Cá estou: do alto de uma torre de privilégios empilhados, onde uma redoma esculpida de preguiça e comodidade me protege das mazelas de uma terra em crise sanitária — nem perto disso, mas vamos fingir que está tudo bem no Brasil de 2021. Sim, eu mesmo: a pessoa que pode, sem muitas concessões, adquirir consoles (no plural) durante seus primeiros meses de lançamento. É uma alegria e uma “conquista” pessoal — não é pra menos, passei quase dois anos sem um console da Sony —, mas às vezes me pergunto: custava esperar um pouco mais?
Não estou arrependido e nem vim até aqui chorar as pitangas com meus problemas de branco. Trago, porém, um pouco de reflexão sobre nosso consumismo desenfreado no que tange videogames — e como equilíbrio e paciência na hora de fazer seus negócios pode não ser tão ruim quanto aparenta.
Para começar, quero dizer que o texto passará brevemente por algumas experiências que tive ao longo dos últimos meses. Ele não foi feito para comparar minha realidade a dos leitores e leitoras — tampouco para instruir sobre educação financeira e afins. Creio que, para bom entendedor, meio parágrafo basta para concluir que não sou e nem quero soar como coach — e admito que falo isso com certo orgulho.
Há alguns dias, tive a péssima ideia de desferir golpes contra o PlayStation 5 no Twitter (sinto-me ligeiramente no direito, por ter local de fala). Em poucas palavras, afirmei que praticamente não havia jogos exclusivos na plataforma ainda: opinião que, alinhada à indisponibilidade recorrente do produto e de seu alto preço de comercialização no mercado nacional, mais do que justifica a atitude da maioria que não se aventura em um investimento dessa magnitude, ainda mais no cenário político atual.
Deixarei de lado, porém, a discussão sobre o momento mais apropriado de investir em novos hardwares para jogar. O foco aqui, na verdade, será nos jogos eletrônicos propriamente ditos e como temos visto, cada dia mais, melhores versões surgindo a partir de obras originais. Vou começar com um contexto histórico para chegar na atualidade em breve.
No início dos anos 1990, estúdios e publicadoras negociavam com as fabricantes de tecnologia de modo a priorizar o desenvolvimento de seus projetos em uma única plataforma — ora por contratos de exclusividade, ora pelas divergentes arquiteturas e formas de trazer um jogo para aquela máquina. Apesar de parcialmente inacessíveis (economicamente falando) ainda em 2021, jogos estão mais disponíveis do que nunca — mesmo com as nefastas atitudes de empresas bilionárias tentando destituir a cultura de preservação não-oficial dessa mídia a qualquer custo.
De certa forma, alguns jogos ganharam tanta notoriedade pela sua ampla disponibilidade que chegam a ser motivo de piada quando novas formas de jogar são apresentadas ao público — Resident Evil 4 e The Elder Scrolls V: Skyrim são alguns dos exemplos que saíram “até para geladeira”. Peço sinceras desculpas pelo rodeio (contextualização) até chegar aqui, mas digo com um sorriso no rosto: como foi bom esperar por Control Ultimate Edition.
O mais recente jogo da Remedy Entertainment tinha um desempenho bastante criticado no PS4 e Xbox One originais, deixando um gosto amargo principalmente por se tratar de uma experiência na qual o conteúdo audiovisual é tão importante. Quase um ano e meio depois, o jogo recebeu duas expansões robustas e uma versão completa atualizada para a nova geração — a qual tive acesso por ter sido disponibilizada para assinantes da PlayStation Plus. O jogo chegou também ao Nintendo Switch via streaming e foi incluído nos catálogos do Xbox Game Pass em janeiro deste ano. Em poucas palavras, Control “para todos”, disponível em diversas versões e com inúmeras opções de personalizar sua experiência.
E não tem sido diferente com jogos ainda mais recentes: estava aguardando pela (possível) versão de PC de Final Fantasy VII Remake — após o reportado contrato de exclusividade temporária de um ano — para finalmente poder mergulhar em Midgar, mas fui surpreendido durante a última edição do State of Play com Final Fantasy VII Remake Intergrade, revelado com data e conteúdo extra exclusivamente para PS5. Mesmo que o extenso JRPG de 2020 esteja agora disponível na PS Plus, algo me diz para esperar e jogar a versão melhorada (que já está em pré-venda por “míseros” R$349,90). Jogar ou não jogar? Eis a questão.
Também fico bastante dividido quando o assunto é Nintendo Switch. É de se esperar que os estúdios façam concessões, de menor ou maior escala, a fim de trazerem seus jogos para o híbrido. Mas, quanto realmente importam o conforto da telinha e o espetáculo da telona? Versões de Switch tendem a custar mais para o consumidor (mesmo quando se tratando de jogos mais antigos) e o desempenho técnico pode não acompanhar, por incompatibilidade tecnológica, o esperado para hardwares como os consoles PlayStation e Xbox. De qualquer forma, a praticidade e versatilidade da plataforma são atrativos de peso.
Um terceiro motivo para esperar tem a ver com aguardar correções e estabilidade de jogos recém-lançados. Felizmente, no momento tecnológico em que vivemos, os estúdios podem reparar eventuais problemas de programação, animação ou localização por meio de atualizações pós-lançamento, redimindo o fracasso de suas versões day one. Acredito que o caso mais notório seja Cyberpunk 2077, um fiasco deplorável em forma de lançamento no final de 2020 — limitarei aqui meus comentários, tanto por ainda não ter dado uma chance ao jogo, quanto para não me alongar sobre o quão hipócrita e suja a CD Projekt RED foi em quase todas as esferas que tangem o jogo. De qualquer forma, é sempre recomendável pesquisar para saber se o game está rodando conforme esperado naquela versão específica.
Por último, porém não menos importante, algo que me orgulho de dizer que tenho feito bastante nos últimos meses: esperar promoções e formas mais acessíveis de chegar ao jogo. Nem sempre há garantia de que uma obra estará disponível por meio de serviços (como Xbox Game Pass ou PlayStation Plus), mas há grandes chances de uma promoção te surpreender após a crista da onda do hype — que pode ser tão longa quanto os quatro anos de Breath of the Wild a preço cheio* ou tão curta quanto os previsíveis descontos em jogos da Ubisoft.
*The Legend of Zelda: Breath of the Wild é meu jogo favorito de todos, mas nem por isso eu concordo que ele mantenha descontos tão espaçados de 33% enquanto seu preço original é mantido inalterado desde o lançamento.
Aos que jogam no PC, deixo sempre a recomendação de pegar um bundle generoso e proveitoso lá no itch.io por um preço justo ou de resgatar jogos na Epic Games Store, aumentando cada dia mais seu backlog. Nem todo jogo por aqui será amado pelo consenso geral, mas talvez essa seja a beleza da coisa: experimentar o que é diferente, fora da caixa, subversivo.
De um jeito ou de outro, videogames também podem ser sobre esperar. Não se cobre tanto pelo Final Fantasy IV ou pelo System Shock que você deixou de jogar lá atrás no lançamento, em uma época na qual você mal sabia o significado de JRPG ou Immersive Sim. Divirta-se bastante e invista seu tempo e dinheiro até onde achar necessário, mas lembre-se sempre que, quando o assunto é videogame, você não é obrigado a nada — especialmente a engolir trabalho mal feito vendido a preço cheio por empresas mentirosas demais para serem aturadas.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm