Levou seis anos — seis anos — para a Nintendo colocar jogos de Game Boy, Game Boy Color e Game Boy Advance no Switch. E, para variar, o ritmo de lançamentos é a conta-gota. Um tanto irritante para quem já tinha um razoável catálogo desses jogos no 3DS; ainda mais irritante para quem os tem desde seus lançamentos originais há mais de 20 anos. Dito isso, o ritmo conta-gotas tem uma vantagem. Com apenas 5 ou 6 jogos disponíveis, e com Game Boy sendo a novidade do momento, acabamos dando chances a jogos que em outros momentos passariam batidos. Quando a atualização do serviço foi anunciada, um amigo meu me recomendou fortemente Wario Land 3 e, como eu já havia ouvido falar bem do jogo e havia uma curiosidade a respeito dele, resolvi que agora seria seu momento.
O “Mario amarelo” hoje é mais conhecido pelos seus microgames em WarioWare mas, em um tempo passado, protagonizou sua própria série de jogos de plataforma 2D. O terceiro Mario do Game Boy é também o primeiro Wario de Game Boy — Super Mario Land 3: Wario Land. A série continuaria até Wario Land 4 no GBA. Há também um jogo em 3D para GameCube e Wario Land: Shake It!! para Wii.
Poucos segundos com o título já mostram que este é um jogo muito diferente de Mario, apesar da similaridade estética. Wario é pesado, não pula muito, mas também facilmente derruba inimigos com sua investida. Aí uma bola de fogo de coloca em chamas e … tudo bem? Basicamente Wario Land se desfaz da morte; ao invés disso, o pior que pode acontecer é ser empurrado, que pode atrapalhar um pouco ou pode nos jogar para uma parte bem diferente da fase. Nem mesmo chefes matam de fato, nos levando apenas à sala anterior.
Mas se não podemos morrer, qual é o ponto desse jogo? Bom, como sabemos Wario é ganancioso e quer pegar para si todos os tesouros de uma ilha misteriosa mas, para isso, deve resolver uma infinidade de quebra-cabeças. De fato, trata-se de um puzzle platformer em que os desafios encontram-se nos quebra-cabeças ao invés de exigir muita destreza e agilidade. Os inimigos não só não te matam como podem ser elementos essenciais de um quebra-cabeça. Pegar fogo pode atrapalhar, mas também pode queimar algum objeto do cenário e abrir uma passagem. Ser achatado nos permite planar pelo ar e entrar em passagens estreitas.
O jogo contém 25 fases, cada uma com quatro baús. Os baús por sua vez oferecem itens que podem alterar algum aspecto no mundo — que abre fases novas ou alteram fases já conhecidas — ou podem fornecer novas habilidades a Wario. Eu diria que o problema aí é que por vezes não é muito claro qual fase vale a pena revisitar. O jogo até indica quando uma fase tem um novo caminho, mas é fácil esquecer da dica que foi dada. Também há uma grande não-linearidade aqui, que é legal porque fornece uma liberdade ao jogador, mas também pode causar situações estranhas: por exemplo, se um baú tem como pré-requisito os eventos X, Y e Z, e já ativamos os X e Z mas não o Y, pode parecer que podemos acessar aquele baú, mas na verdade precisamos explorar outra fase e acionar outro evento.
A dinâmica de visitar e revisitar fases, com novos caminhos abertos por alterações no mundo ou habilidades de Wario, dá ao jogo uma característica que remete a metroidvania. Eu diria que não é, pois afinal as fases são ainda são separadas, mas há uma similaridade. Não é por acaso — a série Wario Land era desenvolvida pela Nintendo R&D1, a mesma que criou Metroid. E, inclusive, boa parte da equipe por trás de Wario Land participaria do desenvolvimento dos Metroids de GBA.
Outro aspecto curioso de jogar Wario Land 3 hoje em dia é como ele surpreende tecnicamente, tratando-se de um jogo de Game Boy Color. Acho que o Game Boy em geral tem dessas — o hardware do console é comparável a um NES, então a expectativa é de jogos como os de NES. Isso até é verdade nos primórdios da plataforma, mas em um jogo do ano 2000, podemos observar o quanto o game design amadureceu ao longo da década de 90. Pense que o Game Boy foi lançado em 1989, onze anos antes de Wario Land 3, e com um hardware pouca coisa melhorada já temos um jogo muito mais acessível e divertido do que os pré-históricos títulos dos anos 80.
Mas faz-se uso criativo do hardware para atingir isso. As 25 fases são relativamente pequenas, e geralmente são compostas de algumas salas ainda menores. O sistema de progressão agrega valor a essas fases pequenas, pois a sensação é de que cada novo caminho é uma nova fase — conseguindo assim, 100 fases no espaço de 25. Infelizmente não há muito a se fazer com a parte sonora. Para mim os chiptunes são cansativos e optei por jogar enquanto ouvia outras músicas ou podcasts.
Admito que o jogo me deixou com vontade de experimentar alguns outros do Game Boy. O próprio Metroid II se torna mais agradável com a paleta de cores expandida e é certamente um jogo mais visitável que o Metroid do NES. Acredito que Wario Land 3 seja o título mais bem-conceituado de sua série, mas certamente ficarei de olho quando os números 1, 2 e 4 forem adicionados.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm