Análise: Star Wars Jedi: Survivor - Neo Fusion
Análise
Star Wars
Jedi: Survivor
2 de maio de 2023
Este texto recebeu uma atualização para discutir as melhorias disponibilizadas para o jogo no dia 2 de maio. Confira no final do texto.

Nos últimos dias tenho assistido alguns vídeos do Angry Video Game Nerd. Acompanho o conteúdo dele há mais de uma década e de vez em quando é divertido assistir alguns episódio e lembrar de um estilo de conteúdo que remete aos primórdios dos vídeos pela internet. Na era do Atari e do NES, quando videogames estavam iniciando sua trajetória rumo à popularidade mainstream e haviam pouquíssimos mascotes e franquias originados na mídia, eram jogos licenciados, geralmente baseados em filmes e desenhos animados, que compunham grande parte dos títulos lançados. Este é um tema recorrente entre os jogos antigos problemáticos frequentemente analisados pelo menino James.

Isso não tem sido tanto o caso nos últimos 20 e poucos anos dos videogames. Hoje, raramente um jogo licenciado é feito com a intenção de coincidir com algum filme, ideia que geralmente era a grande vilã dos desenvolvedores. De alguma maneira, Star Wars: Jedi Survivor aparece para carregar esse legado dos jogos licenciados. Não se sabe de quem é a culpa do lançamento do jogo neste dia 28 de abril — seria da própria Respawn, da EA, ou da Lucasfilm? — mas, de uma forma ou de outra, o jogo foi lançado tão mal-cozido que parece cru.

Obviamente, os padrões de “mal-cozido” também mudaram com o tempo. No NES, um jogo apressado beirava ao injogável, se é que ele realmente tivesse um final a ser atingido. Hoje vemos mais jogos que são tecnicamente completos e jogáveis, mas repletos de probleminhas técnicos que provavelmente poderiam ser (e serão) resolvidos com um tempo a mais. Jedi Survivor não está no nível de Cyberpunk 2077 no PS4 e Xbox One, mas definitivamente estabelece um novo patamar de má otimização para os consoles atuais.

 

O último Jedi

Entre uma trilogia decepcionante, jogos de tirinho e navinha, e boas séries carregadas por Din Djarin e Cassian Andor, é um prazer experienciar um conteúdo de Star Wars centrado ao redor de um Jedi. Minha impressão é que Jedis e sabres de luz são tão maneiros que roteiristas os encaram como formas “baratas” de causar uma impressão. Pode até ser, mas não vou negar que defletir um tiro de blaster de volta a um stormtrooper nunca fica velho.

Cal Kestis, nosso protagonista, fora o fato de ser um Jedi, é o protagonista de videogame mais protagonista de videogame que se pode imaginar. Entre o jogo anterior e este há uma dissolução da pequena equipe criada por Cal, e boa parte da nova aventura tem a vibe de “unir a gangue novamente”. Na busca por um planeta perdido que pode ser um local seguro para se proteger do Império ascendente, encontramos uma variedade de personagens novos e familiares com variados níveis de carisma. Apesar de amar aquele universo, sempre sinto um pouco de dificuldade de me prender à narrativa — em grande parte porque estou mais interessado em jogá-lo do que assisti-lo, mas também sinto que o jogo tenta fugir um pouco da simplicidade que torna os arcos de Star Wars (*ahem* 1-6) tão divertidos e geniais.

Ainda assim, alguns personagens particularmente legais carregam a história e, considerando a enorme limitação imposta aos roteiristas — no fim das contas, nós não vamos derrubar o Império — é satisfatório.

Sekicharted Prime retorna

O apelo de Fallen Order sempre foi muito forte para mim: Sekiro, porém com sabres de luz. O que eu não esperava tanto eram as influências de outros jogos, notavelmente de Uncharted e Metroid Prime. Essa base triangular da jogabilidade permanece na continuação — temos um combate fortemente baseado ao redor do parry e um bocado de poderes da Força, mapas em 3D levemente labirínticos com itens a serem descobertos e passagens que são desbloqueadas com novas habilidades, e uma navegação pelo mundo envolvendo muitos pulos e escaladas.

Em termos de jogabilidade, ele é o que é. Se você gostou do primeiro jogo, é mais daquilo com algumas novas habilidades e poderes, além de novos inimigos e situações. É legal que realmente começamos o jogo já com a maioria das habilidades adquiridas ao longo do primeiro, para então obtermos novas. Por outro lado, talvez sejam tantas que há um malabarismo de comandos para conseguir encaixar tudo no controle.

O combate é expandido com um número maior de posturas de luta — além do sabre simples e duplo presentes no primeiro jogo, podemos usar os dois sabres separados e duas novas posturas. É legal que elas são bastante distintas e alteram a forma de lutar — não é legal que só podemos equipar duas de cada vez e só podemos mudar quais estão equipadas em pontos de repouso. É chato porque elas são úteis em diferentes circunstâncias, mas não tanto ao ponto de justificar ir até um ponto de repouso e trocar entre elas com frequência.

O jogo não é particularmente inovador ou impressionante, mas é competente e divertido. Ele segue muitas convenções do AAA moderno, mas a temática Star Wars inevitavelmente o dá um sabor diferente. E, como já dito, defletir blasters nunca fica velho.

Ansiedade de desempenho

O descrito nas duas seções acima são plenamente condizentes com um grande lançamento de 2023 — porém é no aspecto técnico que o jogo falha, de forma notável e talvez espetacular. Jedi Survivor abstém da geração anterior, consolidando ainda mais o fim do período cross-gen, tentando então empurrar o PS5 e o Series X ao limite. Usando ainda a Unreal Engine 4, o jogo abusa particularmente de ray tracing, que está disponível em ambos os modos visuais (qualidade e desempenho). O resultado é um jogo pesadíssimo e, muito provavelmente, mal otimizado para o hardware disponível, que sofre para carregá-lo em níveis aceitáveis de desempenho. Na versão de Xbox Series X, que eu experimentei, o modo qualidade é quase bom: mantém seus 30fps com algumas fraquejadas e ocasionais minitravadas. Não é excelente mas, para quem não se importa de jogar a 30fps, dá para o gasto. Em seus melhores momentos, o jogo é realmente muito bonito, mas na minha opinião isso não compensa o baixo desempenho.

Eu porém, não gosto, então me vejo obrigado a lidar com a bagunça que é o modo desempenho. Minha primeira impressão dele foi terrível, ao ponto de que cogitei por algum tempo jogar a 30fps. Vou precisar usar alguns jargões técnicos para explicar. Eu diria que, numa TV normal a 60Hz e sem taxa de quadros variável (VRR), é uma experiência dificílima de engolir. Minha salvação foi colocar a TV em modo 120Hz — isso ajuda porque, a 60Hz, o limite inferior do VRR é 48Hz. Quando a framerate cai abaixo de 48, o VRR não acompanha, então as quedas são muito mais notáveis a olho nu. Como o jogo parece operar insanamente entre 40 e 55fps, não ficou bom. No modo 120Hz, cada quadro do jogo corresponde a dois ciclos da TV, fazendo com que quedas para 40fps traduzam para 80Hz e se mantenham dentro dos limites do VRR. Não é uma solução perfeita, porque as variações continuam grandes demais para passarem despercebidas, e ainda temos momentos de congelamento por alguns milissegundos, mas é um pouco mais suave. Suave o suficiente para eu jogar desta forma com muita força de vontade, mas não suave o suficiente para eu esquecer dos problemas.

Se você está me achando o chato da framerate, há outros problemas afetando o jogo. A resolução por vezes é extremamente baixa, dando um aspecto borrado à imagem que me lembra dos jogos de Xbox One original. Já texturas e geometria estão constantemente sendo carregadas e descarregadas, e basta uma rápida virada de câmera, uma corrida pelo cenário, ou — pasmem — pausar e despausar o jogo para ver uma textura sendo carregada diante dos seus olhos. Em cutscenes, que sempre operam no modo qualidade 30fps, é extremamente comum ver elementos do cenário sendo carregados quando a câmera corta de um personagem para outro.

Também encontramos os bons e velhos bugs. Quando eu decidi mudar a configuração da TV para 120Hz, tive que reiniciar o jogo, que me colocou para assistir uma cutscene novamente. Ao pular a cutscene, o jogo absolutamente surtou, com personagens flutuando e diálogos quebrados. não é incomum ver elementos do cenário não encaixando direito e, em uma ocasião, o jogo simplesmente fechou para a home.

Não experimentei outras versões do jogo, mas relatos online indicam que a versão de PS5 está similar à de Xbox, talvez marginalmente melhor, enquanto a de PC está incrivelmente ruim ao ponto de sofrer para manter 60fps em computadores formidáveis.

Atualização: algumas melhorias

A Respawn foi veloz ao enviar uma atualização para o jogo no dia 2 de maio. Graças a ela, o modo desempenho do jogo está mais próximo dos 60fps, apesar de quedas ainda serem frequentes quando há efeitos gráficos em tela. A qualidade de imagem e distância de renderização parecem ter sido sacrificadas para (quase) chegar lá. Isso infelizmente deixa difícil de apreciar os gráficos detalhados, que são visíveis sob uma camada visual borrada. Na minha opinião, parece que a opção de desativar ray tracing seria a melhor solução para atingir 60fps consistentes, mas talvez isso seja difícil pela forma que o jogo foi construído.

Aproveitando a atualização, confesso que continuo preso no laço de gameplay do jogo. É muito divertido explorar aquele mundo, mesmo que as recompensas em si não sejam particularmente relevantes, e o combate apesar de simples é divertido e satisfatório. Os puzzles são de alta qualidade para padrões AAA (melhores que os de God of War Ragnarök, por exemplo, chegando mais próximos das shrines de Breath of the Wild). Felizmente, Cal e BD-1 não têm o hábito de imediatamente entregar a solução de puzzles quando os encontramos.

Eu quero muito amar Star Wars: Jedi Survivor, que é um jogo competente em diversos aspectos, porém em seu lançamento está repleto de problemas técnicos. É um jogo imperdível para fãs de Star Wars mas, se você tiver interesse, espere algum tempo até saírem algumas atualizações, pois o estado atual do título é realmente inaceitável. Espero sinceramente que este texto esteja defasado em breve.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm