Eu não havia ouvido falar de Fuga: Melodies of Steel até o dia em que o título foi anunciado para o Game Pass ao lado da revelação de sua sequência (a ser também lançada em 2023 e chegando ao serviço). Gostei do trailer e resolvi experimentar o jogo quando ele foi efetivamente adicionado ao catálogo.

Trata-se de um game em que controlamos um tanque de batalha gigante na maior parte do tempo, engajando em batalhas e escolhendo as rotas de maior ou menor risco, e consequentemente maior ou menor recompensa. Também controlamos os jovens que pilotam o tanque e suas armas em sessões de ligação social entre eles, alocação de recursos e melhoria do veículo, além de outras atividades de ganho ou uso de itens para utilização em batalha ou para dar uma melhorada em nossos personagens para os confrontos seguintes.

O jogo trabalha de forma constante essa dinâmica de risco e recompensa, tanto na escolha dos trajetos (eles podem ter mais inimigos em sequência, nos gerando mais experiência e itens, ou ser mais calmos e recuperar os pontos de vida e habilidade do grupo, etc), quanto na própria batalha: podemos gastar o especial e/ou usar o personagem que está na melhor condição e com bônus, como é possível segurá-los para as batalhas futuras. No meio dessa decisão, temos o sistema de rank da batalha, em que conforme melhor você joga, mais experiência ganhamos.

O lado interessante dessa proposta é que Fuga não é um jogo fácil, e conseguir se dar bem e com bom ranqueamento, além de passar por mais batalhas e coletar mais recursos, é essencial como preparação para os confrontos futuros. Em um esquema simples de tipos de armas terem vantagens sobre determinados veículos inimigos, devemos o tempo todo alterar os personagens de posição sem perder de vista o link e conexão entre cada dupla: o que gera mais bônus e golpes melhores no pareamento.

As duplas se dão melhor em batalha conforme se dão bem nos trechos de descanso em que andamos livremente pelo grande tanque. Há um limite de ações dentro de cada sessão dentro do veículo-base, fazendo com que haja também a prerrogativa da escolha em como gastar o tempo ali. Influencia diretamente na batalha, e vice-versa, existem muitos sistemas conectando as duas sessões (de descanso e exploração do veículo, de movimentação pela rota e combate).

O ponto mais interessante de Fuga: Melodies of Steel, entretanto, vem de uma mecânica bastante particular: o Soul Cannon (canhão da alma, em livre tradução). É possível utilizar tal canhão para vencer todos os inimigos em um determinado confronto, sem limite algum. Não importa quantos inimigos estejam na tela, não importa se for um chefe de capítulo, qualquer adversário pode ser obliterado com esse canhão. Ele custa, porém, a vida de uma de nossas crianças-piloto. Cabe ao jogador escolher.

A trama do jogo se passa em uma França mais ou menos fictícia ocupada por uma Alemanha Nazista mais ou menos fictícia durante a segunda guerra mundial, ou algo do tipo já que tudo é mais ou menos fictício. Nossos personagens são crianças cujos pais foram levados para trabalhar em campos e que ao encontrar o tanque antigo começam uma busca por seus familiares.

Não é justo nem que adultos participem de guerras, que dirá crianças? Fuga coloca esse mundo absolutamente horrendo a partir de seus fofos personagens gatos e cachorros humanóides. Ao colocar a necessidade de utilizar o canhão quando se está quase morrendo, o jogo de certa forma castiga quem não está jogando bem e engajando com todos os seus sistemas e pensando de forma estratégica.

É possível passar o título inteiro sem usar o canhão, embora eu esteja escondendo informações aqui. Mas só é possível não usar a arma caso a equipe esteja bem preparada e tudo esteja bem afinadinho. Caso você esteja tomando más escolhas e se relacionando mal com os sistemas e estratégias, será necessário sacrificar uma criança.

Existem finais ruins e bons, e chegar no melhor deles pressupõe algo ainda mais interessante que não cabe colocar em spoiler aqui; mas chega também a partir do uso dos sistemas de jogo e de como se conectam as partes de batalha e descanso nessa jornada.

Fuga: Melodies of Steel não coloca o peso das escolhas em opções de diálogo ou resposta, mas sim na forma como quem joga engaja com seus sistemas e mecânicas. Ao fim de tudo, há um impacto ainda maior, pois a consequência chega pela ação e não por um julgamento do que seja melhor decidir aqui ou ali.