É um tanto curioso que Metroid Prime Remastered foi lançado tão pouco tempo após o remake de Dead Space. Ambos jogos compartilham muito em comum, e é inegável que o segundo bebeu da fonte do primeiro, mas os relançamentos exibem abordagens diferentes na modernização de um clássico. Metroid Prime (2002) é mais antigo que Dead Space (2008), mas sua nova versão preserva muito mais do original. Bom, trata-se de um clássico e um jogo verdadeiramente seminal, então uma atualização visual é muito bem-vinda, além da portabilidade trazida pelo Switch. Só resta saber se o design de 2002 se sustenta mais de 20 anos depois.
Pode parecer absurdo hoje mas, quando Metroid Prime foi anunciado para Nintendo GameCube em 2001, havia muito ceticismo ao redor do título. Seria a primeira aventura de Samus Aran em 3D, mas o jogo parecia muito diferente de Super Mario 64 ou Ocarina of Time. A perspectiva em primeira pessoa marcava uma direção inédita para a Nintendo, que inevitavelmente levantava comparações com Halo: Combat Evolved, outro jogo com um protagonista de armadura espacial em primeira pessoa da época. Parecia que a Nintendo estava apenas querendo competir com o título do Xbox, e que a essência de Metroid estaria perdida nas mãos dos caubóis texanos da Retro Studios.
O jogo foi lançado e o resto é história. Apesar da perspectiva, Metroid Prime é fundamentalmente um jogo de exploração. O combate existe, e é de fato de tiro em primeira pessoa, mas seu propósito principal é dar dinâmica aos ambientes e, claro, servir para demonstrar a evolução de nossa personagem ao longo da aventura. Crucialmente, Prime mostrou que é possível fazer um metroidvania em 3D, seguindo muito de perto ideias introduzidas em Super Metroid, adaptadas. Não existia nenhum jogo parecido em 2002 e, em 2023, seus pares continuam poucos.
Isso não quer dizer que o jogo seja isento de defeitos. Em comparação a Super Metroid, em que a área final é bloqueada até derrotarmos os quatro grandes chefes de Zebes, em Metroid Prime o acesso se dá através dos artefatos, objetos especiais espalhados pelo mapa. A diferença pode parecer pequena, mas em Super Metroid havia a impressão de ficarmos mais forte justamente com o objetivo de encontrar e derrotar grandes inimigos. Em Prime, fica aparente que nosso objetivo é conseguir poderes para coletar os artefatos, fazendo os chefes parecerem mais obstáculos do que objetivos.
Há também uma tentativa de guiar o jogador silenciosamente, algo que Metroid Dread acertaria depois, mas isso nem sempre funciona e em determinados momentos devemos revirar o mapa inteiro para descobrir o próximo caminho. Isso não é necessariamente ruim — se perder faz parte da experiência tradicional de metroidvanias, só talvez seja um pouco estranho para jogadores acostumados com títulos mais diretos nesse sentido.
Esses seriam fatores detratores se não fosse uma delícia habitar aquele mundo. A ambientação de Metroid Prime é espetacular, e isso é mais notável ainda com os visuais aprimorados do remaster.
Minha primeira impressão ao ver o trailer de Remastered é que as mudanças visuais pareciam notáveis, mas leves. Com um pouco mais de tempo e atenção, percebi que essa impressão se devia à fidelidade apresentada nesse relançamento. Os visuais — incluindo geometria, texturas e iluminação — estão completamente retrabalhados, mas em sua grande maioria preservam perfeitamente a essência do jogo original. Em comparações lado-a-lado, é perceptível o quanto foi mudado, mas isoladamente parece ser o que Metroid Prime sempre foi — ou almejava ser.
Além dos visuais, há algumas mudanças importantes nas opções de jogo, incluindo opções de acessibilidade (algo pouco comum em jogos da Nintendo). Podemos optar por controles de tiro modernos (ao invés do controle de tanque do original) ou um modo com sensor de movimento similar ao relançamento para Wii. Este último pode ser interessante usando os joy-cons separados, mas é esquisito com o Pro Controller ou no modo portátil. Eu optei pelos controles modernos, afinal é o que nos habituamos ao longo de anos. Infelizmente, ao mapear o segundo analógico para a câmera, perdemos a habilidade de trocar de visor e arma facilmente; usamos o botão X para alternar o uso do D-pad, que geralmente não é problema mas pode ser chato no meio de um combate. Para padrões Nintendo, os controles são bastante customizáveis, então vale a pena dar uma olhada nas opções para deixar da forma que faz mais sentido para você.
Outros aspectos do jogo se mantêm praticamente intocados. O mapa e o level design são exatamente os mesmos que vimos em 2002, então um veterano do título continuará sabendo a posição de cada objeto. Os inimigos também permanecem idênticos mas, com as novas opções de controle, o combate passa a ser mais dinâmico. Já a parte sonora recebeu algumas melhorias — há menos compressão e quem tiver um sistema de som em casa pode experimentar a mixagem surround 5.1. As músicas e os efeitos sonoros são os mesmos, talvez com alguns ajustes, o que me dá uma sensação conflitante; a trilha sonora original é excelente, mas talvez merecesse uma regravação além dos MIDIs do GameCube. O jogo soa legal com fones de ouvido, e há uma certa espacialidade que ajuda a situar o jogador que é perdida no áudio da TV, mas acho que fiquei mal-acostumado com o som excepcional que experimentei em Dead Space.
No meio disso tudo, há um aspecto ótimo. Prime Remastered almeja um desempenho de 60 quadros por segundo e, com raríssimas exceções, atinge esse alvo constantemente. De certa forma isso não é mais que a obrigação, pois Prime já atingia esse feito no GameCube, mas considerando alguns lançamentos recentes no Switch, eu estava com o pé atrás. As melhorias gráficas não afetam o desempenho do jogo, que provavelmente é beneficiado pelos espaços restritos naturalmente providenciados pela arquitetura do mundo. Outros elementos que afetariam desempenho, como física e inteligência artificial, também são iguais ao original, então não apresentam desafios para o Switch. Curiosamente, devido ao desempenho, Prime Remastered é um dos jogos mais visualmente impressionantes da plataforma — só não queira compará-lo a jogos de PS5 e Series X. Remete a títulos do final da geração PS3/360, em particular Halo 4, porém com um desempenho superior àqueles.
Comparando este lançamento a Metroid Prime Trilogy no Wii, é mais do que decepcionante a ausência de Metroid Prime 2: Echoes e Metroid Prime 3: Corruption no Switch. Ao meu ver, a trilogia Prime permanece uma das mais ilustres dos games, pois cada jogo tem uma direção e personalidade única e forte. O primeiro é universalmente aplaudido como uma obra-prima, mas suas continuações apresentam tantas peculiaridades que merecem ser jogadas em sequência. Mas também era esperado que a era de coleções “generosas” acabou, já que a Nintendo pode lucrar muito mais vendendo cada título separadamente. Esperamos, então, que Echoes e Corruption façam suas aparições renovadas, antes ou depois do lançamento de Metroid Prime 4, que continua um mistério cinco anos após seu anúncio.
Já em comparação a outros relançamentos da Nintendo no Switch, Metroid Prime Remastered se destaca. Enquanto seu contemporâneo Super Mario Sunshine foi apenas emulado, e os títulos de Wii The Legend of Zelda: Skyward Sword e Kirby’s Return to Dreamland receberam apenas um aumento de resolução e adaptação de controles, Prime recebeu um tratamento muito mais completo. Apenas Xenoblade Chronicles Definitive Edition recebeu uma atualização similar, e Prime ainda conta com a vantagem de ter um preço reduzido, ao invés de ser vendido como um título novo — um alívio considerando as recentes preocupações em relação a preços de jogos de Switch.
Fica aqui uma última constatação problemática — a equipe original de Metroid Prime não aparece nos créditos, substituída por aqueles que trabalharam no remaster. É uma decisão infeliz da Nintendo, considerando que grande parte do trabalho original permanece intacto e mesmo os novos visuais foram fortemente baseados nos originais. Metroid Prime Remastered é um jogo excelente, mas isso só é possível graças ao trabalho que fez Metroid Prime ser excelente.
Por fim, se você, como eu, quer jogar um remake completo de Metroid Prime, não se preocupe — ele já existe.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm