Apesar da presença de botões dedicados à captura de tela nos consoles atuais, sinto que pouco é falado sobre pontos que intersecionam videogames e fotografia de uma forma mais interessante. Mesmo esses pontos não sendo tão comuns e exigidos pelo público quanto Photo Modes — recursos que figuram especialmente em grande parte dos jogos AAA —, há uma quantidade razoável de obras que nos colocam para interpretar profissionais da arte da fotografar. Além de registrar, editar e organizar momentos, obras desse tipo podem apresentar uma reflexão sobre nosso papel com uma câmera na mão, explorando a sensibilidade, a intenção e o propósito de colecionar memórias em papel (ou em pixels, digitalmente falando).
Umurangi Generation é um jogo desse tipo, porém mais dedicado a contar mais sobre o mundo (no caso, o nosso próprio) do que divertir com suas mecânicas ou do que encantar com a simpatia de personagens carismáticos. Para muito além de apenas fotografar monstrinhos absolutamente adoráveis — que habitam primariamente o inconsciente popular e, em segundo plano, a região de Lental —, o projeto desenvolvido única e exclusivamente pelo game designer Naphtali Faulkner não tem medo de falar a verdade: o mundo está apodrecendo enquanto palco de um capitalismo selvagem, e você é mais uma vítima do sistema opressor que precisa sobreviver na esperança de um dia saber viver.
Como nosso autor Pedro Vicente já explorou mais a fundo as reflexões sócio-políticas que o jogo propõe por meio de suas mecânicas e de sua estética em um relato após seu lançamento em 2020, meu intuito é discorrer um pouco mais sobre outros aspectos da obra e sobre particularidades da versão lançada em junho deste ano para Nintendo Switch. Para isso, porém, queria comentar um pouco sobre as mecânicas básicas de jogo para leitores e leitoras pouco familiarizados com o jogo.
O jogo é ambientado em primeira pessoa e conta com uma quantidade razoável de estágios, cada um com uma lista de objetivos obrigatórios (necessários para progredir) e de desafios extras. Pegar todos os rolos de filme, atingir o enquadramento perfeito para um cartão postal pré-definido e incluir seus amigos nas fotos desbloqueiam novos equipamentos profissionais, como lentes de diversos tamanhos e formatos. Na versão de Switch, além da opção de habilitar o giroscópio para mover e/ou rotacionar a câmera analógica, há a opção de salvar as fotografias de forma automática diretamente no console. Por que fazer isso? Bem, quando um jogo te recompensa por seu criativo e expressivo sem ser invasivo, capacitista ou imperativo em termos do significado artístico do termo “fotografia”, vale a pena levar consigo registros mundanos e cotidianos.
Aliás, se tem um elemento em Umurangi Generation que combina com o teor mundano e cotidiano das rotinas de nossa rotina como fotógrafo, quase como uma característica inerente ao mundo no qual somos jogador e personagem, é a trilha sonora. Composta pelo artista Adolf Nomura, as faixas são bastante variadas em ritmos e sensações: algumas mais na pegada de funk e “cultura de rua” — rotação mais alta, enérgicas e contagiantes — e outras mais calmas, mas sem deixar de lado os instrumentos sintéticos. O mais curiosos é que parte da trilha já havia sido lançada independentemente e só foi licenciada, mas cai tão bem que se torna indistinguível das faixas criadas exclusivamente para o jogo.
Umurangi Generation é um jogo especial desde seu tutorial, cheio de simpatia na escrita e na estética das dicas. A chegada de um jogo desse tipo (feito por um único desenvolvedor aborígene) em consoles, quebrando a barreira um pouco menos intransponível de apenas ser lançado na Steam, já pode ser considerada um grande passo — especialmente quando consideramos não se tratar de um passatempo divertido ou de uma viagem cheia de sorrisos. Espero que, muito em breve, outras pessoas possam também ter acesso a essa grata surpresa do mundo dos games por meio de outras plataformas, refletindo um pouco mais sobre um futuro não distante dos tempos difíceis que vivemos atualmente.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm