Em janeiro de 2024, pude realizar um sonho de longa data: viajei para o Japão e passei quase 3 semanas conhecendo as peculiaridades daquele país. Como fã de videogames, há muita coisa interessante para se ver lá — talvez num texto futuro eu aborde as partes mais nintendistas da viagem. Mas outra experiência inesperadamente divertida foi visitar os locais que inspiraram os jogos da série Yakuza/Like a Dragon.
Alguns anos atrás, um amigo disse que, quando visitou Florença pela primeira vez, tinha acabado de jogar Assassin’s Creed II e, por causa do jogo, foi capaz de navegar o centro da cidade sem a ajuda de um mapa. Na época, achei que era exagero dele; mas o mesmo aconteceu comigo no Japão após ter me afundado na saga de Kazuma Kiryu.
Confira abaixo uma breve história dos distritos Kabukichō e Dōtonbori, os equivalentes no mundo real de Kamurochō e Sōtenbori, com breves histórias dos locais e algumas fotos minhas (à direita) comparadas a imagens do jogo (à esquerda). Capturei as imagens em Yakuza Kiwami 2, que contém ambos mapas renderizados na Dragon Engine.
Tóquio é uma cidade enorme, na verdade composta de diversas cidades que ao longo dos anos se expandiram e se conectaram. Apesar de parecer uma massa cinza homogênea no mapa, há bastante diversidade nos ambientes de lá. Mesmo andando a pé, é perceptível como o cenário muda ao seu redor, passando por distritos financeiros, residenciais, gastronômicos e de entretenimento em poucos quilômetros.
Como turista, as regiões de Asakusa, Akihabara, Ginza, Shibuya e Shinjuku são as que mais chamam a atenção, cada uma com sua personalidade e estilo. Claro que passei pela travessia diagonal de Shibuya (aquela de Persona 5) e desenterrei jogos usados em Akihabara, mas eu estava muito curioso para ver Kabukichō, o bloco de Shinjuku que inspirou o lendário mapa de Kamurochō nos jogos.
Sabemos que estamos no lugar certo quando nos deparamos com a loja Don Quijote. Há tantas delas ao redor do Japão, mas esta é onde Kiryu comprou tantas aleatoriedades ao longo dos anos. E falo sério quando digo aleatoriedades. Encontramos desde videogames a produtos de higiene, de guloseimas a acessórios eróticos, de uísque refinado a acessórios de viagem. Explorar uma Don Quijote é um passeio por si só.
Kabukichō é a “cidade que não dorme”, repleta de luzes 24 horas por dia, sinalizando negócios dos mais variados tipos. Restaurantes, bares, “clubes para cavalheiros”, salas de karaoke, e tantas outras comodidades surgiram ao longo dos anos ao redor do edifício e da praça dedicados à rede de cinemas Toho.
As ruas que são conhecidas como Tenkaichi, Nakamichi e Pink foram a parte mais movimentada do distrito. Tenkaichi na verdade se chama Kabukichō Ichiban, e é reconhecível pelo arco vermelho no início, uma espécie de portão tōri moderno.
A área havia sido completamente destruída durante a II Guerra Mundial e foi um foco de reconstrução desde os anos 1950. Não é por acaso que o local foi escolhido pela Sega para as aventuras de Kiryu: até os meados dos anos 2000, Kabukichō era uma área de forte atividade da yakuza (a máfia japonesa). Após um esforço de descriminalização, o bairro hoje é uma grande atração turística de Tóquio. Ainda assim, turistas precisam se manter atentos para não gastar muito mais do que o esperado nos estabelecimentos, em golpes conhecidos como “bottakuri”.
A rua Nakamichi dos jogos não tem um nome próprio, conhecida apenas como rua central e oferece uma vista à Millenium Toho Tower, com direito à cabeça do Godzilla de olho no movimento.
Ali perto há também a parte “dourada” de Shinjuku, conhecida no jogo como “Champion District”, onde mais de 200 de bares minúsculos são pontos de encontro para funcionários após um longo dia de trabalho. O minúsculo distrito preserva o cenário urbano japonês dos meados do século XX, tendo sobrevivido à guerra e a esforços de desenvolvimento da yakuza.
Na região de Kansai encontra-se Osaka, a terceira maior cidade do país. Apesar do tamanho, é bem menos interessante de explorar do que Tóquio. A maioria das atrações da região estão concentradas em Kyoto, a apenas 50km de Osaka.
Porém, próximo à enorme estação Namba, encontramos o rio e a rua, ambos chamados Dōtonbori. A rua é imediatamente reconhecível pelos personagens enormes construídos acima dos restaurantes, como caranguejos, polvos e dragões.
Ao norte do rio no jogo, ou ao sul do rio na vida real, a rua é repleta de restaurantes e outros tipos de negócios até acabar na ponte Ebisubashi, com um formato caracteristicamente redondo e cercada de enormes outdoors eletrônicos.
Uma espécie de Times Square japonesa, a ponte permanece iluminada durante o dia todo e é repleta de gente procurando restaurantes, lojas, ou apenas uma foto para o Instagram. Não podemos esquecer, é claro, de experimentar o takoyaki clássico de Osaka!
Olhando da ponte em direção ao rio, a paisagem parece muito mais serena. Como é típico do Japão, a natureza é posta sob controle da civilização, e podemos curtir as margens pelas passarelas em ambos lados. Vemos também a roda gigante de Dōtonbori, que faz parte de uma loja — adivinhe — Don Quijote.
Apesar de menor do que Kabukichō, achei Dōtonbori sinceramente ainda mais divertida. Sem tantos estabelecimentos que remetem à atividade da yakuza, me pareceu um lugar tranquilo para turistas. É tão denso em suas atrações que cada vez que passei por ali percebi algo de diferente, e gostaria de poder visitar ainda mais vezes.
Mas infelizmente, não cruzei com Kazuma Kiryu nem Goro Majima.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm