece horrível, de primeira impressão, não acha? Mas o fato é que esse jogo existe, e como sou fã de jogos esquisitos ou peculiares, não pude deixar a oportunidade passar: Tive que dar uma olhada em While Waiting.
Feito pelo estúdio indie Optillusion Games, também responsável por um jogo de puzzle chamado Moncage, While Waiting é, como dito anteriormente, um jogo todo sobre esperar. Para começar, te apresentam a alguns controles básicos, e te põem no primeiro passo da sua jornada: Esperar na fila para nascer. Como um fantasminha com um queixo duplo e um cabelo com uma voltinha pra cima (ou “ahoge“, se você for otaku – pessoalmente eu chamo de “cabelo do Cebolinha”) você espera no além-da-vida para a sua chance de reencarnar (pelo menos eu acho que é isso que estamos fazendo), e o resto da jornada se passa por diversos capítulos da vida de nosso protagonista: Sua infância, incluindo situações na escola, casos em família e com amigos, sua primeira namorada na adolescência, fugir de casa e ser pego pelos pais e outros casos comuns da vida de uma pessoa.
Depois disso, você vive a vida de faculdade: Entrar na faculdade, encontrar amigos novos, esperar sua comida ficar pronta, sair pra festas e ter o seu amigo vomitar na sua camisa, dentre várias outras situações – e essa mesma estrutura continua para as outras fases da vida de nosso protagonista, sempre apresentando pequenas situações corriqueiras onde você precisa fazer o de sempre: Esperar. E enquanto espera (ele disse o título do jogo, rola os créditos!), você pode se distrair com várias pequenas coisas no meio do caminho – porque ao mesmo tempo que esperar é comum, se distrair é ainda mais comum.
A jogabilidade de While Waiting é simples: Te apresentam a uma situação específica – Esperar suas roupas saírem da máquina de lavar, ou esperar os comerciais passarem, por exemplo – e você precisa esperar até aquilo que você está esperando chegar. Enquanto isso, você pode apenas largar o controle e esperar, mas é incentivado que você interaja com aquela situação: São dados alguns objetivos vagos para cada fase (cada situação dessas conta como uma fase em um jogo de quebra-cabeça como Lemmings ou Portal) e você está livre para interagir com o ambiente para descobrir como cumprir cada um desses objetivos. Faça isso por 100 desafios diferentes e você chegará no fim de While Waiting. Parece muita coisa – especialmente já que você está esperando – mas cada fase é bem curta, e em menos de 5 minutos você termina cada fase, quer você queira ou não.
O que quero dizer com isso é que, como você está esperando para que alguma coisa aconteça em cada fase, quando aquele tempo de espera acabar, a fase é automaticamente concluída – mesmo que você não tenha cumprido todos os objetivos daquela fase. O que resta agora é seguir para a próxima fase e tentar resolver os novos desafios. A grande maioria desses desafios/objetivos consome uma boa parte do seu tempo da fase, e de primeira vez é improvável que você consiga resolver todos eles – e mesmo assim, em algumas fases, certos objetivos cancelam uns aos outros. Por exemplo, em uma fase, você está tentando dormir enquanto tem uma festa lá fora e o seu companheiro de quarto está roncando. Existe um objetivo que pede que você consiga dormir enquanto outro pede que você passe a noite em claro. Isso quer dizer que as fases são feitas para que você as jogue várias vezes em jogatinas diferentes, o que é ainda mais acentuado pelo fato que o jogo não tem “perfis” que salvam o seu jogo, apertar “Iniciar” vai iniciar um jogo desde o começo, incentivando que você vá do começo ao fim, quase como em “runs” de um jogo como roguelike ou arcade.
Apesar disso tudo, você pode repetir a fase se pausar e apertar “reiniciar” antes daquela fase acabar, e já que são 100 dessas fases, e como os seus objetivos conquistados por fase são salvos após conclusão, você pode escolher voltar a qualquer uma delas a partir do menu de Fases individuais, como num sistema de salvamento de jogo – você muito provavelmente não vai se frustrar por conta de progresso perdido. Sua frustração na verdade pode estar lá por conta de dois fatores: O tempo curto de cada fase e a velocidade de certas ações. O tempo curto de cada fase é autoexplanatório, você simplesmente não vai ter tempo para cumprir todos os objetivos de uma vez só, e se você gosta de cumprir tudo por cada fase de uma vez só, talvez esse não seja o jogo pra você. A velocidade de certas ações é o que é realmente mais frustrante, já que em visitas recorrentes a certas situações, você sabe o que tem que fazer, mas o tempo de ativação de uma certa parte da fase ou a transição de uma tela para outra quando você interage com um objeto pode ser um pouco longo demais, gastando mais tempo daquela fase. Além do mais, algumas vezes é um pouco frustrante que você só pode usar um botão para interagir com tudo no jogo.
Dito isto, não sinto que me frustrei muito com While Waiting: Cada fase é curta o suficiente para não tomar muito do seu tempo, mesmo que você esteja esperando, e senti que era divertido tentar desvendar os segredos de cada fase, o que é exacerbado pelo fato que não existe atuação de voz ou até mesmo texto em While Waiting: O jogo todo te guia pela mímica, movimento e desenhos banhados a uma trilha sonora bem leve e suave de jazz, piano e instrumentos de sopro, utilizando algumas músicas clássicas famosas e um senso de estilo bem simples com traços leves e fáceis de identificar com o charme de uma história em quadrinhos como Peanuts. É um jogo que você vai saber de cara se vai te interessar: Basta olhar um pouco de como o jogo é. Pessoalmente, senti que era agradável tentar descobrir o “quebra-cabeça” de cada fase, ajudado pelo bom humor e simplicidade do jogo, e é interessante descobrir soluções a objetivos um pouco mais malucos dentro de uma situação simples – como a vez em que estava levando uma bronca da mãe do protagonista e consegui achar uma música que o fazia imaginar que estava lutando com sua mãe ao estilo de um JRPG.
While Waiting é um jogo fácil de entender e explicar, e olhando de longe ele pode não parecer muita coisa, mas sinto que uma parte de se você vai curtir o jogo ou não é se você curte experiências menores com breve sensação de quebra-cabeças – algo como Kuukiyomi, se você já tiver jogado – e se você vai curtir uma experiência mais reflexiva, porque é isso que sinto que é um dos pontos centrais desse jogo. Não sinto que sou apto a explicar e interpretar temas extremamente complexos e dentro de obras e jogos, mas é bem aparente que While Waiting é um jogo que quer que você reflita um pouco sobre a vida, sobre esperar e sobre a passagem do tempo, e o que você vai tirar disso vai depender de cada pessoa.
Em minha visão, vi While Waiting como um jogo que trata de um tema bem aberto e que pode ser triste ou um tanto deprimente de uma maneira bem leve, descontraída e respeitosa. Não senti que o jogo estava exagerando e batendo na mesma tecla de uma maneira incessante para a sua mensagem, ou um apontar de dedos – foi uma leve reflexão sobre a vida, o passar do tempo e uma aceitação quieta e pacífica de que a vida passa, e você tenta fazer o seu melhor pra aproveitar os momentos enquanto você espera, e a ideia de tempo limitado para cada fase pode ser um tanto frustrante às vezes, mas é bem em tom do que o jogo quer dizer: Você não vai conseguir fazer tudo, e tá tudo bem com isso. Pelo menos eu acho que é alguma coisa assim. Sei lá.
Por fim, quero parabenizar o time por, nas semanas após o lançamento, escutar o feedback de jogadores e implementar algumas coisas a mais que deixam as próximas jogatinas um pouco mais agradáveis: Agora você pode pular uma fase, para caso você já tenha pego tudo nela ou se simplesmente não gostar dela – basta usar o seu Botão de Distração (que te dá algo como uma caneta para clicar, um fidget spinner ou um botão para apertar) e o jogo te perguntará se você quer pular a fase. O jogo não tem um sistema de “saves”, mas pular para a fase que você quiser para fazer os objetivos restantes é fácil de fazer, e isso traz mais acessibilidade para jogar o jogo como você quiser.
Se você leu até aqui, já deve saber se esse é o seu tipo de jogo ou não. Se parece interessante, digo que é uma experiência divertida que não vai ser pesada no seu pensamento ou reflexão, e fica a minha recomendação – pelo menos para colocar na sua Lista de Desejos. Não é o jogo mais dinâmico ou mais criativo do pedaço e talvez a vibe de jogo mais “cult” ou “artsy” não seja a praia de alguns, mas traz algumas horas de diversão bem leve para aproveitar que não me arrependo de ter jogado.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm