Análise: Forza Horizon 5 - Neo Fusion
Análise
Forza Horizon 5
16 de dezembro de 2021

Todo ano, quando a Apple anuncia um novo modelo de seu tablet, frases como “é o melhor iPad já feito” e “é o melhor tablet do mercado” são propagadas. De maneira similar, dá para se dizer que Forza Horizon 5 “é o melhor Forza Horizon já feito e “é o melhor jogo casual de corrida do mercado”. Em ambos os casos, o problema é que essas frases não explicam nada além do óbvio. A primeira constatação não é nada menos que a obrigação de um produto novo numa linha renomada, enquanto a segunda diz mais sobre o estado da concorrência do que sobre a qualidade do produto em si.

Então acabamos numa situação de termos produtos excelentes, mas talvez não tão empolgantes. Forza Horizon 5 é maravilhoso como videogame em geral e jogo de corrida em particular, o único problema é que já sabíamos desde que foi anunciado que seria excelente.

Mais um Forza?

Jogos de esporte sempre sofrem um pouco para se distinguir de seus antecessores. Afinal, eles sempre têm alguma relação com a realidade e há um limite de quanto podemos abusar dessa relação. A série Forza Horizon existe exatamente nesse limite — entre a simulação pseudo-realista de Forza Motorsport e a corrida maluca de Mario Kart — e podemos dizer que, após cinco iterações, esses limites já são um terreno muito familiar da desenvolvedora Playground Games. Forza Horizon 4 já nos colocava em corridas contra um avião a jato e em um cenário alienígena inspirado em Halo. O que mais eles poderiam inventar?

O caminho adotado em Forza Horizon 5 foi de ir fundo com a temática do ambiente. Situado no México, o jogo apresenta o maior e mais variado mapa da série até agora. E, realmente, a estrutura do mapa é perfeita. Há biomas completamente diferentes, como florestas, desertos, montanhas, praias e cidades. O sistema de estações de Horizon 4 continua, mesmo que as estações mexicanas não sejam tão acentuadas quanto as britânicas, afetando a frequência de chuvas e adicionando neve ao topo da montanha, por exemplo.

Comparado aos intermináveis campos do Reino Unido, essa variedade deixa o ritmo do jogo mais variado e viciante. O ritmo também é muito favorecido pelos novos consoles: nos Xbox Series X e Series S ainda há um tempo de carregamento ao início da corrida, mas duram poucos segundos, muito menos do que Forza Horizon 4 levava no meu Xbox One X. Isso, aliado ao Quick Resume, também significa que Forza Horizon 5 é um jogo perfeito para quando temos uns minutos vagos na agenda; dentro de instantes, estamos correndo e nos divertindo.

Também é interessante pensar no jogo pelo contexto do Xbox Cloud Gaming. Em termos de game design, é o jogo perfeito para a plataforma — como dito acima, bastam alguns minutos para ter uma experiência divertida. Porém, em termos técnicos, é um jogo muito complexo para streaming. A alta velocidade do jogo é um desafio para a compressão de imagem, e qualquer atraso na resposta dos comandos afeta muito a jogabilidade. É legal ver que a possibilidade existe, mas não substitui a experiência de jogar localmente no console.

Uma campanha de liberdade

Em termos da estrutura de jogo em si, não há tanta diferença em relação ao terceiro e quarto títulos da sub-franquia. São quatro tipos principais de eventos de corrida (corridas de rua, corridas de estrada, rally e cross-country), além de uma variedade de desafios e atividades espalhados pelo mapa. Eu prefiro corridas mesmo, então minha rotina de jogo envolve basicamente escolher um evento próximo, completar a corrida e buscar outro próximo da linha de chegada. Como o México é enorme, fui progredindo aos poucos do oeste ao leste — a esta altura, completei a maioria dos eventos no ocidente, mas ainda há muito a ser feito na parte oriental do mapa.

A principal novidade aqui é o “Horizon Adventure”, que adiciona uma estrutura um quê de campanha à progressão do jogo. O que acontece, na verdade, é que eventos de história ou de exibição, ao invés de ser desbloqueados de forma aleatória, são apresentados em uma versão alternativa do mapa e o jogador tem mais escolha sobre a ordem na qual quer abordá-los.

Escolha do jogador, na verdade, é uma peça central da experiência Horizon. Em praticamente qualquer sentido, o jogo incentiva — às vezes de forma mais acentuada — o jogador a tomar as rédeas sobre como quer jogar. Não há uma progressão de carros lentos e pistas fáceis para veículos velozes em circuitos complexos: fica a cargo do critério e da intuição do jogador entender o que faz sentido e quando. Podemos colocar uma Lamborghini para fazer rally ou um Jeep para correr na estrada que o jogo tentará balancear os oponentes proporcionalmente. Também podemos decidir se queremos focar em explorar um estilo de evento de cada vez, ou abordá-los de forma geográfica como eu fiz.

O ponto alto disso tudo, para mim, são os eventos especiais de cada categoria. São corridas longas que levam entre 15 e 20 minutos e percorrem trechos enormes do mapa, incluindo uma rota costa-a-costa, uma rota que passa pelos principais biomas e desce do vulcão, uma que visita várias cidades e, por fim, uma que completa uma volta pelas extremidades do mapa. Adoro a sensação épica proporcionada por esses eventos, mesmo quando eu tive que recomeçá-los algumas vezes e ajustar configurações do carro e de dificuldade para finalmente conseguir conquistar a vitória. Não são tão exaustivos quanto as corridas de resistência de Gran Turismo, afinal.

E, claro, nenhum jogo de corrida em mundo aberto pode se gabar de ter físicas de direção entre as melhores da indústria. Há uma infinidade de carros para escolher, cada um com propriedades que podem ajudar ou atrapalhar dependendo das situações, além do extenso menu de customizações mecânicas e estéticas. Só por esse legado, importado de Forza Motorsport e ajustado há anos pela Playground, Forza Horizon 5 é um jogo de rally melhor que Dirt 5 e um jogo de corrida de rua melhor que Need for Speed Heat. É quase estranho ver tantos tipos de corrida executados tão bem.

O mundo aberto vs. a corrida

Tudo isso é inegavelmente divertido, porém sinto que, para os meus gostos (e para muitos jogadores mais “tradicionais”), uma estrutura de campanha mais rígida seria bem-vinda. Eu gostaria que, em alguns casos, certas corridas fossem restritas a certas categorias de carro. Eu posso escolher um Fusca para ter uma corrida de Fuscas, mas não tem eventos especiais com essa temática fora as histórias, que são bem diferentes de corridas normais.

Talvez eu diga isso pelas minhas memórias de Gran Turismo, mas no fim sinto que Forza Horizon é primeiro um jogo sandbox, depois um jogo de corrida e depois um jogo de mundo aberto. Fora estabelecer os ambientes onde as corridas ocorrem, não há tanto proveito da estrutura do mundo. Há um modo em que o objetivo é chegar a um ponto do mapa o mais rápido possível — independentemente da rota —, mas isso não é transformado em uma corrida.

Também seria interessante, talvez, oferecer a possibilidade de ir desbloqueando o mapa apenas à medida que dirigimos por ele. Eu gosto muito de ver o que o mundo tem a oferecer, mas isso fica um pouco menos impressionante quando o mapa já deixa muito claro onde vou encontrar cada bioma. O volume incrível de eventos é desbloqueado num ritmo muito mais veloz do que consigo completá-los, fazendo com que o mapa rapidamente transborde de ícones e me deixando perdido sobre por onde prosseguir.

Enfim, talvez o que eu quero faz mais sentido em um RPG do que em um jogo de corrida, mas o que eu realmente gostaria de ver é uma combinação mais forte entre esses dois aspectos. Nada disso muda o fato de que Forza Horizon 5 é extremamente divertido e viciante do jeito que é. O próximo jogo da Playground Games é um reboot da série Fable — um RPG de mundo aberto — e estou extremamente curioso para ver como a experiência da equipe com aquele jogo influenciará o inevitável Forza Horizon 6. Quem sabe assim, finalmente veremos um jogo de corrida indicado ao prêmio de jogo do ano.

Forza Horizon 5 pode ser só mais uma entrada da série, mas isso equivale a dizer que é um jogo extremamente divertido e repleto de corridas inusitadas. Eu gostaria de ver uma campanha mais estruturada e até mais elementos de RPG integrados, mas a escolha adotada pela equipe é a de liberdade completa — para bem e para mal.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm