O anime do pirata que estica é pivô de um tipo de conversa que foi transformada em anedota pelo tempo e depois em piada: “pô, mas continua assistindo, fica bom demais a partir do episódio 457”. A frase em si é ao mesmo tempo uma bobagem sem tamanho e algo verídico. É bobagem pois One Piece tem a mesma pegada desde sempre e o foco no humor, na aventura, na relação entre os personagens do bando e em entregar momentos de emoção tá lá desde o começo.
Porém, também há alguma verdade nesse papinho: One Piece fica mais forte conforme mais você se apega aos personagens e ao mundo criado por Eiichiro Oda, e a trama efetivamente fica mais interessante e traz mais temas ao longo de seus arcos. Mas o ~espírito~ da coisa é o mesmo desde o começo. One Piece Odyssey, desenvolvido pela ILCA e publicado pela Bandai Namco, é um JRPG que tem sua jornada similar mas distinta da série: fica mais e menos interessante com o passar do tempo. Menos pela falta de variação em seus sistemas, e mais pelas trocas e simpatia de seus protagonistas.
Controlamos o bando do Chapéu de Palha em uma aventura semi-canônica, mais ou menos enfiada ali entre Dressrosa e Whole Cake mas que também pode ser um pouco depois do arco da Big Mom e companhia, enfim, é uma salada temporal que não vem muito ao caso. Os piratas mais queridos do planeta terra e região chegam na ilha de Waford, um local indicado como importante por suas conexões com as ilhas do céu.
Lá encontram Lim e Adio e se vêem em uma aventura na própria ilha, mas também em lugares específicos da jornada de One Piece através das memórias. Temos os arcos de Alabasta, Water 7/Ennies Lobby, Marineford e Dressrosa. Todos os membros do grupo aparecem aqui, com a infeliz exceção de nosso mano Jinbei. Franky e Brook infelizmente só são controlados nas partes mais avançadas da campanha.
One Piece Odyssey é um JRPG por turnos, e tanto o visual quanto o sistema de combate fizeram muita gente ver semelhanças com Dragon Quest XI. Há sim uma semelhança na construção visual, mas o combate só possui o turno mesmo como conexão. Aqui temos quatro personagens do nosso time divididos em áreas e em contato ou não com inimigos em suas respectivas áreas. É possível e necessário alterar os membros da equipe o tempo inteiro, pois o jogo se pauta em uma relação triangular de vantagem do tipo pedra-papel-tesoura (aqui poder vence velocidade, que vence técnica, que por fim vence poder).
Dá pra trocar os personagens presentes no campo de batalha um pelo outro ou mesmo entre algum presente no “banco de reservas”. A melhor forma de causar dano é utilizar as técnicas especiais, gastando pontos que são facilmente recarregáveis ao aplicarmos ataques normais. Também existem golpes conjuntos entre membros do bando; estes custam uma outra barra (pode de ligação) mas gastam apenas o turno de um personagem. Existem golpes que jogam inimigos de uma área para outra, bem como alguns status negativos como sangramento, queimadura, etc.
Pronto, isso é tudo que é preciso saber sobre o combate de momentos muito iniciais do título até o fim. Como os chefes são muito mais saco de HP e uma referência visual do que mecanicamente distintos, One Piece Odyssey nos faz realizar os mesmos passos por muito tempo, fazendo com que a experiência de combate seja um tanto cansativa.
Felizmente o título traz opção de velocidade maior no combate, bem como estrutura sua exploração de áreas abertas e mesmo outras mais fechadas de forma a facilitar esquivarmos de combates. O haki da observação do Luffy também indica quais inimigos dão um bônus de experiência, fazendo com que seja uma boa ideia enfrentar apenas estes e ignorar o resto para uma experiência mais dinâmica.
Um ponto positivo do combate são as diferentes tarefas extra que pipocam em determinados momentos (e quase sempre nos chefes) pedindo para realizarmos determinadas ações (curar o Ussop, liberar uma área antes de alguém ir a nocaute, vencer um inimigo com um determinado personagem, etc). Completar tais desafios gera um bom boost de experiência, o que complementa a mentalidade de batalhar menos e desviar de encontros desnecessários.
Os golpes e animações são bem legais, e também é interessante ver como cada personagem possui suas particularidades: só o Chopper cura, a Nami pode atacar todas as áreas com seu tempo de raios, etc. Para além dessas questões de economia de burocracia e de um sistema de batalha interessante por pouco tempo, Odyssey não entrega muito em termos de combate.
A preparação também é simples, com a possível melhoria de alguns golpes a partir do uso de cubos encontrados pelos cenários (alguns mais escondidos que outros), e a escolha por acessórios com diferentes efeitos e melhoria de atributos específicos. A Robin pode usar uma máquina (que precisa de várias mãos em sincronia para funcionar) e juntar acessórios comuns aos especiais, fortalecendo-os ainda mais.
Como a utilização de itens na batalha ajuda bastante, vêm a calhar muito bem o fato que o Sanji pode cozinhar pratos com diferentes efeitos (cura de HP, cura de TP, melhoria de atributos) e o Usopp pode criar itens para causar pioras nos atributos dos adversários. One Piece Odyssey propõe sistemas de preparação e possui uma base interessante pro combate, mas do ponto de vista prático é tudo muito simples e o combate rapidamente fica repetitivo e desinteressante.
As áreas de exploração e os locais mais parecidos com dungeons são competentes, mas não chegam a empolgar. É possível usar o Chopper para passar por passagens pequenas, o Zoro para cortar portas, mas o principal membro será Luffy pelo fato deste poder esticar e pegar os pontos de um lado pro outro podendo movimentar pela área. Elas vira e mexe trazem algum quebra-cabeça simples, mas geralmente apelam mais pelo visual do que pelo local enquanto estágio de jogo.
Outro ponto cansativo da estrutura do título é a necessidade de passar por lugares novamente, repetir os mesmos trajetos em memórias especiais, principalmente nos momentos em que a viagem rápida é desabilitada temporariamente.
Já a trama do título vai melhorando com o tempo, as trocas entre os membros do bando são geralmente divertidas e acertam bem o tom da coisa. Algumas missões especiais mais interessantes (as caças) também trazem boas piadas e situações. Reviver as memórias e lugares queridos dos arcos é interessante por si, mas o título parecia que iria em um caminho de fazer pessoas passarem por momentos em que não estavam, mas ele se esquiva disso quase sempre.
Deixando de lado a possibilidade de vermos situações novas a partir dos grandes momentos e lembranças, One Piece Odyssey entrega uma trama interessante na própria ilha de Waford, mas nada que se destaque muito também. Ao fim do dia, One Piece Odyssey é um título bastante indicado para os fãs do mangá/animação, mas como JRPG é apenas mediano.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm