Análise: Bayonetta 3 - Neo Fusion
Análise
Bayonetta 3
2 de novembro de 2022

Bayonetta é uma franquia que, a esta altura, provavelmente dispensa apresentações. Nascida em 2009 pela mente do controverso Hideki Kamiya junto da PlatinumGames como uma espécie de sucessora espiritual de Devil May Cry (também criado por Kamiya), a série rapidamente se tornou uma das melhores representantes do gênero hack n’ slash, aliando um excelente sistema de combate – simples e convidativo para iniciantes; profundo e variado para veteranos – a boss fights fenomenais, trilha sonora cool e, claro, uma protagonista feminina sensual, poderosa e icônica.

Com uma receita assim, esperaria-se que Bayonetta fosse um sucesso absoluto, mas a realidade não é bem por aí, já que tal sucesso só se manifestou verdadeiramente na aclamação crítica e nunca em número expressivo de vendas. Desse modo, o segundo e fantástico jogo da franquia foi publicado originalmente para Wii U em 2014 e só existe por apoio de ninguém menos que a própria Nintendo. Agora, oito anos após a segunda jornada de Bayonetta e o relançamento dos dois primeiros jogos para Switch em 2018, Platinum e Nintendo se juntam mais uma vez para transformar Bayo em uma trilogia com este que é disparado o título mais ambicioso e maluco já protagonizado pela bruxa. 

Bayonetta

Bayonetta 3 e o multiverso da porradaria 

Vamos direto ao que interessa: enquanto Bayonetta 2 funciona mais como um refinamento do já excelente sistema de combate de seu antecessor, Bayonetta 3 deixa claro que sua proposta é construir em cima daquela base sólida ao mesmo tempo que também traz maior variedade e criatividade, tudo isso com certa dose de risco.

Explico: tal base consiste em um combate ágil, onde o jogador dispõe de grande mobilidade ofensiva baseada em socos, chutes, tiros, e finalizações demoníacas; variedades de armas e, também, diversas formas de se esquivar dos ataques inimigos. Ou seja, o básico do hack n’ slash. Uma mecânica que define e difere o combate de Bayonetta, no entanto, é o Witch Time, ativado sempre que o jogador realiza uma esquiva bem-sucedida, fazendo com que o fluxo do tempo desacelere, dando a oportunidade do jogador punir cada inimigo ou chefe. Adiciona-se a isso o clássico sistema de pontuação ao fim de cada encontro (aqui chamado de “Verse”) e BOOM, você tem uma receita satisfatória para nos incentivar a combar cada vez mais e tirar notas altas ao fim do Verse – indo da ridícula estátua de pedra às desejosas avaliações Platinum e Pure Platinum.

O que Bayonetta 3 traz de novidade é a mecânica de Demon Slave, técnica ativada com o botão ZL e que faz com que a bruxa consuma uma “barra de magia” e invoque um de seus demônios para acabar com a vida dos inimigos na sua frente. Num primeiro momento, isso pode até parecer um tanto desbalanceado, mas não é bem o caso. Enquanto é verdade que cada um dos demônios que Bayonetta invoca faz inveja ao tamanho do Godzilla, basta que a bruxa leve um golpe de qualquer inimigo para o feitiço ir pelo ralo. Isso ajuda a balancear as coisas porque mesmo que muitos encontros incentivem os jogadores a utilizar a mecânica, uma vez que o demônio surge na tela, nós o controlamos e não mais assumimos os comandos de Bayonetta, ou seja, é uma questão de dividir a atenção.

A adição do Demon Slave coloca uma camada extra de estratégia ao jogo, já que é possível alternar entre os comandos da bruxa e os comandos dos demônios (que podem ser estocados duas vezes antes do demônio sumir, dando uma pequena janela de ação ao jogador num esquema de risco-recompensa). Também é importante prestar bastante atenção ao comportamento dos demônios porque não só eles podem morrer (desencadeando um cooldown) como também possuem uma barra de irritação. Uma vez que perdem a paciência, se voltam contra Bayonetta e aí é caos puro. 

Bayonetta dentro de um trem em Bayonetta 3

Outra novidade é que em Bayonetta 3 nós não jogamos apenas com a heroína que dá nome ao jogo, mas também com duas outras: Jeanne e Viola, ambas protagonizando alguns poucos capítulos da aventura. Viola é uma estilosa mas extremamente estabanada jovem punk que empunha uma katana e invoca um gato gordo chamado Cheshire. Ela difere do gameplay da Bayonetta por ter um Witch Time que é ativado ao defender perfeitamente um golpe inimigo com o botão R, não ao se esquivar dele.

Além disso, enquanto Bayonetta passa o jogo todo adquirindo armas novas e diferentes demônios, Viola tem de se contentar apenas com sua katana e seu gato, mas é justamente essa limitação que a torna tão interessante e traz desafios diferentes. É muito legal ver como essa simples mudança faz com que joguemos com outras estratégias, até porque Cheshire é invocado através da espada de Viola e nós podemos controlá-la quando o gato está na tela, ficando livres para atacar os outros inimigos com os próprios punhos.

Já Jeanne aparece em “sub-capítulos” que servem como uma pausa da ação frenética do resto do jogo. Suas fases são apresentadas na perspectiva 2.5D e lembram uma espécie de mistura de Katana Zero, Metal Gear Solid e Metroid. Com a personagem, nós podemos realizar abates sorrateiros, nos escondermos em dutos de ar, atrás de portas e até mesmo ir pra debaixo d’água como uma cobra. Temos um limite de tempo para cumprir o objetivo principal de cada fase, bem como explorar cada tela atrás de segredos e itens que facilitarão os encontros contra chefes. É simples e talvez nem agrade a maioria tanto quanto Bayonetta ou Viola, mas é certamente uma ideia interessante, sem falar que a cutscene de apresentação de cada fase da Jeanne é legal demais, trazendo aquele ar de seriado de espionagem dos anos 60 e 70.


Por fim, algumas pequenas diferenças em gameplay dizem respeito à forma como organizamos os sets de armas de Bayonetta. Enquanto nos jogos anteriores era possível selecionar qual arma a bruxa usaria em cada membro do corpo (sim, ela coloca armas de fogo até no tornozelo), Bayo 3 pede que o jogador utilize sets pré-definidos, mas isso está longe de ser um problema, porque cada arma traz mecânicas únicas e bem implementadas e é fácil de se adaptar a essa escolha.

Também é possível organizar qual demônio queremos chamar a partir de determinado botão e, claro, cada um destes também tem sua própria árvore de habilidades. Como você pode ver, é um conjunto de camadas e mais camadas de sistemas que no papel pode até parecer meio sufocante, mas tudo isso continua seguindo o DNA da franquia: simples na superfície, deixando a experiência divertida para quem é novato, mas bastante profunda para quem quiser ir além e explorar cada possibilidade do jogo.

Personagem de Bayonetta 3

ENTRE (MUITAS) BRUXAS E (POUCOS) PIXELS 

Bayonetta 3 não é o jogo mais ambicioso da trilogia apenas em termos de combate, mas também de level design, set pieces, história , segredos e paisagens, indo de Nova York a Tóquio e até mesmo ao Egito. Embora cada fase ainda seja majoritariamente linear, é notório como cada mapa consegue ser mais expansivo, recheado de segredos, missões bônus que recompensam com mais energia/HP, quebra-cabeças e coisas do gênero. As set pieces de Bayonetta 3 são tão malucas e surpreendentes que vão desde referências espertas a filmes até uma parte específica em que você quebra tudo no… escritório da própria Platinum (sim, juro, preste atenção na fase de Tóquio).

O lado ruim disso tudo é que… bem, Bayonetta 3 é tão feio que parece apanhar até mesmo de alguns jogos da geração do PS3/Xbox 360. E por feio eu quero dizer tanto em algumas escolhas de direção de arte quanto pela qualidade de modelos e texturas mesmo, além da baixa resolução (independente de se jogar no portátil ou na TV). Também não ajuda que o jogo praticamente nunca sustenta 60 quadros por segundo, embora isso milagrosamente incomode menos do que o lado visual do título.

É claro que em cutscenes e nos personagens principais há um maior cuidado, mas em todo o resto acaba sendo impossível não se questionar quão melhor Bayo 3 poderia ter sido caso não tivesse que ser construído em volta das limitações do Switch e sua meia década de vida. Tais limitações também me fazem questionar algumas escolhas que tangem o level design propriamente dito, porque dá para ver que a Platinum abusou da ideia de ser expansiva e estrangular as capacidades da máquina da Nintendo. É difícil jogar esse game e não pensar que algumas áreas receberam mais atenção do que outras, e nisso eu incluo atenção tanto por questão de tempo quanto de investimento de dinheiro. Caso jogue Bayonetta 3, compare osdetalhes das fases no Egito com quão desinteressante, vazio e feio é o Hub principal do jogo, a Ilha de Thule.

Viola em Bayonetta 3

Em termos de história, Bayonetta 3 também inventa de ser maluco e passa a envolver uma aventura no multiverso, com diversas versões da nossa heroína. Nem vou me dar ao trabalho de tentar explicar o que de fato acontece na aventura porque para mim a franquia sempre teve histórias que funcionam mais como um pano de fundo para a ação (e, convenhamos, são um tanto quanto ridículas) e aqui não é diferente.

De toda forma, Bayo 3 consegue entregar alguns momentos genuinamente emocionantes e divertidos e é até fácil esquecer toda a controvérsia que rolou pré-lançamento, com as disputas entre a Platinum e a antiga atriz que deu voz à Bayonetta nos jogos originais. Jennifer Hale, aliás, faz um trabalho fenomenal como a nova voz de Bayonetta e acredito que minha impressão será a mesma que a de muitas outras pessoas.

Bayonetta 3 é o título mais ambicioso, maluco, arriscado e controverso da franquia. Ele funciona como um novo capítulo para o gênero, aliando combate acelerado, profundo, variado, dando muita liberdade à expressão do jogador ao mesmo tempo que não tem medo de testar ideias diferentes e inovadoras para a franquia. Ele sofre um pouco pelas amarras de estar num hardware que talvez não seja o ideal para a ambição imposta pelo estúdio, mas isso certamente não impede que o jogo esteja no mesmo panteão de excelência que seus irmãos mais velhos.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm