Em 2018, um grupo singelo de desenvolvedores suecos (que se intitularam The Bearded Ladies) lançou Mutant Year Zero: Road to Eden, um RPG tático em que humanoides e animais mutantes lutam para sobreviver em um mundo pós-apocalíptico. Se restringirmos os tais animais para um clã de sapos, ampliarmos a categoria dos humanos e incluirmos robôs, temos então a base estrutural de Miasma Chronicles, jogo inédito do estúdio disponível para a nova geração e PC.
Não ironicamente, o projeto serve como um sucessor espiritual e também como uma homenagem ao que veio sendo construído ao longo desses cinco anos pelos suecos. Distribuído pela 505 Games, este é apenas o terceiro jogo deles. Agora o que fica claro com seu lançamento recente é que há uma dedicação e uma força-tarefa muito bacana de criar um mundo sólido que consegue instigar e entregar uma premissa consistente.
Em um futuro não muito distante, os Estados Unidos padeceram enormemente com a chegada de uma força devastadora batizada de Miasma. É uma espécie de matéria que tomou conta de cidades e pessoas, tornando o país inabitável. Aqueles que permaneceram se reuniram em pequenas cidades, enquanto sobrevivem como podem. O governo foi tomado por uma organização chamada de Primeira Família, que tenta controlar tudo e todos.
Nosso protagonista, porém, vive em outro lugar. Em Sedentary, uma área de mineração, o jovem Elvis, que foi deixado pela mãe quando pequeno, sai em busca de respostas com seu “irmão” Diggs, que é um robô treinado para protegê-lo. Elvis possui uma luva capaz de controlar o Miasma, e é com ela que o rapaz se assegura para reencontrar sua mãe.
Quem já jogou Death Stranding talvez veja alguma semelhança nas partículas que tomam conta dos cenários, mas a intenção aqui é diferente. Para mais uma trama situada em um mundo pós-apocalíptico, cenário já explorado há muito tempo na indústria, Miasma Chronicles poderia ser várias outras coisas. Mas o que o torna interessante é o laço forte entre os personagens principais e, sobretudo, seu gameplay tático e de turno.
O jogo é dividido em crônicas (como episódios). Nelas, vamos acompanhando o desdobramento dos eventos conforme Elvis cruza com diversos personagens que, por sinal, têm fortes personalidades. O cuidado para não torná-los NPCs genéricos já chama mais a atenção do que outros títulos sobre o “fim do mundo”.
O jogador vai descobrindo aos poucos sobre o que se trata o Miasma assim como nosso protagonista. Afinal, ele é apenas um jovem tentando descobrir o seu lugar no mundo. O azar dele foi esse mundo ser o cenário menos amigável possível.
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É preciso informar neste texto que Miasma Chronicles preza pela precisão de uma forma bem árdua. Mais detalhes a seguir. Por enquanto, vamos abordar a riqueza do jogo em mecânicas. De início, é possível controlar Elvis, Diggs e uma terceira personagem que entra no grupo como acompanhante, a Jade. Cada um possui seus slots para armas — estas podem ser atualizadas com novas ao longo da campanha —, bem como pontos de habilidade e upgrades na luva de Elvis, que pode ser usada para ataques especiais como, por exemplo, um disparo elétrico.
A cada rodada, o jogador pode usar dois níveis de energia para traçar sua estratégia: se movimentar pelo cenário, usar um item da mochila ou simplesmente recarregar sua arma. Como cada personagem tem um alcance diferente, principalmente no início do jogo onde poucos upgrades foram feitos, isso torna a cautela obrigatória. Alguns recursos são limitados e podem fazer muita falta.
Voltando à questão da precisão, o game traz um terceiro fator para campo: a sorte. Um disparo de uma arma de distância pode marcar 90% de chance de acerto e mesmo assim o jogador pode errar o tiro (sim, isso aconteceu mais de uma vez). É como acertar uma agulha no furo de costura.
Apesar de ser frustrante, faz parte da experiência. Aqui não há medo nenhum de forçar um quebra-cabeças e testar a estratégia escolhida por quem joga. Cito isso não por ser uma coisa inédita, ainda mais nesse gênero que abriga tantos títulos similares, mas foi um ponto de destaque. Os inimigos são inteligentes o suficiente para fazer uma emboscada para o (nosso) mal, e é preciso lidar com isso.
Elvis é uma figura bem conhecida em Sedentary, então alguns rostos serão mais vistos do que outros, como os comerciantes que vendem todo o tipo de suplemento que for preciso. A moeda do jogo é o plástico.Na América do Norte da história, esse é um item que se tornou raridade.
Há ainda uma variedade de missões secundárias que podem ser acessadas durante ou após o encerramento da campanha. Como os próprios desenvolvedores apontam, são aproximadamente 10 horas de conteúdo secundário. Miasma Chronicles é extenso, mas ele consegue prender o jogador, seja pela dinâmica de lutas, pelas novidades da trama ou o carisma dos personagens.
Em um parâmetro geral, a performance técnica do jogo está boa. Pouquíssimas vezes ele tropeçou, mesmo nos diferentes e longos mapas com suas texturas particulares. O mais grave foi um crash. Minha sorte na hora foi que isso ocorreu no fim de uma sequência de combates (e o salvamento automático ter funcionado).
Miasma Chronicles não é a maior coisa que já aconteceu no RPG tático, mas traz uma proposta confortável e com uma ideia simples bem executada. Os pequenos detalhes podem ser tão prazerosos quanto os momentos de grandiosidade.
Quem se aventura nesse tipo de jogo e puder experimentá-lo vai encontrar um robô bem-humorado de coração gigante e um garoto perdido, mas com muita determinação e sede de descobertas. A forma apaixonada como esses personagens foram construídos e interpretados tornam todo o processo mais divertido de ser enfrentado. No fim das contas, é isso que importa.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm