Realizado entre os dias 14 e 16 de agosto no PC, o Beta de Marvel’s Avengers ajudou a apagar alguns medos que eu tinha em relação ao produto final. Tendo jogado a demonstração pouco convincente que a Crystal Dynamics havia trazido para a Brasil Game Show 2019, eu esperava do jogo algo lento e pouco variado, no qual todos os personagens pareceriam bastante familiares.
Felizmente, bastaram algumas horas na versão de testes expandidos para acabar com essa má impressão. Ao contrário do que se tornou regra no universo Triplo A, a primeira missão do game — a famosa destruição da ponte de San Francisco — é muito pouco representativa tanto das mecânicas quanto da dinâmica que o jogo vai oferecer. O que é estranho, visto que justamente esse devia ser o trecho responsável por prender a atenção do jogador.
Se a primeira missão é frustrante, a segunda eleva o nível e traz um ambiente muito mais convidativo. Em uma selva digna dos melhores momentos de Tomb Raider (que parece compartilhar alguns assets com o jogo dos Vingadores), alternamos entre Hulk e Kamala Khan (a atual Miss Marvel) na descoberta de uma base secreta do grupo que guarda a inteligência artificial Jarvis em um HD insuspeito.
Ao permitir que tomemos controle dos personagens por mais de 10 minutos a cada vez, esse trecho possibilita entender as nuances de gameplay de cada um e perceber que há diferenças notáveis entre ele. Em vez de serem somente “skins” diferentes de uma base em comum, cada herói atua como uma espécie de classe própria de um RPG, trazendo consigo características que os tornam mais ou menos adaptados a certas táticas de combate.
E essa é a parte realmente legal do jogo: o sentimento de controlar cada personagem é único, mesmo que o gameplay básico se conserve o mesmo. Na prática, Marvel’s Avengers parece um Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order com um orçamento maior, oferecendo um combate que se aproxima mais de beat ’em ups clássicos do que de jogos de ação como God of War ou Devil May Cry.
Infelizmente, muito desse diferencial está atrelado a um sistema de progressão que demora um tantinho para revelar suas possibilidades. Felizmente, o Beta oferecia um sistema de níveis ajustado para ser bastante rápido de evoluir, desbloqueando novas habilidades em ritmo frequente. No entanto, na versão final, espero que seja possível ter uma prévia melhor do que cada personagem oferece antes de ter que me comprometer com um deles.
Se no gameplay básico Marvel’s Avengers se sustenta, há algumas coisas nele que não são aquela maravilha. O sistema de fases, por exemplo, é totalmente “Destiny, mas com heróis”. As fases até possuem características variadas, mas podem ser resumidas em “bata no que se mexer, complete esses objetivos e busque loot”.
Isso não seria problemático se tudo funcionasse bem, porém o sistema de loot é confuso e pouco atraente. As características de cada equipamento não são muito bem explicadas, e decidir o que vale a pena ou não se torna difícil graças a menus que são simplesmente feios. A Crystal Dynamics poderia ter aprendido um pouco com a franquia Halo nesse sentido, oferecendo telas mais limpas nas quais os planos de fundo não conflitam com o que é importante.
Não ajuda em nada que, visualmente, os novos equipamentos não possuem qualquer impacto visual nos personagens. Em contrapartida, as skins disponíveis são bem legais e sabem usar o rico material de referência que o estúdio tem à sua disposição. Espero que, na versão final, isso não seja prejudicado por sistemas de monetização abusivos que tornam abrir novos itens mais difíceis que o desejado.
No entanto, o ponto que mais me preocupa é o do desempenho. Rodando em uma maquinada modesta (Core i9, RTX 2080, 32 GB de RAM 3.200 MHz em um SSD Samsung 960 EVO), o game teve diversos problemas em manter os 60 fps em 1440p — isso independentemente dos ajustes de qualidade feitos. Além disso, em pelo menos três ocasiões, uma missão foi encerrada porque as coisas travaram.
A não ser que a Crystal Dynamics faça milagres, simplesmente não há tempo o suficiente para os problemas detectados serem totalmente limados até o lançamento previsto. Só espero que, ao menos, o matchmaking esteja funcional: durante esse período de acesso antecipado, no PC, estava impossível iniciar uma fase acompanhado por uma pessoa aleatória.
O Beta de Marvel’s Avengers não deve ser muito diferente da versão final, o que não é exatamente problemático. O tempo que passei com o jogo foi suficiente para acabar com medo de que teríamos em mão um “novo Anthem”, mas algumas preocupações permanecem, especialmente no campo técnico.
Também permanece a dúvida sobre a maneira como a Crystal Dynamics vai lidar com o pós-jogo, fase especialmente importante em um produto que se propõe a ser uma experiência permanente. Ao menos na parte single player a narrativa proposta é interessante, mas, com um sistema de loot que se mostra problemático, é difícil entender agora quais estímulos reais teremos para continuar fortalecendo personagens e encarando novos desafios.
No geral, apesar das várias críticas e poréns, o Beta me convenceu a dar um voto de fé para a versão final — tanto porque já a comprei quanto pelo sistema de batalhas, que em essência é divertido. Resta esperar até 4 de setembro para descobrir se os maiores heróis da Terra vão conseguir salvar o dia ou se teremos uma daquelas histórias dignas de ser esquecidas, como o Thor de Jaquetinha e o Homem de Ferro adolescente com rabinho de cavalo.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm