WayForward: Uma das queridinhas das empresas indie no mundo dos videogames. Mais conhecida por sua franquia de jogos Shantae, a empresa também foi responsável por vários jogos com IPs de outras empresas: Double Dragon Neon, Ducktales Remastered, The Mummy Demastered e, mais recentemente, Advance Wars 1+2 – e além disso, a famosa empresa Yacht Club Games, de fama de Shovel Knight e o injustamente esquecido Cyber Shadow, foi fundada por antigos membros da WayForward. Claramente, a empresa tem talento para dar e vender.
Apesar disso, é válido lembrar que para cada jogo muito bom que a empresa lança, tem os seus jogos bem sem sal, como Silent Hill: Book of Memories, Shantae and the Seven Sirens ou, mais recentemente, a dualogia River City Girls (muitas pessoas curtiram, mas eu achei um desapontamento enorme). A WayForward é uma empresa que faz um pouco de tudo, e sabe que tem as vezes que você lança um jogo maravilhoso e tem as vezes que você simplesmente precisa fazer o seu trabalho pra ser pago. A pergunta é: Em qual dessas duas categorias está o seu mais recente projeto – Yars Rising? Vamos descobrir.
Yars Rising é um metroidvania 2D usando como base um antigo jogo da Atari, chamado Yars’ Revenge. Nos trailers de lançamento, muitas pessoas ficaram confusas sobre como exatamente um metroidvania com uma protagonista totalmente diferente se relacionaria com um shoot ‘em up (os famosos “jogos de navinha”) sobre um inseto alienígena, e enquanto realmente é uma mudança bem drástica, não acho que isso merece ignorar o jogo: Metal Gear Rising Revengeance é um spin-off que tira completamente o fator de furtividade de Metal Gear, mas não deixa de ser um jogo muito bom, assim como Pac-Man World transforma um jogo de arcade em um jogo de plataforma, mas que continua sendo muito bom e com várias menções às suas origens. Mudança não é exatamente ruim: Basta que seja feita com qualidade e atenção a detalhes.
A história de Yars Rising traz a jovem hacker Emi Kimura, de codinome “Yar”, se infiltrando na corporação visivelmente corrupta QoTech como uma trabalhadora iniciante para descobrir que tipo de barbaridades a empresa tem feito. Com a ajuda de seus três amigos Mel, “Kitbash” e “Refresh”, Emi consegue infiltrar a QoTech e os seus corredores cheios de perigos revelam que não só a empresa está com envolvida em atividades escusas com grandes máquinas e robôs gigantes, mas está fazendo experimentos com formas de vida alienígenas, e com isso Emi acaba se envolvendo em uma conspiração para tentar salvar a Terra e parar o diretor da Qotech, Phillip Ong. Se você conhece Yars’ Revenge, alguns dos nomes podem parecer familiares, e isso não para por aí, já que Yars Rising faz referência a vários jogos da época – o próprio Phillip Ong é uma referência a Pong (Phillip Ong – P. Ong), e isso não se limita só à história, mas também na jogabilidade.
Em jogabilidade, Yars Rising é um metroidvania: Você explora um mapa com vários caminhos fechados enquanto você sobe algumas plataformas e ataca inimigos para encontrar melhorias que vão abrir novos caminhos para você continuar. É uma fórmula que foi feita em vários jogos anteriores, é uma fórmula fácil de replicar e é uma das minhas favoritas. Em Yars Rising, Emi começa sem mesmo poder atacar, então você tem que participar de algumas seções de furtividade (algo bem simples, você entra em uma porta e espera o guarda passar) até encontrar sua primeira habilidade, que permite que ela atire feixes de energia pela mão – tudo graças a uma marca que Emi tem no braço, que recebeu de um misterioso encontro com um alienígena quando criança.
Os poderes que você desbloqueia durante o jogo são variações de tiros diferentes como mísseis para destruir portas ou a habilidade de “mordiscar” (abrir lentamente) as portas fechadas e habilidades para melhorar sua exploração, como pular de uma parede para outra ou voar por um certo período de tempo – tudo contextualizado e trazido de Yars’ Revenge através de nomes e referências, como o “mordiscar” das portas mencionado. Algumas coisas como melhorias de poderes que você já tem ou mais munição para mísseis precisam ser encaixados em um grid no menu de opções, quase como um “tetris”, onde cada opção ocupa um número de blocos. No fim das contas, os poderes em si não são nada muito fora do esperado (para não dizer “básico”), e munição pode ser recarregada por itens deixados por inimigos, que vão variar de robôs a guardas robóticos a insetos gigantes alienígenas.
O mais interessante está na maneira como você pega esses poderes: Enquanto você explora, vai encontrar vários computadores espalhados pela QoTech – alguns deles são menores e abrem portas ou desativam armadilhas, e alguns são visivelmente maiores e coloridos, que contém novos poderes para Emi. Em qualquer um dos casos, você pode hackear os computadores (Emi é uma hacker, afinal de contas) para acessá-los, e assim como jogos como NieR Automata ou System Shock, o sistema de hacking é um minigame, e esses minigames são variações do jogo original, Yars’ Revenge!
Você pode ter que fazer o mesmo objetivo do jogo original, que é destruir a Qotile (o oponente do lado direito) seguindo os mesmos passos de destruir a cobertura defensiva, conseguir energia mordiscando a Qotile e atirando o canhão de luz, mas cada computador acessado tem uma variação disso com objetivos ou condições diferentes, como desviar de minas para chegar a Qotile, tentar atirar o canhão de luz sem poder atirar e até atirar em uma formação de inimigos como em Space Invaders – Além de várias outras mudanças e referências a jogos clássicos da Atari e similares. Pessoalmente, acho que a contextualização do jogo antigo foi feita de um modo genial, e a adição de vários objetivos diferentes mantém as coisas um tanto diferentes para as várias vezes que você vai hackear (lembre-se, o jogo original era uma tela só que se repetia quando chegava ao fim), e acho que isso cabe perfeitamente em jogabilidade e história.
Dito isto, esses minigames de hacking sofrem de um problema de imediato: A frequência deles. Como mencionei, esses minigames podem ser usados para obter novos poderes, o que acontece em alguns momentos razoavelmente espaçados, mas coisas como abrir portas ou desativar armadilhas é algo que vai acontecer constantemente, e isso significa que você estará de 5 em 5 minutos jogando mais uma variação de Yars’ Revenge. Pessoalmente, não tive maiores problemas com isso dado que curti a grande maioria das variações diferentes e o jogo inclui uma opção de ficar invencível nesses minigames que pode ser ativada e desativada a qualquer momento, o que facilita o processo para as mais complicadas, mas a verdade é que depois de um tempo elas atrapalham um tanto o fluxo do jogo.
Sabe o que mais atrapalha o fluxo do jogo? A performance – ou, mais especificamente, as telas de carregamento, as infames telas de “loading“. Estive jogando a versão de Switch para essa resenha, mas de acordo com o que li em outros lugares, esse problema parece ser constante em qualquer uma das versões, e nunca joguei um metroidvania com tantas telas de loading assim – algo que já seria irritante em qualquer jogo, mas sinto que é algo que verdadeiramente quebra as pernas de um gênero que é mais rápido e cheio de transições como um metroidvania. Não tive maiores outros problemas com relação a performance, além de modelos um pouco borrados (o esperado para o Switch), mas as telas de loading foram tão frequentes que várias vezes parei de jogar naquele momento por falta de paciência.
Em termos audiovisuais, o visual do jogo é um pouco borrado, como mencionado antes, mas os personagens tem bastante personalidade e são bem coloridos, se destacando facilmente dentre os ambientes que são bem estéreis e sem graça – salas e mais salas com o mesmo tipo de semelhança de “alta tecnologia” – o que é esperado de uma grande corporação, eu suponho, mas como estamos falando de um jogo, creio que mais destaque em cada setor ou dentre as salas faria muito melhor. As interações entre os personagens são todas narradas, e creio que a atuação de voz foi boa para trazer vida para aqueles personagens, e creio que ajuda se você gostar de um pouco de companhia enquanto você explora os corredores da QoTech.
Não posso dizer o mesmo do roteiro, infelizmente. Os personagens presentes são bem típicos: Emi é a protagonista meio bobona que comenta sobre tudo o que acontece, Mel é a amiga mais séria e mandona, Kitbash está lá pra ser interesse romântico, fazendo Emi tropeçar nas palavras e Refresh é a versão mais gritante de “como estão, cara Geração Z?” que eu vi nos últimos anos – e isso não é exatamente ruim, dá pra tolerar um elenco meio estereótipo se não for exagerado demais ou se o resto do jogo compensar, mas Emi fala TANTO (e não diz absolutamente nada de valor) que 15 minutos depois do início, desliguei os comentários dela (nas opções, que desativa a voz mas infelizmente ainda deixa as legendas) e em certo ponto simplesmente desativei a atuação de voz para ler o texto mais rápido e não ter que ouvir alguns personagens.
Tenho noção de que gostar ou não de coisas como vozes ou roteiro é subjetivo, e que Emi claramente é uma personagem feita pra ser meio bobona e falar demais, um efeito meio similar a Deadpool, o anti herói da Marvel, mas assim como esse personagem, as falas de Emi são tão frequentes que tiram qualquer mérito de momento engraçado que vem a acontecer, em minha opinião. Queria que a opção de desativar os comentários de Emi tirasse também as legendas, mas pelo menos não ouço ela comentar pela décima vez que “lasers são exagero e onde será que eles conseguiram tanto dinheiro pra esses robôs?” e posso me concentrar na ótima trilha sonora, que senti que ficou bem animada, e combinou perfeitamente com o ambiente e vibe do jogo. Se você já ouviu falar e curte coisas como city pop, dê uma escutada na trilha sonora de Yars Rising, você não vai se arrepender.
Comentei nos parágrafos acima que algumas coisas são toleráveis se o jogo compensar, e infelizmente esse é o aspecto que creio que mais machuca Yars Rising acima de tudo o que comentei: O jogo em si não compensa. Os poderes que você ganha em Yars Rising são básicos, como já mencionado, deixando a exploração responsável por compensar isso, mas a exploração também é extremamente básica: Não só o jogo te guia a todo momento a cada vez que você recebe um poder novo ou enfrenta um chefe (que, em sua defesa, achei divertidos) como os corredores da QoTech são bem lineares, apresentando poucas saídas secretas e ainda menos motivos para sair procurando segredos, e as recompensas em si são uma faca de dois gumes, graças ao sistema de upgrades em “grid” mencionado mais cedo.
Ao explorar os corredores da QoTech, você pode receber recompensas como aumento da capacidade de mísseis que você pode ter, ou mais vida para Emi, ou talvez até mais dano, mas isso tudo tem que ser encaixado na grade de melhorias, e apesar de parte de mim curtir a ideia de jogar um Tetris com as habilidades e considerar o que vale a pena realmente colocar, sinto que essa restrição acaba não combinando bem com um metroidvania, e quando senti que estava com upgrades bons o suficiente, a exploração não valia muito a pena porque o que eu encontrava era inferior às melhorias que eu já tinha, então simplesmente passei a ignorar os caminhos alternativos, diminuindo o que considero a maior diversão de um metroidvania.
Para falar um pouco mais do mapa, sei que um metroidvania não necessariamente precisa ser grande e completamente sem guia para ser bom: Metroid Fusion trouxe uma estrutura bem mais rigidamente linear que te mostrava aonde ir a todo momento, assim como Yars Rising, mas naquele jogo, você revisitava os setores diferentes da nave várias vezes, e eles tinham um mapa bem mais aberto e cheio de caminhos diferentes que se conectavam, enquanto em Yars Rising elas estão todas linearmente conectadas a um andar específico do prédio da QoTech, com raras exceções – é como explorar o andar de um prédio na vida real, e enquanto isso é realista (em um jogo onde você combate aliens com lasers que saem da sua mão) não é exatamente divertido ou criativo, deixando a exploração bem estéril.
É triste olhar para uma ideia que parecia ter tudo para funcionar bem, mas simplesmente não funciona particularmente bem em nenhuma das frentes. Eu não sinto que é certo dizer que Yars Rising é ruim: Existem aspectos que curto sobre o jogo, e acho que a mera transformação da ideia de um jogo de uma tela de Atari em um minigame que está integrado em um jogo com clara atenção minuciosa a detalhes e respeito ao clássico de outrora é algo que deve ser louvado, mas é uma grande pena que isso tudo esteja ligado a um metroidvania que é a definição do termo “sem sal”, e por conta disso sinto que é difícil recomendar Yars Rising.
Ao mesmo tempo que entendo que isso já é meio que uma tradição do tempo, não consigo deixar de me sentir decepcionado. A WayForward fez alguns dos jogos que repetidamente joguei e que me cativaram bastante, e já tiveram outros metroidvanias que eram bem sólidos e ainda tinham bastante motivo para se destacar e explorar, mas recentemente todos os lançamentos da empresa que joguei tem sido no máximo “ok” ou tido muita má sorte (como Advance Wars). Minhas expectativas não são gigantescas, mas sinto que já vi a empresa fazer bem melhor. E como resultado, só consigo recomendar Yars Rising a quem estiver a fim de algo mais similar a um Megaman ZX do que um Symphony of the Night, e que consiga pegar o jogo a um bom desconto.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm