Tenho que admitir: mesmo sendo daqueles que continuou comprando os jogos da Telltale Games após o sucesso da primeira temporada de The Walking Dead, há tempos não fazia mais questão de jogar tudo o que saia no lançamento. Se a saga dos zumbis ainda era algo que eu seguia constantemente — mesmo com o sofrível The Walking Dead: Michonne na conta —, nem mesmo jogos estrelados por Batman ou pelos Guardiões da Galáxia me animavam.
Isso porque, ao mesmo tempo que o estúdio conquistava o direito de trabalhar com propriedades cada vez mais distintas, os jogos da Telltale se tornavam cada vez mais iguais. Não havia conflito ou surpresa: eram todas histórias extremamente lineares (umas melhores, outras piores) que acabavam sendo, em última instância, uma coleção de falsas escolhas.
Ironicamente, a Telltale teve seu fim decretado justamente quando parecia estar trabalhando para corrigir esse rumo que resultava em cada vez menos popularidade. Fui daqueles que se empolgou com a chegada de The Walking Dead: The Final Season e jogou o primeiro capítulo no lançamento, mas acabei deixando qualquer coisa da empresa de lado após ela decretar falência — muito disso também como resultado das revelações das condições absurdas às quais ela submetia seus funcionários.
Somente mais de um ano depois é que consegui vencer esse “ranço” com a empresa e finalizar o jogo, aproveitando para também emendar a segunda temporada de Batman: The Telltale Series no processo. Sinto que a espera foi bastante válida e me permitiu absorver de maneira mais apropriada o fim da história de Clementine.
Não coincidentemente, o derradeiro capítulo da história da garota traz reflexos da situação pela qual a desenvolvedora passou. Presa pelo sucesso do passado, ela aqui quer provar que consegue superar a trama de Lee — reaproveitando e, em alguns momentos, espelhando o que deu certo anteriormente. O time de criadores também consegue mostrar que é possível descartar o que já não funciona mais e deixar sua maior obra descansar.
Não vou entrar em pormenores sobre o que é a conclusiva última entrada da série de jogos The Walking Dead — até porque já faz um tempo considerável que ele saiu. Em resumo, a fórmula básica continua quase a mesma, com uma diferença brutal em relação às temporadas mais recentes: aqui temos personagens de verdade, especialmente na figura de JD.
Se durante a segunda e terceira temporada ele era nada menos que um “McGuffin” — quase um objeto que servia de modificação para Clementine —, aqui ele finalmente ganha personalidade. Em meio a diversos avisos de que “ele vai lembrar disso” ou que “ele observa tudo o que você faz”, o jogador vai moldando o que o garoto faz e como ele reage. Não de uma maneira determinista, como no passado, mas de um jeito que convence e mantém a “ilusão” que a Telltale há tempos não conseguia manter.
O roteiro tem em sua vantagem o fato de poder ser “definitivo” em suas respostas e decisões. Enquanto no passado existia a certeza de que Clementine poderia sofrer perdas e problemas, de que ela sempre estaria totalmente segura, aqui essa sensação não existe. E o jogo faz questão de deixar isso claro, colocando ela e seu novo grupo formado por crianças rebeldes em situações cada vez mais desesperadoras.
Enquanto o roteiro toma caminhos ambiciosos e quebra expectativas, infelizmente a parte do gameplay é mais conservadora — ao menos nos episódios finais. Fica claro que os dois últimos dos quatro capítulos tiveram orçamento mais reduzido graças à lamentável e polêmica situação envolvendo as demissões da Telltale — a trama só foi finalizada devido aos esforços da Skybound Games, que reuniu parte da equipe que havia sido demitida para dar um fim devido a Clementine.
Isso quer dizer que, enquanto a desenvolvedora é mais experimental em seus ângulos de câmera e traz até algumas mecânicas mais próximas a jogos de tiro em terceira pessoa, a essência da experiência é parecida com a do primeiro The Walking Dead. Assim, a maior parte do tempo você ainda vai selecionar entre quatro tipos de reações (incluindo o silêncio) e encarar alguns quick time events, muitos deles com consequências mortais para quem falha.
O resultado é um game que, se não tira totalmente o desconforto em relação a essa história — especialmente em relação aos executivos que levaram a empresa para o “buraco” —, serviu para renovar meu interesse pelo catálogo da Telltale. Pena saber que, no momento em que ela finalmente se via livre para experimentar e deixar certas tradições para trás (incluindo sua obsoleta engine), o fim chegou de forma brutal.
A desenvolvedora tecnicamente voltou a existir, mas somente para fazer “trabalhos sob demanda” e sem a mesma influência do passado. Há rumores de que séries como o esperado The Wolf Among Us 2 podem voltar, mas ainda estou no momento de encarar isso com certa reticência. Mas, se a “nova Telltale” não der certo, ao menos a original, que cativou muita gente em 2014, chegou ao fim provando que ainda podia ser relevante e ter ideias originais.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm