Análise: Front Mission 1st: Remake - Neo Fusion
Análise
Front Mission 1st: Remake
22 de dezembro de 2022
Testamos Front Mission 1st a partir de cópia cedida pela publicadora

Quando o assunto é JRPGs, dificilmente não se pensa no nome Square-Enix. A desenvolvedora/publicadora possui um longo histórico no gênero, tendo criado franquias icônicas como Final Fantasy e Dragon Quest, dois dos maiores exemplos do estilo e que datam desde a época do NES. Ao mesmo tempo, a Square também já se aventurou pelo mundo dos RPGs táticos e o vem fazendo há anos com franquias como Tactics Ogre, Front Mission e Final Fantasy Tactics.

Front Mission nunca foi uma franquia com a mesma fama de um Final Fantasy, mas é inegável sua importância para o gênero. Com suas origens no Super Nintendo, FM teve 15 jogos lançados entre 1995 e 2019 e há hoje tanto um revival quanto uma celebração da franquia por parte da Square-Enix, coisa marcada por este Front Mission 1st: Remake.

GUERRA É UM INFERNO

Desenvolvido pela Forever Entertainment para o Nintendo Switch, Front Mission 1st: Remake se trata de um remake de Front Mission 1st, originalmente lançado para o PlayStation em 2003 (há também uma versão para Nintendo DS, de 2007) e que por sua vez é uma versão expandida do jogo original de Super Nintendo, lançado em 1995. O jogo, bem como toda a franquia, envolve uma trama futurista de conflitos militares e geopolíticos onde assumimos o comando de exércitos de combatentes controladores de mechas Wanzerpanzers (do alemão, wander = perambular, panzer = tanque), ou simplesmente Wanzers.

Um aspecto muito bacana de FM 1st é que o jogo apresenta duas campanhas: a primeira, girando em torno do Capitão Royd Clive ao lado do exército da OCU, indicada como primeiro contato com o game; e a segunda, em torno do Tenente Kevin Greenfield, do exército da USN, e indicada para jogadores mais experientes e que já viram o lado de Royd.

Independente de qual campanha escolher, ambas as histórias se passam em 2090 e envolvem um conflito ocorrido em uma ilha fictícia do Pacífico chamada Huffman Island. Tal ilha fora um território cuidado pelas Nações Unidas até 2020, quando passou a ser controlada pelos Estados Unidos do Novo Continente (USN), após sua retirada da ONU. Esse controle, obviamente, não é bem visto por uma outra união, a União Cooperativa da Oceania (OCU), que o contesta uma vez que também participou da colonização do território.Tal desentendimento leva ao 1º Conflito Huffman, em 2070, dividindo a ilha.

Imagem da Karen

Até houve um período de paz após a divisão da Huffman Island, mas ele não durou muito, tendo as tensões voltado a crescer particularmente de 2086 em diante com a Crise de Huffman, desembocando no Incidente de Larcus em 2090 e numa guerra total, com a USN acusando a OCU de ser responsável por um ataque a uma usina ao leste da Ilha, coisa que a OCU nega, alegando ser armação. É neste cenário que se dá o 2º Conflito Huffman, opondo a OCU e a USN, além de uma reviravolta importante envolvendo uma instituição secreta de pesquisas chamada Nirvana Institute.

Na campanha principal de Front Mission 1st, assumimos o papel de Royd Clive, que liderou uma expedição de reconhecimento a uma fábrica de munições da USN no distrito de Larcus. Nesta ocasião, o pelotão de Royd sofre uma emboscada por unidades da USN comandadas por um oficial conhecido como Driscoll, que não só acaba por assassinar Karen, noiva de Royd (que participava da operação), como também manda detonar o lugar e depois foge, fazendo com que a culpa da explosão caia sobre Royd e seu grupo, logo dispensados da OCU.

Um ano após o incidente, Royd passa seus dias em arenas de combate de Wanzers, até ser visitado pelo oficial Olson, a fim de recrutá-lo para seu grupo de mercenários, os Canyon Crows, que depois acaba por ser contratado pela OCU, dando a Royd a chance de ir atrás de Driscoll, vingar a morte de Karen, e reverter a sorte da guerra.

Batalha

Já a segunda campanha de Front Mission 1st nos mostra o outro lado dessa guerra, quando assumimos a pele de Kevin Greenfield. Meses antes do Incidente de Larcus, Kevin e seu grupo chamado Black Hounds participavam de uma operação contra uma organização terrorista conhecida como “Estrela da Liberdade”, cujo quartel general fica na Cordilheira dos Andes. Com a missão de executar a organização, Kevin acaba por cometer um erro que custa sua posição dentro da USN. Assim como Royd, Kevin recebe uma segunda chance tempos depois e retorna à USN, mas dentro de uma divisão de pesquisas armamentistas do Nirvana Institute, sob liderança de Driscoll, além de ter a oportunidade de comandar o pelotão dos Silver Lynxes, numa ofensiva da USN contra a OCU.

A história de Front Mission é contada a partir de diálogos à visual novel. Não há nenhuma atuação por voz e praticamente todas as cutscenes rolam de forma simples, com a maioria dentro do campo de batalha, enquadrando os Wanzers e seus pilotos. Há uma certa elegância nas artes que indicam quais personagens estão falando, mas seu estilo infelizmente não atinge a mesma altura que os traços clássicos do lendário Yoshitaka Amano (que trabalhou no FM original e é famoso pelo seu trabalho nos primeiros 6 Final Fantasy). 

Vista de cima

A trama em si é boa o bastante para se manter interessante, mas foi um pouco difícil me importar de verdade com os personagens, seja por haver pouco desenvolvimento de cada indivíduo, seja porque todos os beats da história acabam passando de forma meio fria. De todo modo, há de se lembrar que este é um jogo originalmente lançado para o Super Nintendo e, mesmo que o sistema possua histórias melhor contadas e mais memoráveis (vide FF VI e Chrono Trigger), a história de Front Mission 1st ainda cumpre seu papel decentemente.

ESTRATEGISTA DE MECHA

Front Mission é uma franquia importante para os TRPGs por inúmeros motivos. O primeiro deles é que ela traz ideias bastante originais para se destacar no gênero e é fácil perceber como sua existência influenciou jogos que vão de Advance Wars ao recente Triangle Strategy, mesmo que estes sejam mais complexos do que 1st Remake.

Customização de Wanzer
Vamos começar falando de uma das ideias únicas de FM: a customização dos Wanzers. Em Front Mission, saber equipar bem seus mechas é tarefa imprescindível. Cada Wanzer pode ser modificado no nível de corpo, braços, armas, pernas, CPU e mochila, sendo que cada uma dessas partes conta para seu sucesso durante as batalhas. É possível equipar até quatro armas diferentes, uma em cada braço e uma arma em cada ombro; modificar os tipos de pernas – o que impacta na mobilidade a depender do terreno do campo de batalha – além dos outros equipamentos ditarem quão efetivas são nossas resistências aos ataques dos inimigos. Os Wanzers também podem ter cores particulares e nomes diferentes, ao gosto do jogador.

No campo de batalha, as lutas se dão por turnos como em Fire Emblem: primeiro o jogador faz seus movimentos e escolhe os ataques e depois o computador faz o mesmo. Durante os confrontos, é possível acertar cada membro do corpo do robozão (inicialmente, de forma aleatória, mas depois deliberadamente a partir de uma habilidade adquirida com o progresso do personagem), cada parte do Wanzer tendo uma barra de HP única, com o corpo sendo obviamente o ponto vital (é acabar com esta barra e o Wanzer ir de base, enquanto os outros membros apenas ficam inutilizados caso recebam dano suficiente).

Em questão de armas, elas são divididas em três tipos: corpo a corpo, múltiplo uso e curto alcance. Cada uma tem sua particularidade, sendo que as armas de corpo a corpo têm uma boa precisão contra partes específicas dos inimigos e dão uma quantidade considerável de dano; as de curto alcance conseguem atingir partes diferentes e dão dano moderado; e as múltiplas são utilizadas tanto a curta quanto a longa distância, dando um belo dano, mas com o custo de serem muito imprecisas (a ponto de frustrar, para ser bem sincero).

No caso dos ataques mais próximos entre os Wanzers, é sempre possível contra-atacar o adversário e isso vale para jogador e para computador. Antes de sermos atacados nestes casos, podemos escolher como revidar ou simplesmente optar por uma pose defensiva (que pode ser mais efetiva caso equipemos alguma proteção nos ombros ao invés de lança-foguetes, por exemplo). Já com os ataques de longa distância não há como contra-atacar justamente pelo fato de um Wanzer estar longe do outro. E, por fim, cada uma das armas principais, sejam elas metralhadoras, espingardas, lança-chamas, etc, têm munição infinita, enquanto as de longa distância equipadas nos ombros possuem usos limitados, o que é devidamente necessário para balancear o jogo, já que tais armas sempre dão um dano considerável nos inimigos.

Cenário de batalha

Os tabuleiros/cenários para as batalhas variam de florestas, cidades, desertos e campos de fábricas, cada um com suas particularidades e topografia. Os terrenos, aliás, são um detalhe importante a se considerar no momento de bolar sua estratégia, já que elevações diferentes implicam em mobilidade maior ou menor, o que também é ditado pelo tipo de perna escolhida para cada Wanzer. O sistema em si é interessante, mas vale lembrar que ainda é uma implementação rudimentar, já que o remake não procura revolucionar ou se distanciar tanto assim de como funcionava o jogo original, portanto, não é tão complexo quanto em um Triangle Strategy da vida.

Em termos de missões, elas pouco variam, tendo quase sempre o objetivo de exterminar todos os inimigos do batalhão inimigo, e algumas poucas que pedem para destruir equipamentos específicos do terreno rival ou emboscar um trem, por exemplo. As batalhas também têm um número-limite de Wanzers que podem ser chamados à luta, sendo normalmente 10 recrutas, às vezes mais, às vezes menos. O jogo possui três dificuldades iniciais, com outros níveis sendo liberados após o fim da primeira campanha. Não há permadeath caso os personagens caiam em batalha e, no geral, o jogo tem algumas batalhas específicas com uma exigência maior que outras, mas basta um pouco de paciência, experimentação e logo conseguimos superar o desafio sem maiores problemas.

Tela de início de combate na Arena
Um outro ponto válido é a existência das Arenas em cada uma das cidades do jogo. Nelas, podemos batalhar contra outros personagens em troca de dinheiro e experiência, além de podermos recrutá-los para nosso time após derrotá-los. Nas cidades também podemos visitar os bares e conversar com as pessoas, aprendendo um pouco mais sobre o mundo de Front Mission. Não é algo muito complexo, mas certamente bem-vindo.

UM REMAKE FUNCIONAL

Front Mission 1st: Remake, em seu papel de remake, faz algumas coisas bem e outras nem tanto. Algumas das melhores escolhas feitas pela Forever Entertainment dizem respeito a dar opções interessantes aos jogadores. Isso vale tanto para a parte visual/mecânica quanto para a belíssima trilha de Yoko Shimomura e Noriko Matsueda: podemos optar tanto por jogar com versões originais ou remasterizadas das músicas, bem como optar por jogar uma versão modernizada das batalhas ou uma versão clássica, similar ao que era o FM de PS1.

A versão modernizada de FM 1st: Remake traz uma câmera mais livre para o jogador poder visualizar o tabuleiro de batalha, algo que é feito de maneira aceitável, já que nem sempre é possível enxergar bem o que você quer, especialmente nos cenários de cidades. Como de praxe nos remasters mais recentes da Square, é possível acelerar a velocidade das lutas, bem como eliminar as animações de transição entre tabuleiro e comabte. No lado da acessibilidade, 1st: Remake traz diversas opções de idiomas, inclusive o português… e aí vai uma crítica, já que é apenas o idioma europeu e não o brasileiro. Claro, é possível compreender os diálogos e navegar pelos menus de forma aceitável, mas não deixa de causar uma certa estranheza. Eu, em particular, preferi jogar em inglês mesmo e a localização me pareceu decente.

Localização em PT-PT
Infelizmente, o jogo acaba pecando em alguns aspectos técnicos: durante minhas cerca de 20 horas na primeira campanha, tive dois crashes no meio das batalhas. Considerando que cada missão (são cerca de 30 delas) são relativamente longas, ter um crash durante a luta é frustrante, ainda mais se considerar que o jogo acaba ficando um pouco repetitivo. A inteligência artificial dos inimigos também é meio burra, com inimigos geralmente se isolando, não fazendo absolutamente nada ou escolhendo movimentos um pouco questionáveis durante determinadas situações de luta – e no tempo em que joguei o game para este review, foi lançado um patch que procura melhorar todos esses problemas, mas eu particularmente não senti lá muita diferença. 

Selecionando qual parte do corpo atacar

Front Mission 1st: Remake é um bem-vindo retorno de uma franquia clássica da Square-Enix e que, embora nunca tenha atingido as alturas de seus primos Final Fantasy Tactics ou Tactics Ogre, tem seu lugar na história da publisher e merece reconhecimento. Que venham mais relançamentos e eventualmente um jogo novo da franquia, este, espero eu, com potencial de colocar a franquia nos holofotes certos.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm