Quando criança, eu era simplesmente fascinado por Asterix & Obelix. Entregando a idade, tive o primeiro contato com os personagens muito antes dos filmes live action, em uma época em que a única forma de conhecê-los era através dos (até hoje caros) quadrinhos ou pelas animações em fita VHS que aluguei incontáveis vezes na locadora perto de casa.

Uma das memórias mais ricas que tenho da infância era de me divertir (sem entender muito) com uma cena de Os 12 Trabalhos de Asterix, no qual ele precisa enfrentar o grande desafio da burocracia. Precisando de um salvo-conduto, os protagonistas entram na “Casa que Enlouquece” e falam com uma série de funcionários que exigem selos, verificações e toda série de repetições que acabam com a paciência de qualquer um.

De certa forma, jogar Asterix & Obelix: Slap them All! me trouxe lembranças tanto boas quanto negativas dessa cena. Se por um lado o jogo da Microids é belamente animado e finalmente cumpre a missão de permitir “jogar os quadrinhos”, por outro lado seu gameplay é tão burocrático e repetitivo que a experiência final acabando saindo aquém do esperado.

Em uma pequena aldeia da Gália…

Asterix & Obelix: Slap them All! começa de forma semelhante a qualquer outra aventura da série. Em uma pequena aldeia da Gália, a população local resiste ao avanço dos exércitos romanos graças à ajuda de uma poção misteriosa que concede grande poder e resistência para quem a bebe.

Após lidar com os problemas locais, os heróis são forçados a iniciar uma longa viagem para ajudar outras populações que estão em risco, mas não possuem formas de enfrentar os exércitos comandados por Júlio Cesar. A história serve como palco para um jogo no estilo beat ’em up no qual seu principal estilo é estapear tudo que surge pela frente — bem como sugere o título.

Tudo isso é feito em cenários lindamente desenhados e animados à mão, que garantem um estilo único. Enquanto o título é bastante convidativo à jogatina multiplayer, a aventura também pode ser encarada a um, permitindo que um único jogador alterne livremente entre Asterix e Obelix.

Cada herói possui sua própria seleção de ataques especiais, mas ambos compartilham algumas características básicas. Usando uma barra de ações especiais que se regenera quando golpes normais são aplicados, você pode agarrar adversários (medida útil para provar um bom dano em área) ou aplicar golpes mais potentes que, em muitas ocasiões, derrotam um adversário logo de cara — o popular gancho de Asterix é reproduzido com fidelidade.

Todos os cenários apresentam uma quantidade generosa de adversários, mas não é preciso se preocupar muito com eles. Enquanto os protagonistas são relativamente frágeis, não é difícil encontrar uma tática que garanta sua segurança e permita derrotar hordas inteiras sem tomar muito dano. Em meu tempo com o jogo, a tática mais bem-sucedida era me manter correndo de um canto para outro, agarrando inimigos quando necessário para evitar receber golpes por trás.

Enquanto o processo de mandar romanos, piratas e outros inimigos para a Lua é divertido, há uma sensação anticlimática na maioria das fases. Enquanto o jogo reserva alguns embates contra chefes (muitos saídos diretamente dos quadrinhos), a maioria delas termina de forma anticlimática — assim que todos os inimigos são derrotados, tudo para e você é levado para a tela de pontuação e a próxima cena sem muita cerimônia.

Capricho de um lado, desleixo de outro

Asterix & Obelix: Slap them All! traz como uma de suas qualidades trazer elementos visuais bem fieis à série, mas nem sempre isso funciona a seu favor. Enquanto isso é positivo para os cenários e animações, as cenas que apresentam a história parecem ser feitas de forma mais desleixada, exibindo poucas animações e cenários genéricos.

O combate também acaba se provando um ponto fraco do título, por maior que pareça ser a variedade de comandos disponíveis em um primeiro momento. As habilidades que os personagens possuem no começo são exatamente as mesmas durante toda a aventura — isso, somado às características pouco variadas dos inimigos, contribui para uma grande sensação de repetição.

O jogo até tenta quebrar um pouco isso com fases marcadas por minigames, mas nem todas as perseguições de javalis do mundo conseguem disfarçar a pouca flexibilidade do gameplay. Não é que as coisas não funcionem, ou sejam desagradáveis, mas em um mundo no qual Streets of Rage 4 proporciona uma sensação real de progressão para o gênero beat’em up, é difícil desculpar um lançamento para consoles que não saiba aproveitar todo o seu potencial.