Análise: Senua's Saga: Hellblade II - Neo Fusion
Análise
Senua's Saga:
Hellblade II
5 de junho de 2024

Na minha opinião, 2017 foi um dos melhores anos para os videogames. Foram tantos lançamentos incríveis que, em parte, nossa empolgação deu origem ao Neo Fusion naquele ano. Um dos últimos jogos que terminei em 2017 foi Hellblade: Senua’s Sacrifice, desenvolvido independente pelo estúdio britânico Ninja Theory. Na época, foi marquetado como um “Triple Indie” — um estúdio com experiência em jogos AAA desenvolvendo um título com pequena escala mas alto valor de produção independentemente.

Até hoje, Senua’s Sacrifice é uma experiência memorável. Acompanhando a jornada de uma protagonista com psicose, a produção sonora é feita para replicar os sentidos dela de forma binaural com fones de ouvido. No ano seguinte, a Ninja Theory foi um dos estúdios adquiridos pela Microsoft e hoje integra a Xbox Game Studios. No final de 2019, Senua’s Saga: Hellblade II foi o primeiro título anunciado para o Xbox Series X (não me pergunte por que inverteram a ordem do título).

Uma pandemia e muitos anos depois, Hellblade II lança como um jogo completamente “AAA”, servindo como demonstração do que o Series X é capaz, graficamente falando. Mas ao mesmo tempo, é um jogo narrativo curto como seu antecessor, lançado em um período onde a indústria quer enxergar jogos como mecanismos de receita infinita.

A saga de Senua

Após uma breve recapitulação do primeiro jogo, encontramos Senua em um navio cheio de escravos capturados pelos “homens do norte”. O plano é enfrentar diretamente seus captores para poder liberar o seu povo. Mas após uma tempestade que destrói a maioria dos navios, a aventura acaba desviando completamente dos planos.

Passando-se em uma Islândia antiga e usando vários aspectos da mitologia nórdica, em muitos momentos fui lembrado do mundo dos recentes God of War. Mas há um contraste interessante entre os dois títulos: enquanto a história de Kratos lida com os problemas dos deuses, a de Senua lida com os problemas dos humanos que habitam aquelas terras. Também é notável que ambos jogos adotam o estilo cinematográfico de uma câmera constante e sem cortes.

Demorei um tempo para clicar com a narrativa, pois sinto que começa muito lenta. Só na segunda metade do jogo me senti um pouco mais motivação para ver aonde a história iria. A parte mais engajante da narrativa é ver Senua lidando com sua forma diferente de ver o mundo, ao mesmo tempo que adquire a confiança de outros personagens e assume uma posição de liderança.

Um novo passo em visuais

Senua’s Saga é um jogo fortemente cinematográfico em sua apresentação, e é por vezes quase um walking simulator. Com o aspecto de imagem ultrawide e uma perspectiva que segue de perto a protagonista, de novo remete a outro título de PS4: The Order 1886. Similarmente, Senua’s Saga é uma demonstração técnica da nova geração de consoles, e foi a primeira vez desde 2020 que fiquei sinceramente impressionado com gráficos.

Sendo um dos primeiros títulos construídos inteiramente na Unreal Engine 5, rodando a 30fps e numa resolução cortada (pelo aspecto de imagem), o jogo visivelmente extrai tudo que é possível da GPU. Particularmente animações faciais estão entre as melhores que já vimos, mas como um todo a qualidade das texturas e as interações entre elementos do ambiente são um passo avante visualmente.

Em grande parte por isso, aproveitei bastante o modo fotografia do jogo. Particularmente divertido é pausar durante cutscenes, pois nos permite confirmar que realmente são renderizadas em tempo real e podemos ver mais de perto alguns elementos da cena. Também é legal pausar em determinados instantes quando truques fora do campo de visão da câmera normal são usados para gerar algum efeito, e graças ao modo fotografia podemos enxergar fontes de luz, telas coloridas e posicionamentos específicos de personagens, dando um efeito de olhar por trás da cortina.

O custo disso tudo é a taxa de 30 quadros por segundo nos consoles. Para um jogo com foco narrativo sem muita necessidade de movimentos velozes da câmera, funciona. E os 30fps são super sólidos com um motion blur bem feito. Mas não é minha preferência e eu teria sacrificado um pouco dos visuais se houvesse a opção de rodar a 60.

Pode ser meio chato, e com certeza não é o usual para mim, falar tanto dos gráficos de um jogo, mas sem dúvida é a parte que mais distingue o título, além de sua produção sonora. Dito isso, quanto mais nos aproximamos de gráficos verdadeiramente fotorrealistas, mais notáveis são os pequenos defeitos. Uma textura mais fraca ou uma animação de personagem estranha acabam quebrando a imersão.

Parecido, mas aprimorado

Em termos de jogabilidade, Senua’s Saga é bem parecido com o antecessor Senua’s Sacrifice. Especialmente no início, pois os primeiros puzzles apresentados são do mesmo tipo que vimos tantas vezes no primeiro jogo. Felizmente, à medida que avançamos somos introduzidos a algumas novas mecânicas, que mais adiante são misturadas entre si para gerar cenários mais interessantes. Não é nada muito complexo e no fim todos os puzzles envolvem observar certa perspectiva no ambiente, mas pelo menos não é tão repetitivo quanto no primeiro jogo.

Já em relação ao combate, eu teria que revisitar o primeiro jogo para ver se sinto uma diferença na sensação de jogo. Continua bastante simples com uma ênfase forte na apresentação visual das batalhas. Isso significa que não temos uma sensação forte de conexão entre os botões que apertamos e as animações que acontecem — elas são feitas para mesclar entre si de forma suave, então é difícil saber exatamente quando uma termina e outra acaba. Também não é sempre claro se uma defesa foi bem sucedida, pois as animações são sempre exageradas.

De forma similar aos puzzles, há uma certa variedade de inimigos mas não tanto, só o suficiente para não ficar repetitivo demais. Aqui de novo o destaque fica nos visuais, pois acho que nunca vi tanta expressividade nas animações faciais de personagens durante um combate em tempo real. Mas, considerando a curta duração do jogo e que o número de inimigos é claramente finito e contável, sinto que o efeito seria mais convincente se realmente houvesse uma animação de finalização distinta para cada oponente. Animações repetidas são normais em videogames, mas parece que vão contra o efeito desejado por este jogo em particular.

Praticamente a única outra mecânica do jogo envolve explorar o ambiente para encontrar totens ou ramos da Yggdrasil. O primeiro colecionável já existia no primeiro jogo, mas o segundo é uma novidade que envolve encontrar formatos de rostos em pedras, que quando detectados revelam um pequeno caminho secreto. O efeito é legal, mas sinto que essa camada de colecionáveis é desnecessária em um jogo linear assim, e frequentemente me distraiu da narrativa principal. Também me encontrei passando um tempo dando voltas em cada cenário procurando os tais rostos, mesmo não estando muito interessado no que continham.

Como um todo, Senua's Saga: Hellblade II é peculiar por ser um tipo de jogo que eu normalmente não curto, mas faz várias coisas de forma interessante o suficiente para me manter engajado. É uma aventura contida e concisa como quase nunca mais vimos no âmbito AAA. Mas parece que o desenvolvimento deste título foi tão fortemente voltado aos visuais que outros aspectos — o combate, a exploração, os quebra-cabeças — não avançaram muito em relação ao seu antecessor.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm