Recentemente tive a ideia de iniciar esta coluna, Hall da Fama, para poder discutir alguns elementos específicos de jogos que consideramos ser excepcionais e entre os melhores de todos os tempos. O elemento em si pode ser qualquer coisa — uma fase, um personagem, uma música, uma mecânica. A ideia é analisar o elemento dentro e fora do contexto do próprio jogo e discutir o que torna ele tão especial.
A vontade de falar sobre Castle Rock, uma fase de Rayman Legends, surgiu alguns dias atrás quando alguns amigos vieram jogar videogame comigo. Entre o Switch e o Xbox eu tenho vários jogos “de festa” apropriados para confraternizações do tipo, e eu sinto um certo prazer ao apresentar jogos diferentes para pessoas que curtem jogos mas não conhecem a amplitude do que a mídia pode apresentar. Alguns sucessos de festinha recentes foram TowerFall Ascension, SpiderHeck, Rocket Fist e Speedrunners.
Uma das amigas presentes comentou que costumava jogar Rayman no SNES quando era mais nova, o que me fez querer apresentar Rayman Legends a ela. Baixei o jogo no Xbox e deixei que ela e outras duas amigas experimentassem algumas fases do jogo, levando, inevitavelmente, a Castle Rock.
Próximo ao lançamento do Wii, o título Rayman: Raving Rabbids tirou o holofote do mascote desmembrado da Ubisoft e o colocou nos Rabbids — criaturas caóticas que muito depois ganhariam a simpatia dos jogadores, mas isso é outra história. Vários anos depois, em 2011, Rayman voltou com força em Rayman Origins, um belíssimo jogo de plataforma em 2D lançado para Wii, PS3 e 360, seguido por Vita, 3DS e PC. Eu joguei e curti Origins no PS3, mas o jogo não me prendeu tanto quanto esperava.
2012 ficaria conhecido como “o ano em que a Ubisoft ganhou a E3”. Com uma diversidade de títulos promissores, incluindo a aguardada “conclusão” Assassin’s Creed III, o icônico discurso de Vaas em Far Cry 3 e o inesperado Watch Dogs, o que mais me chamou a atenção foi justamente Rayman Legends, que parecia ser uma evolução impressionante em relação ao seu antecessor. A treta é que Legends, junto com ZombiU, seria exclusivo para Wii U, e colocava na Ubisoft uma certa pressão para ajudar a Nintendo a justificar o novo console.
No caso de Rayman, o controle GamePad do Wii U permitia que um jogador controlasse Murfy, um personagem auxiliar que pode interagir com o ambiente através da tela de toque. Conceitualmente, a proposta é muito similar à de New Super Mario Bros. U, demonstrado na mesma E3, porém a execução da Ubisoft era mais completa e interativa do que a da própria Nintendo.
Originalmente planejado como título de lançamento do Wii U, no final de 2012, o jogo foi adiado para 26 de fevereiro do ano seguinte. Para compensar, a Ubisoft lançou uma demonstração do jogo ainda em 2012, contendo três fases. Uma delas era Castle Rock. Para concluir a história tumultuada do lançamento de Rayman Legends, o jogo foi adiado novamente poucos dias antes do dia 26, e acabou saindo em setembro de 2013. O lançamento fraco do Wii U fez a Ubisoft repensar o lançamento e preparar versões para PS3, PS Vita, Xbox 360 e PC. Devido a acordos com a Sony e/ou Microsoft, a versão de Wii U não poderia lançar antes das outras, mesmo que o jogo estivesse completo de acordo com a própria empresa.
A primeira vez que joguei Castle Rock foi através da demonstração citada acima. Eu lembro bem da sensação: parecia que eu teria que catar os pedaços de cérebro espalhados na parede, porque minha cabeça havia explodido. Havia algo sobre aquele jogo — sobre aquela fase — de especial. A sensação de jogá-lo era perfeita, e Castle Rock perfeitamente alinhava essa sensação em um ambiente de plataforma rítmica.
Depois fui perceber que o jogo trapaceia um pouco — nas fases de música, a física e os controles de Rayman Legends mudam um pouco para incentivar ao máximo a inércia. O objetivo é não parar de correr e, portanto, a velocidade de Rayman e seus amigos permanece constante em meio de pulos, quedas e golpes.
Outra coisa que só percebi depois, ao mostrar uma fase para alguns amigos, é que a música de Castle Rock não é originalmente feita para o jogo. Trata-se de um cover “raymanizado” de Black Betty, da banda Ram Jam, uma música de rock and roll raiz de 1977 — que na verdade é um cover de uma música popular afro-americana que muito tem a ver com o conflito racial da virada do século XIX para o XX. É uma canção de história carregada, e a Ubisoft Montpellier fez excelente uso dela. O contexto histórico é removido, de fato, mas é inegável que o resultado é muito massa.
Sinto que Rayman Legends foi feito no final da era Guitar Hero, quando a onda de jogos de ritmo puro estava dando espaço para mesclas de gênero. Assim, o espaço de rhythm-platformer foi clamado por Rayman, apesar de ser apenas em fases bônus. Castle Rock é a primeira delas e uma perfeita introdução — não chega a ser desafiante para quem tem bom domínio dos controles, mas mesmo assim é extremamente agradável como todos os elementos da fase são sincronizados à música. Talvez seja uma pequena janela que levaria a jogos como Hi-Fi Rush, que levam esse conceito a outro nível.
Uns dez anos depois desse primeiro contato, Castle Rock continua sendo algo que sempre traz um sorriso ao meu rosto. Me divirto mostrando a fase para amigos que talvez não conheçam os jogos modernos de Rayman — a amiga do começo do texto adorou — mas também me divirto sozinho, revisitando a fase quando quero uma dose de diversão pura. Ao longo dos anos revisitei Rayman Legends algumas vezes — em 2013, em 2017, em 2021 — e é sempre um momento de alegria quando a próxima fase a jogar é Castle Rock.
Esta provavelmente é a melhor fase do jogo, que já é repleto de fases excelentes. As musicais são sempre as mais memoráveis — Orchestral Chaos, Mariachi Madness e Granny’s World Tour são outras maravilhosas — mas as fases normais também são divertidíssimas de explorar, tanto que tive a vontade de pegar todos os colecionáveis do jogo. E não posso deixar de dizer que a trilha sonora como um todo é excepcional.
Apesar do lançamento tumultuoso, é possível adquirir Rayman Legends hoje em quase qualquer plataforma, com bons preços em promoção. É verdade que todas as versões depois do Wii U perdem um pouquinho do espírito original do jogo — por mais que a do Switch tente recapturá-lo — mas mesmo sem Murfy, este é um dos melhores jogos de plataforma 2D de todos os tempos. É uma pena que ele também marca o fim da revitalização de Rayman e dos belíssimos jogos UbiArt. Por hora, não me importo de jogar Castle Rock de novo mais uma infinitude de vezes.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm