Matéria: Xbox Series X - Neo Fusion
Matéria
Xbox Series X
9 de novembro de 2020

Quando eu era criança, comprar um console novo representava um novo universo de possibilidades. Além de saltos gráficos surpreendentes, muitas vezes o hardware vinha acompanhado de jogos inovadores que empurravam a barreira do que era possível na mídia. Jogos como Super Mario 64Halo: Combat Evolved Wii Sports definiram o conceito de videogame por anos. Porém isso não era exclusivo de videogames. As últimas décadas foram de incríveis avanços tecnológicos para consumidores, afetando tudo entre computadores, celulares, eletrodomésticos, carros e tudo mais. Além de funcionalidades inovadoras aos dispositivos que conhecíamos, frequentemente eram introduzidas novas categorias de dispositivos que nunca vimos antes.

Isso não é mais verdade, ou pelo menos não como antigamente. Ciclos acelerados de lançamentos de hardware e arquiteturas de processador consistentes fizeram com que, cada vez mais, compramos iteração ao invés de inovação ou evolução. Vimos isso claramente no mundo dos smartphones: apesar de novos modelos serem lançados todos os anos, é difícil alguém justificar acompanhar esse ritmo nas compras. O público-alvo do iPhone 12, por exemplo, não é o atual usuário do iPhone 11, mas sim aquele que está há anos sem atualizar o aparelho. E, ao trocar um iPhone 6s por um iPhone 12, apesar dos 5 anos entre eles, a experiência é quase a mesma. A tela é melhor, a câmera é mais nítida, o processador é mais rápido. Mas o sistema operacional e os aplicativos são os mesmos, e no fim das contas o celular antigo pode fazer quase todas as coisas que o novo faz, apenas mais devagar.

O Xbox Series X ao lado do Xbox One X.É nesse ponto que os consoles estão chegando, e a Microsoft quer deixar isso muito claro com os poderosos Series X e Series S. Quando instalei meu Series X, nem precisei tirar os cabos da caixa, só desconectei meu One X e coloquei o Series X no lugar (aqui tem um porém que discutirei depois). Liguei o console, que me pediu para acessar o aplicativo do Xbox no meu celular, automaticamente transferindo minha conta e minhas preferências do console antigo ao novo em poucos instantes. Em seguida, encontrei-me na familiar dashboard do Xbox, idêntica à que eu já tinha no One X.

O upgrade no PC

Inicialmente, minha experiência com o Xbox Series X foi muito similar à que tive com o Xbox One X. É algo similar a melhorar o hardware do seu PC: tudo continua igual, mas mais bonito. Não tendo nada disponível para jogar, minha primeira tarefa foi baixar jogos, ora transferindo via rede local do outro console, ora baixando da minha biblioteca ou do Xbox Game Pass. Quando finalmente pude abrir um jogo no Series X, as diferenças começaram a vir à tona, especialmente quando se trata de velocidade. São várias melhorias ao desempenho que talvez não pareçam tão grandes a princípio, mas que fazem voltar à geração anterior uma tarefa árdua.

Além dos loadings mais rápidos, algumas outras coisas chamam a atenção: a primeira é o Quick Resume, um serviço do sistema que mantém diversos jogos suspensos ao invés de fechados. Ao reabrir um jogo, entramos diretamente no estado suspenso, ao invés de abrir o menu inicial e tudo mais. Na maior parte do tempo, é incrível. Ainda leva alguns segundos para resumir o estado, mas é muito mais rápido do que abrir o jogo do zero. O problema é que não temos como saber quais e quantos jogos estão suspensos, nem quando o sistema vai descarregar o estado de um jogo quando o espaço reservado para isso está cheio. Os jogos otimizados para Series X|S parecem saber como lidar com isso, mas, na retrocompatibilidade, pode ser um problema. Em duas instâncias, com Sekiro: Shadows Die TwiceStar Wars Jedi: Fallen Order, o sistema tentou carregar o estado salvo, mas aparentemente o jogo não soube lidar bem com isso e travou, me forçando a recomeçar do zero de qualquer forma (pelo menos, isso também é muito mais rápido do que no Xbox One).

Mas justamente nesses dois jogos notei enormes benefícios graças à retrocompatibilidade. Sekiro é um jogo que eu adorei, mas nunca consegui jogar muito porque a taxa de quadros no Xbox One X era tão inconsistente que me dava dor de cabeça. Isso é praticamente resolvido agora; devido à otimização no título, ele não fica travado a 60 quadros por segundo, mas está lá na maior parte do tempo — e as ocasionais quedas são muito mais leves e toleráveis. Finalmente posso voltar e terminar o jogo. Pelo que vi, todos os jogos que tinham a taxa de quadros destravada se beneficiam notavelmente do hardware novo. Fallen Order, por sua vez, tem dois modos de desempenho. No modo de alto desempenho, a resolução é limitada a 1080p, e a taxa de quadros, que não era estável, mas ainda melhor do que em Sekiro, finalmente atinge os 60 fps desejados. Porém, a resolução faz com que a imagem pareça levemente borrada em uma TV 4K. Já o modo de alta resolução passa a ser praticamente impossível de jogar. Apesar da imagem mais nítida, o jogo fica restringido a 30 fps e, comparando os dois modos lado-a-lado, a diferença é gritante. Em jogos como esse, o ideal seria uma atualização que permite a resolução e framerate mais altas no mesmo modo, e com sorte teríamos o melhor dos dois mundos (Atualização do autor: Fallen Order foi atualizado com essa possibilidade em janeiro de 2021).

Este último é o caso de Forza Horizon 4, que agora conta com um único modo renderizando a 2160p e 60 fps, eliminando a necessidade de escolher entre resolução e framerate como ocorria no One X. Segundo a desenvolvedora, ainda sobrou margem para melhorar detalhes gráficos, que agora são equivalentes ao modo Ultra da versão de PC. Gears 5 recebeu aprimoramentos similares, com duas observações notáveis. A boa notícia é que o multiplayer online pode agora rodar a 120 fps, se a TV permitir, garantindo enorme fluidez de movimento e contando ainda com VRR (variable refresh rate), que sincroniza a taxa de atualização da TV com a framerate do jogo, fazendo as raras quedas serem praticamente imperceptíveis ao olho humano. Já a má notícia é que o modo co-op local continua restrito a 30fps, porque os desenvolvedores decidiram manter a mesma qualidade gráfica do singleplayer. Eu pessoalmente preferiria uma redução na qualidade gráfica ou na resolução, mas não é possível atualmente.

Eu não pude experimentar muitos jogos otimizados para o console (porque eu recebi o console cedo e muitos jogos só lançam no dia 10), mas curiosamente foi The Touryst, um pequeno jogo da indie Shin’en, que me fez apreciar muitas coisas do console. Em particular, foi nele que eu mais notei a diferença entre 60 fps e 120 fps, e devo admitir que estou curtindo muito a taxa de atualização dobrada, mas é algo difícil de descrever. Não é tão gritante quanto o salto de 30 para 60, mas certamente é notável. Alguns efeitos de iluminação e sombras, a especialidade da Shin’en, também são mais nítidos no Series X do que no One X.

A parte infeliz do conjunto 4K, HDR e 120fps é que depende muito da tela usada. A minha TV, por exemplo, suporta cada uma dessas funcionalidades, mas as portas HDMI são apenas da versão 2.0. Isso me faz ter que tomar uma decisão em alguns jogos: ou eu jogo a 2160p e HDR a 60 fps, ou a 1440p sem HDR a 120 fps. Por sorte o console faz um trabalho razoável de escolher isso automaticamente (de acordo com o suporte do jogo a um modo 120 fps), e a transição de Gears 5 a 1440p/120 fps para Forza Horizon 4 a 2160p/60 fps foi suave. E, sinceramente, como o jogo ainda está sendo renderizado em 4K, a resolução mais baixa não incomoda. Minha decepção foi com Ori and the Will of the Wisps, onde foi a perda do HDR que incomodou mais. Tive que escolher entre cores vibrantes e movimento extremamente suave, quando eu queria ter ambos. Pelo menos isso é uma limitação fora do console, não dentro dele, e a maioria das novas TVs devem já vir equipadas com HDMI 2.1 e suporte à maior qualidade de imagem possível dos consoles.

Por dentro e por fora

O design do console é um tanto quanto inusitado, deixando de lado o formato mais horizontal e achatado que estamos habituados. O Xbox Series X parece um pouco um gabinete de PC, mas lembra particularmente o design do Mac Pro de 2013, a famosa lixeirinha da Apple, porém como um paralelepípedo ao invés de um cilindro. É um design inteligente e admirável, pois consegue empacotar muito poder de processamento em um dispositivo razoavelmente compacto, apesar dos 4,3kg que são notáveis antes mesmo de tirá-lo da caixa. O ótimo legado de design térmico do Xbox One parece continuar aqui. O ventilador é grande e extremamente silencioso, jogando para fora quantidades um tanto surpreendentes de ar quente, assim como o One X já faz. Será bem-vindo no inverno.

Além das dimensões, o Series X tem um design extremamente minimalista, que provavelmente não vai destoar da maioria das salas de estar por aí. O plástico preto não é exatamente o mesmo do One X. A textura é agradável, mas marcas de dedo são uma presença comum (como você pode ver nas fotos acima). Porém, também são bastante fáceis de limpar e parecem sumir sozinhas com um pouco de tempo (em defesa ao console, eu havia acabado de passar hidratante nas mãos antes de pegá-lo para tirar as fotos; claramente engano meu). Como o console é capaz de reproduzir CD, DVD, Blu-ray e Blu-ray UHD, pode ocupar um espaço privilegiado sob a TV de alguém que ainda curte mídias físicas além dos videogames.

É bastante claro que a Microsoft não quer que o console em si seja o foco das atenções, mas sim a porta de entrada para os seus jogos e serviços. Eu aprecio essa decisão; o One X já era um dos meus consoles favoritos pela qualidade da engenharia de hardware, e o Series X segue tranquilamente na mesma linha.

Mais interessante que o console é o novo controle. À primeira vista, pode parecer quase idêntico ao controle do Xbox One, mas basta pegá-lo na mão para notar que a Microsoft não o deixou de lado. O próprio controle do Xbox One recebeu uma atualização com o lançamento do One S, e este é o próximo passo. A traseira, os botões e os gatilhos receberam melhorias sutis mas muito notáveis e apreciadas, como as texturas feitas para que nada escorregue dos seus dedos em horas de tensão. O D-pad também é ótimo, parcialmente emprestando o design “antena de satélite” do Elite Controller, com interruptores bem marcados. Não podemos esquecer do botão de captura, que era uma ausência grave nos controles de Xbox até agora, e na porta USB-C, agora o conector padrão para os controles dos três consoles. A infeliz ausência é a de um giroscópio, que provavelmente quebra a possibilidade de um suporte mais robusto à mira com movimento em jogos multiplataforma.

Preparado para o futuro

É bastante óbvio que o Xbox Series X não é tanto um console para hoje como é para daqui a dois ou três anos. A velocidade do SSD e os aprimoramentos na retrocompatibilidade são muito bem-vindos para quem quer continuar jogando o catálogo do Xbox One na qualidade mais alta possível, mas no dia do lançamento não há nenhum jogo que tenha sido desenvolvido ao redor das novas possibilidades permitidas pelo hardware.

O Xbox Series X ao lado do PS4 Pro.Porém, este hardware é muito mais parrudo para os padrões de 2020 do que o Xbox One e o PS4 eram em 2013, então com certeza ainda veremos grandes coisas dessa máquina. É possível haver uma versão atualizada, como foram o One X e o PS4 Pro, mas é menos provável que seja necessário, a não ser que tecnologias de ray tracing evoluam muito e tornem-se padrão em muitos jogos. Certamente alguns jogos tentarão extrair o máximo possível da GPU, mas espero que o enorme salto de CPU em relação à geração passada faça com que 60 fps torne-se comum em grandes lançamentos. A taxa de 30 fps é muito mais difícil de engolir no mesmo hardware que roda outros jogos a 120 fps. Estamos claramente na fase de “retornos decadentes”, onde saltos enormes de potência de processamento indicam melhorias moderadas no resultado final, mas me parece justo dizer que essas melhorias ainda são muito bem-vindas.

E assim começa a nova geração de consoles, não com uma explosão de jogos inacreditáveis, mas apenas com nossos favoritos dos últimos anos rodando como sempre queríamos.

Leia também

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm