Um dos meus jogos formativos foi Gran Turismo 5 no PS3. Não fui completamente obcecado por ele, mas foi o jogo que me despertou uma certa empolgação por automobilismo, ao mesmo tempo que, como videogame, trazia um ar de modernidade que definiria a indústria de certas formas.
Então eu tenho lembranças de quando a Sony anunciou a Nissan GT Academy, uma oportunidade de colocar os melhores jogadores de GT no mundo atrás do volante de carros de corrida de verdade. Na época, parecia uma grande jogada de publicidade (e, sejamos sinceros, era), mas acompanhei vagamente o andamento da campanha. Não imaginei que, 10 anos depois, aquele evento se tornaria um filme hollywoodiano.
Como o filme e todo o material promocional gosta de reiterar, Gran Turismo: De Jogador a Corredor é baseado na história de Jann Madenborough, o jogador que venceu o concurso e se tornou piloto profissional. Dessa forma, é um dos poucos filmes baseados em videogames que é sobre o videogame mais do que uma adaptação dele (o outro que me vem à mente é o recente Tetris). Uma adaptação de Gran Turismo provavelmente seria sobre um piloto amador que obsessivamente coleciona carros e os fotografa em ângulos quase eróticos.
Mas aí entra uma estranha decisão dos roteiristas: a história foi adaptada para se passar na atualidade, ao invés de na época de 2011-2013 quando de fato aconteceu. Provavelmente, essa foi uma escolha imposta pela Sony, que preferiria mostrar Gran Turismo 7 em PS5s ao invés de GT5 em PS3s. Não é uma diferença enorme mas, na minha opinião, tem alguns efeitos colaterais estranhos na história. Particularmente, é interessante perceber o quanto o cenário de videogames competitivos e e-sports mudou nos últimos 10 anos. Hoje, o paralelo entre jogadores e atletas é muito mais plausível e culturalmente aceito, mas isso não é refletido no enredo.
Além disso, ser um filme “de época” seria legal porque já são poucos filmes que se passam na virada dos anos 2010 e ajudaria a obra a parecer menos um anúncio. Mas acho que essa sensação é inescapável. O primeiro ato do filme é descaradamente uma glorificação de Gran Turismo, tentando vender o ponto de que o jogo é tão realista que seus jogadores automaticamente sabem pilotar bem. (aí fica uma questão que a Sony provavelmente não quis responder: se GT5 já era tão realista, por que existe um GT7?)
Esse começo é bastante apressado e mal temos tempo de entender exatamente como é uma corrida em Gran Turismo. O destaque aí são algumas transições legais entre filmagens e jogo que funcionam bem graças a ângulos de câmera perfeitos.
O filme começa a ganhar tração quando Jann e outros 9 jogadores são chamados para a academia — ato que também acontece rapidamente. Essa parte do filme me fez pensar que a história talvez fosse melhor contada como série, para dar mais tempo de aprofundar as relações entre personagens. A maioria dos outros jogadores estão lá apenas para fazer volume e isso é particularmente notável com Leah, a garota que literalmente só sorri e acena quando aparece.
No terceiro ato, recebemos um filme de automobilismo mais tradicional, que é também quando a história se torna mais empolgante. O enredo como um todo é bastante previsível, então nem adianta esperar grandes reviravoltas, mas as corridas principais têm bastante energia e algumas situações de fato surpreendem.
Me chamaram a atenção as cenas de batidas, que acontecem de forma veloz e visceral, e muitas vezes inesperadas. Por mais que tudo dê certo no final, durante o progresso da carreira de Jann é possível sentir o peso sobre seus ombros.
O fato de Jann ter vindo do mundo de Gran Turismo é repetido verbalmente para não esquecermos, mas por um bom tempo ele poderia ser um piloto iniciante “normal” para a história funcionar. Inclusive, senti alguns paralelos entre ele e Aiden Jackson, o protagonista fictício de F1 23. É uma clássica história de underdog e superação, com o videogame usado de motivo para Jann continuar sendo underdog ao longo da narrativa.
A relação entre Jann e seu treinador Jack é a melhor sinergia entre personagens e é legal vê-los contrastando. Jack, de uma velha guarda automotiva, se energiza para corridas ouvindo Black Sabbath no talo, enquanto Jann prefere meditar ao som de Kenny G. para entrar na pista relaxado.
Gran Turismo: De Jogador a Corredor não é excelente, mas é um raro exemplo de filme que vai melhorando conforme a história se desenrola — julgando pelos primeiro 30 minutos, achei que sairia do cinema com raiva, mas no final acabei curtindo. Para padrões “baseado em videogame”, tá ótimo. Certamente me dá vontade de assistir alguns filmes renomados sobre automobilismo, particularmente Ford v Ferrari que traça paralelos com a última corrida de Gran Turismo. E, obviamente, me dá vontade de jogar um bom simulador de corrida… Quem sabe aquele que foi mencionado nas legendas em italiano… Forza?
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm