Um sonho comum entre quem cobre o mundo dos games, ou somente o aprecia como um fã, é participar do desenvolvimento de um deles. Fui felizardo de ter esse privilégio com Horizon Chase Turbo – Senna Sempre, DLC que chegou oficialmente a todas as plataformas nas quais o game está disponível em outubro de 2021.

Entre o final de 2019 e abril deste ano, tive a oportunidade de trabalhar com a Aquiris Game Studio gerenciando as mídias sociais de jogos como o próprio Horizon Chase e Wonderbox, além de contribuir para o gerenciamento de comunidades e o desenvolvimento de estratégias de marketing — até na parte de suporte ao usuário dei minhas contribuições.

Nesse meio tempo, tive a oportunidade de participar do processo de desenvolvimento de Senna Sempre ajudando no desenvolvimento da narrativa presente no DLC. Enquanto o jogo original é focado essencialmente no gameplay — excelente e responsivo, em minha opinião —, o DLC precisava dessa camada narrativa adicional para fazer justiça à carreira de Ayrton Senna, um dos maiores corredores de Fórmula 1 de todos os tempos e, até hoje, uma inspiração para todos os brasileiros.

É aí que entrei no projeto: orientado pela equipe de desenvolvimento (e pela eterna paciência de Rodrigo Oliveira, game designer, professor e eterno lindo), ajudei nas pesquisas sobre os momentos mais representativos da carreira de Senna que o jogo pretendia retratar. Além de escrever as descrições para as pistas e cada capítulo pelo qual o jogador passaria, também me diverti bastante ajudando a criar os nomes-fantasia das equipes presente no DLC, bem como nas frases ditas pelos pilotos — muita coisa que Senna “fala” no jogo foi sugestão minha (modéstia à parte, acho que o resultado final ficou bem legal).

Assim, dado meu envolvimento com o desenvolvimento de Horizon Chase – Senna Sempre, não posso fazer um review tradicional sobre ele — até mesmo porque minha posição sobre o projeto não é exatamente neutra. No entanto, ainda senti a necessidade de escrever um pouco sobre o resultado final que, assim como você, só tive a oportunidade de conferir no lançamento oficial.

Um dos principais desafios de desenvolver Senna Sempre era manter o gameplay arcade de Horizon Chase e combiná-lo ao universo da Formula 1, que é ainda mais rápido e dinâmico. Nesse sentido, posso dizer que a equipe acertou em cheio através de alguns “truques”: as pistas do DLC são mais largas, o que proporciona uma maior facilidade nas ultrapassagens, e o comportamento dos inimigos foi alterado para tornar as coisas mais interessantes e únicas.

Se nas campanhas principais de Horizon Chase você se depara toda hora com adversários que querem jogar você para fora da pista, isso raramente acontece no novo conteúdo. Sim, há um ou outro adversário que vai jogar de forma mais “suja”, mas isso acaba reservado para momentos mais específicos da experiência e em cenas nas quais é preciso retratar adversários mais “competitivos” que Senna teve em sua carreira.

De certa forma, essas mudanças de comportamento não devem ser uma grande surpresa para quem tem acompanhado os desafios do Playground nos últimos meses. Nesse espaço dedicado a eventos com duração limitada, a equipe de Horizon Chase tem aproveitado para testar novos comportamentos dos oponentes e desafios com regras mais variadas — e até hoje eu amaldiçoo toda vez que há alguma pista com pouco combustível disponível.

Outra forma inteligente de mudar a forma como Senna Sempre é jogado são as Senna Mark’s, série de objetivos que muda a cada pista e faz você pensar de forma inteligente. Um deles pode desafiar você a não pegar um nitro extra, enquanto outro pode desafiá-lo a terminar a corrida sem recorrer a esse recurso em nenhum momento — só para citar alguns exemplos entre tantas regras disponíveis.

Enquanto a adição desses objetivos como algo secundário já seria interessante, acredito que torná-los parte essencial do avanço pela campanha foi a escolha certa. Com isso, os jogadores realmente precisam ficar atentos aos desafios propostos e mudar seu jeito de jogar, não focando somente na conquista do Troféu Dourado como objetivo — que continua sendo um elemento importante, mas não essencial (algo que a primeira parte da campanha deixa bem claro).

Para completar, os jogadores podem escolher entre três setups diferentes para o carro de Senna: um focado no controle, outro na velocidade e um terceiro que oferece mais combustível. Confesso que usei a opção de controle maior em grande parte do tempo, mas mudanças foram essenciais para cumprir alguns objetivos — bem como a capacidade de “ler” as pistas e detectar quais pontos poderiam ser mais ou menos problemáticos, dado os desafios propostos. Para completar, o novo modo em primeira pessoa transforma a experiência de jogo de forma positiva, embora eu admita que ainda prefiro a visão em terceira pessoa (acho mais fácil coletar as moedas da pista assim).

Em minha opinião (nada imparcial), tudo funciona muito bem e ajuda a trazer um ar de frescor para Horizon Chase — depois que você termina a campanha e rejoga diversas vezes as mesmas fases da campanha original para produzir conteúdo, isso é algo muito bem-vindo. Se tenho uma reclamação “positiva” a fazer, é que tudo parece muito curto: em poucas horas dá pra terminar todos os objetivos sem grandes problemas, ficando aquele gosto de “quero mais”.

Trabalhar junto com a Aquiris no desenvolvimento de Horizon Chase Turbo – Senna Sempre foi uma das experiências profissionais mais recompensadoras que pude ter (mesmo que eu sempre fique com o sentimento de ter feito só uma parte pequena). Poder fazer parte desse projeto foi muito divertido, e até hoje agradeço ao Vitor, Rodrigo, Sandro, Paulo, Gabriel, Paulo, Andrey, Diego, Waio, Jesus Fabre e todos os demais membros da equipe por ter podido participar disso. Agora, novamente como um simples fã e “jornagames”, fico ansioso para ver o que vem pela frente (tenho certeza que muita coisa boa).