Hall da Fama: O tutorial silencioso de The Witness - Neo Fusion
Hall da Fama
O tutorial silencioso de
The Witness
25 de julho de 2023

Eu sou um pouco obcecado com os momentos iniciais de um videogame, passando pela cena de abertura, tela de título e, naturalmente, o tutorial e primeira fase. E, na minha opinião, muitos desenvolvedores não são obcecados o suficiente com esses momentos. Acho que faz sentido — enquanto o título é desenvolvido, devs passarão mais tempo criando, testando e jogando as partes centrais do jogo, que geralmente acontecem um bom tempo depois do tutorial.

A maioria dos tutoriais, então, caem em duas categorias: podem parecer uma prova de conceito, talvez sendo a primeira parte completa do jogo, mas faltando um pouco de perspectiva sobre o que viria a ser a obra completa; alternativamente, são seções criadas de última hora, simplesmente por necessidade, e acabam despejando um monte de informações de utilidade duvidosa sobre os jogadores.

The Witness é um dos meus jogos preferidos em grande parte porque é um exímio exemplo de como fazer um tutorial. Na verdade, de uma forma literal, o jogo quase nunca deixa de ser um tutorial, pois está constantemente nos ensinando novas mecânicas e apresentando reviravoltas naquelas que já conhecíamos. E tudo isso sem dizer uma única palavra.

Linhas, painéis e não apenas

Nos primeiros instantes de jogo, nos deparamos com a única instrução direta dada pelo jogo: um ícone na tela indica que devemos apertar o botão A⃝ para acionar um cursor em tela e podermos interagir com o painel. Trata-se de um momento que vai contra as filosofias presentes no restante da campanha, mas infelizmente faz-se necessário devido à abundância de botões em um controle moderno.

Após isso, The Witness continua nos guiando, às vezes sutilmente e às vezes não tanto, mas isso sempre ocorre de forma orgânica e praticamente imperceptível. A maioria dos jogadores, após completar a área inicial, encontrará alguns painéis que ensinam mecânicas básicas do jogo. E, em seguida, encontrarão a Ilha da Simetria e ativarão seu primeiro laser. The Witness é um jogo de mundo aberto e pelo menos 7 das 11 áreas são disponíveis de imediato, mas quase todos os jogadores começam pela mesma. Somos guiados por trilhas no chão e uma sequência curiosa de objetos e painéis pelo caminho. Obviamente, sempre há a possibilidade de antagonizar o jogo e acabar em outro canto.

Ainda mais impressionante é como cada área apresenta suas mecânicas centrais. Algumas mecânicas existem inteiramente dentro de seus painéis, enquanto outras envolvem a interação entre os painéis e o mundo ao redor. As da primeira categoria são sempre ensinadas por uma sequência linear de painéis com complexidade crescente. A responsabilidade é do jogador de analisar com cuidado cada painel e como as soluções interagem entre si.

Os quebra-cabeças “fora da caixa”, que envolvem luzes, sombras, cores, sons e objetos, são mais difíceis de ensinar. Esses também são apresentados aos poucos, mas o jogador precisa manter em mente muito mais do que é visível diretamente no painel. Nesses casos, o jogo evita ensinar com muita clareza o objetivo dos painéis, optando então por incentivar um tipo de pensamento. Aqueles que compreenderem esse pensamento conseguirão resolver também os quebra-cabeças avançados que combinam diversas mecânicas de uma vez só.

Um jogo para quem joga ou não

De vez em quando, recebo amigos em casa que me pedem sugestões de videogames. The Witness geralmente está entre os primeiros títulos citados porque é facilmente acessível para quase todo mundo, em particular aqueles que preferem desafios mentais. Como o jogo não requer muita destreza nos controles, é uma ótima opção para apresentar a pessoas sem nenhum costume com videogames; melhor até do que outros jogos similares em gênero, como Portal e The Talos Principle.

Para mim, é sempre um momento divertido e fascinante assistir o raciocínio de cada pessoa nas situações apresentadas por The Witness. É quase palpável a sequência lógica que cada um segue, e também é um desafio para mim quando preciso dar uma dica na direção certa sem entregar a solução. Pessoas com mais costume em jogos tendem a trazer uma certa quantidade de pré-concepções relacionadas a como videogames geralmente funcionam, enquanto aquelas que jogam pouco ou nada vêm com a cabeça fresca e mais livre para explorar opções fora das convenções que, a elas, nem são conhecidas.

O maior desafio acaba sendo perceber quando ainda não temos o conhecimento necessário para resolver um quebra-cabeça. Um jogador acostumado com barreiras de progressão pode ter uma intuição melhor sobre isso, mas outras pessoas podem acabar se frustrando ao achar que deveriam conseguir resolver um quebra-cabeça que, na verdade, é muito mais avançado. Para mim, um grande prazer do jogo é encontrar essas barreiras e procurar o conhecimento necessário em outras partes.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm