Recentemente passei uns dias na casa de um amigo e a vantagem de dormir no sofá é que ele geralmente fica mais perto dos videogames. Meu amigo está empolgadíssimo com seu novo PS5 e realmente queria que eu jogasse algo nele — então procurei algo que daria pra completar em pouco tempo. Optei por Stray, disponível pela PS Plus Extra que meu amigo assina, e acabou tendo a duração ideal para a ocasião.
Assim como muitos outros fãs de videogame, minha primeira impressão de Stray foi positiva. Um jogo em que controlamos um gato com uma mochilinha num mundo meio cyberpunk? Perfeito.
Infelizmente, ao longo do jogo se percebe que todo esse cuidado estético não se extende aos outros elementos da obra. Obviamente eu não esperava (nem quero) um “Cat Simulator” satírico na linha do jogo do bode, nem mesmo alguma aproximação realista da vida de um gato.
Mas gatos são criaturas inteligentes, curiosas, divertidas e muitas vezes engraçadas. Cada animal interpreta o mundo de uma forma diferente e acho que é isso que eu queria ter visto mais claramente em Stray. Visualmente, sim, enxergamos o mundo na perspectiva diminuta de um gato doméstico, mas fora isso ainda temos um olhar muito humano sobre as coisas. Com um drone companheiro, podemos conversar com NPCs, ler mensagens, digitar senhas em cofres… Elementos muito básicos de videogames mas que nada têm a ver com a experiência de um gato.
Em um determinado momento, encontramos um computador com um chat aberto e, ao andar sobre o teclado, enviamos mensagens esculhambadas sem significado. Isso é perfeitamente gato. Em seguida, temos diálogos completos com robôs e… isso não é. Talvez tentando deixar a experiência um pouco mais coerente, eu li o mínimo possível dos diálogos e, de fato, teria sido possível ter as interações com os robôs de forma não-verbal, usando gestos e outros indicadores visuais.
Para mim, a movimentação do jogo acaba deixando claro que o foco ali é só parecer um gato, não se sentir como um gato. Pular sobre objetos é uma ação contextual, que só pode ocorrer quando o ícone ⓧ aparece. Na prática, isso faz com que boa parte das fases do jogo sejam apenas um ato de buscar o tal ícone para encontrar o caminho correto e progredir. Não seria mais interessante ter a liberdade de explorar a física do mundo e as habilidades do gato para encontrar e improvisar formas de superar obstáculos?
É uma comparação um tanto exagerada, mas boa parte da diversão de um jogo como Breath of the Wild e Sable é justamente tentar encontrar formas de escalar uma parede, uma montanha, um templo usando as físicas e mecânicas disponíveis. Um gato abordaria situações de forma diferente de um humano — há algumas coisas que gatos podem fazer e nós não podemos, e vice-versa.
Me parece que as limitações mecânicas do jogo originam em uma obsessão pela perfeição estética — não seria elegante um gato errar um pulo e cair, apesar de ser uma ocorrência muito real para gatos, então o jogo de força a executar apenas pulos corretos. É uma oportunidade perdida, pois uma brincadeira com “gatos têm nove vidas” seria uma ótima forma de videogamizar o gato. Mesmo sem recorrer ao absurdo como em Goat Simulator, um fator cômico agregaria ao gato.
Talvez o erro seja meu por esperar de Stray algo que ele não se propõe a ser — e por cobrar essas expectativas dele. No fim das contas, é um jogo linear de aventura mais do que qualquer outra coisa. É um jogo inegavelmente bonito e, em grande parte, elegante. Mas essa busca pela elegância acaba fugindo da diversão que um gato jogável poderia proporcionar.
Pode-se fazer o argumento de que “videogames podem ser mais do que apenas divertidos”, que é completamente válido. Ainda assim, ao tomar a decisão de jogar como um gato, o que isso agrega senão diversão? Se o objetivo é contar uma história sobre um pós-apocalipse e a nova sociedade dos robôs, o gato acaba sendo apenas uma nota de rodapé. Não há nem interações com outros gatos fora os primeiros 3 minutos de jogo. E, no fim, mesmo a carga emocional que o jogo parece querer ter parece estar apenas abusando do nosso carinho por gatos.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm