Relato: Revisitando Metroid - Neo Fusion
Relato
Revisitando
Metroid
27 de setembro de 2021

Tenho contato com os jogos da Nintendo desde que me conheço como gente, mas devo admitir que não estou muito satisfeito com a direção da empresa ultimamente. Dito isso, o anúncio de Metroid Dread na E3 2021 foi muito significativo para mim, pois acompanho a série há uns 15 anos — e ela foi um elemento importante da época na qual entendi que videogames eram mais do que apenas um passatempo para mim.

Aguardo a confirmação de um Metroid 5 desde, pelo menos, 2007, quando um texto contido em Metroid Prime 3: Corruption dava a entender que um jogo chamado Dread estava em produção para Nintendo DS. Com o anúncio oficializado 14 anos depois, minha sensação foi mais de alívio do que propriamente hype.

É até estranho ver uma entrada completamente nova numa série que é tão fundamental para minha identidade como jogador, depois de tanto tempo. Não é exagero dizer que sou uma pessoa completamente diferente do que eu era em 2007 e, considerando isso, surgiu uma dúvida na minha cabeça: eu curto Metroid tanto quanto antes? Afinal, o gênero metroidvania expandiu tanto nos últimos anos que é possível que o “original” não me pareça tão interessante.

É uma dúvida exagerada, claro, pois obviamente eu nunca parei de jogar Metroid. Apesar da falta de entradas novas na série, Samus se manteve presente de uma forma ou de outra, em particular com o remake Metroid: Samus Returns. Um remake, porém, não carrega o mesmo peso de um jogo novo, então agora as expectativas são muito mais altas. Não basta Dread manter o legado da série vivo: o jogo precisa avançar esse legado de alguma forma.

Com todos esses pensamentos na cabeça, uma coisa estava clara para mim: tenho que revisitar a série antes da chegada de Dread. O caminho mais natural para isso é jogar os quatro membros “canônicos” da série 2D:

Obviamente, tomei algumas decisões aí. Não vou revisitar a série Prime agora — afinal, trata-se de uma cronologia bastante distinta dos jogos 2D. Talvez retornarei a eles quando Metroid Prime 4 parecer uma possibilidade tangível. Também optei pelos remakes de Metroids 1 e 2 ao invés dos originais que, na minha opinião, envelheceram demais para valerem a pena hoje em dia. Talvez eu adicionaria Other M à lista, mas, sem um Wii ou Wii U por perto, não tenho maneira prática de rodá-los.

O início de tudo

Os piratas espaciais tomaram posse de uma incrível arma biológica: os metroids. Esta espécie de seres vivos foi criada artificialmente pelos chozo, uma raça de pessoas-ave nativas do planeta Zebes. Chozo foram por séculos conhecidos como as criaturas mais sábias da galáxia, mas, hoje, estão praticamemte extintos. Para lidar com a ameaça iminente, a Federação Galática recrutou uma caçadora de recompensas, Samus Aran, que foi criada pelos chozo quando órfã, para retornar a Zebes e eliminar a atividade dos piratas.

Zero Mission continua sendo, após todos esses anos, meu videogame favorito. Se alguém me desafiasse a desenhar o mapa do jogo de cabeça, tenho confiança de que eu conseguiria produzir algo razoavelmente aproximado. Realmente já vi tudo que o jogo tem a oferecer mas, ainda assim, revisitá-lo é sempre um prazer.

Pode ser por que cresci jogando Zero Mission, mas para mim este jogo simplesmente faz sentido. Os controles são perfeitos e o ritmo da progressão nunca deixa a desejar. Como remake, é um dos melhores exemplos da indústria, pois consegue encapsular tudo que é bom de Super e Fusion e incorporar isso à estrutura do original Metroid de NES. A diferença é tão gritante em relação ao original que os dois jogos estão em polos opostos da minha classificação da série — o primeiro Metroid é um jogo que nunca mais quero revisitar.

Além de modernizar o mapa original de Metroid, Zero Mission também agrega um epílogo em que controlamos Samus sem sua poderosa armadura. Armados com apenas uma pistola de paralisia, este momento se destaca por ser uma grande mudança na jogabilidade da série, se comportando como um jogo de stealth. Também há uma cena nova que dá dicas sobre como era passado de Samus com os chozo.

Por ser o primeiro jogo cronologicamente e ter um ótimo equilíbrio entre objetivos guiados e a possibilidade de explorar à vontade, recomendo Zero Mission como a melhor porta de entrada à série. Se você não sabe por onde começar, eis a reposta: aqui.

O retorno da caçadora

Após o sucesso da operação em Zebes, Samus descobre que os metroids se originaram em outro planeta: SR388. À solta neste planeta, os metroids devastam a fauna local e tornam-se um alvo para uma nova investida dos piratas. Samus deve exterminar cada metroid restante, inclusive a rainha.

Metroid 2 tem a distinção única de ter não um, mas dois remakes. Um ano antes de Samus Returns, um fã lançou AM2R: Return of Samus, um remake completo e expandido de Metroid 2 seguindo a linha de design de Zero Mission. AM2R é uma experiência ótima por si só e permanece uma alternativa válida para quem quer descobrir este capítulo da jornada de Samus.

Mas a Nintendo preferiria se optássemos por Samus Returns no 3DS. Este é o primeiro jogo da série desenvolvido pela MercurySteam, e isso se faz visível por várias mudanças na fórmula. Em particular, há uma ênfase maior em combate, com parry e free aim sendo mecânicas centrais do jogo.

Fora isso, Samus Returns faz duas coisas. Primeiramente, ele moderniza Metroid 2, algo que era necessário há muito tempo. Há argumentos para se dizer que o clima sombrio e solitário do original se perde no remake, e não vou negar isso, mas ainda é um jogo muito mais agradável do que o original de Game Boy.

A segunda coisa é preparar a MercurySteam para, de fato, desenvolver um Metroid novo. Samus Returns é competente, mas é visível que há limitações causadas pela falta de experiência da equipe assim como pelo design linear de Metroid 2. Há aqui um certo patamar estabelecido: é extremamente improvável que Dread seja um jogo pior que Samus Returns e, como este já é um jogo bom, Dread também deve ser bom.

Apesar da posição narrativa na série, Samus Returns talvez não seja a melhor opção para continuar Zero Mission, simplesmente porque é bem mais diferente dos jogos originais e deve ser mais parecido com Dread. Entre ele e AM2R? Ambos.

Um clássico para sempre

O último metroid está em cativeiro. A galáxia está em paz. Samus eliminou a ameaça dos metroids, mantendo apenas um filhote recém-nascido com si quando deixa SR388. A Federação Galática promete usar o metroid como objeto de estudo para desenvolver tecnologias revolucionárias, mas isto dura pouco. Apenas horas depois, a estação espacial Ceres é invadida por Ridley, o maior general dos piratas espaciais. A perseguição leva Samus de volta a Zebes.

Super Metroid foi lançado 3 anos após Return of Samus e 8 anos antes de Fusion. Apesar disso, colocaria Super firmemente na posição de primeiro “Metroid moderno”. No SNES, a série tomou um enorme passo adiante em termos de escopo e qualidade de vida e, apesar de carecer algumas melhorias que vieram depois, permanece um ótimo jogo 27 anos depois.

Mas não é apenas um bom jogo. Super Metroid frequentemente encontra-se perto do topo de listas de “melhores videogames de todos os tempos” e fomenta uma comunidade fortemente ativa de speedrunners. Há algo sobre ele que nunca conseguiu ser superado e também não pode ser replicado — nem por Metroid Prime, o primeiro jogo 3D da série que tem fortíssimas inspirações no jogo de SNES.

Super Metroid foi projetado desde o princípio para ser um jogo não-linear — há diversas sequências possíveis para abordar o mapa —, mas não é sem estrutura. Há alguns itens obrigatórios, algumas coisas que precisam acontecer antes de outras e, claro, uma sequência natural que os desenvolvedores prepararam para a maioria dos jogadores.

Porém, após tantos anos, a comunidade do jogo descobriu dezenas de truques e técnicas que permitem virar qualquer estrutura de ponta-cabeça. Alguns desses truques foram intencionais, como o shinespark que é ensinado em uma sala secreta, enquanto outros apenas exploram aspectos da programação e física do jogo, como a mock ball. Isso permite uma infinidade de possibilidades para o jogador, inclusive um formato em que chefes são abordados em sequência inversa. Super Metroid, como poucos jogos, consegue transformar seus defeitos em qualidades.

O terceiro jogo da série é uma enorme evolução frente aos anteriores, mas não é tão acessível a novatos quanto seus sucessores — recomendo jogá-lo num controle com quatro botões de ombro e ajustar um pouco os controles. Ainda assim, há muito a ser aproveitado e é importante entender por que este é considerado um dos maiores clássicos da mídia, além de ser o ponto central da origem dos metroidvanias. E, não se esqueça: salve os animais.

Tomando novas direções

Durante uma missão de inspeção em SR338, Samus é atacada por um vírus misterioso chamado X, cuja profileração aconteceu após a exterminação dos metroids. Foi apenas graças ao DNA do metroid recuparado por Samus que sua vida pôde ser salva. Agora não mais apenas humana, com DNA de chozo e metroid em seu sangue, Samus enfrenta sua maior ameaça: SA-X, uma réplica sua criada pelos X.

Metroid Fusion é o primeiro jogo da série com ênfase em narrativa. É um desafio particular para um jogo que depende tanto do senso de isolamento de Samus em um ambiente hostil. A abordagem seguida é de colocá-la numa estação espacial controlada por uma inteligência artificial. No desvendar da história, descobrimos que a IA foi criada usando as memórias de Adam, o comandante de Samus durante seu período como recruta da Federação.

Esta relação entre Samus e Adam é fundamental não apenas em Fusion, mas também no único jogo desde então que revisita esta encarnação da personagem, Other M. O jogo de Wii é estruturalmente similar a Fusion, pois ambos se passam numa estação espacial, Samus está sob o comando direto de Adam e são os jogos mais lineares da série. A exploração ainda existe, mas não há muito espaço para os jogadores escolherem suas próprias rotas ou sequência de upgrades, tudo deve acontecer na ordem ditada pela narrativa.

Isso faz de Fusion um pouco menos interessante de revisitar, mas continua valendo a pena pelos próprios méritos. A presença dos X muda um pouco a dinâmica do combate e vimos aqui alguns dos confrontos mais difíceis da série 2D. A estação espacial permite uma variedade de ambientes maior ainda do que nos planetas naturais e isso se reflete nos poderes e inimigos encontrados lá. Porém, o mais importante é que Fusion finalmente estabelece Samus como uma personagem além de 1) usar uma armadura e acabar com piratas espaciais e 2) tirar a armadura no final do jogo como recompensa ao jogador.

Até hoje, essa caracterização gera alguma controvérsia, pois alguns jogadores prefeririam vê-la apenas como uma fria caçadora de recompensas. Para bem ou para mal, esta Samus é a representação canônica da personagem há quase 20 anos e imagino que, enquanto o produtor Yoshio Sakamoto estiver envolvido com a série, é o que veremos em qualquer eventual retorno.


O quinto capítulo desta história finalmente chega este ano como Metroid Dread. Desde o lançamento de Other M, houve uma explosão de metroidvanias, em grande parte tentando suprir a lacuna deixada por Metroid. Pode ser aceitável que o novo jogo apenas continue as tradições da série mas, sinceramente, espero que seja distinto o suficiente para ser outro marco. Cada um dos quatro jogos discutidos aqui tem suas diferenças claras e, por isso, não há por que Metroid 5 seguir os passos de apenas um deles.

Para mim, o lançamento de Metroid Dread será como o fechamento de um arco na minha vida, assim como fecha o arco de Samus. Não sei se será meu jogo favorito do ano ou qualquer coisa assim, mas, independentemente do que seja, fico feliz só de saber da sua existência.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm