Desenvolvida pela empresa japonesa Nihon Falcom, a série The Legend of Heroes ganhou bastante fama na última década por oferecer um estilo de RPG clássico que muitas empresas grandes deixaram de fazer. No entanto, enquanto as subséries Trails in the Sky e Trails from Cold Steel eram bem representadas no Ocidente, foi somente em 2022 que os jogadores fora do Japão finalmente puderam conferir Trails from Zero.
Lançado originalmente em 2010 no PlayStation Portable, o game traz um grupo de personagens e um arco narrativo próprio que se conectam de diversas formas ao demais jogos da série. Enquanto ele não é essencial para compreender a narrativa geral, a falta dele (e de sua sequência) é um buraco que só foi devidamente tapado com o lançamento de uma remasterização.
Trails from Zero conta a história de Lloyd Bannings, um detetive recém-formado na academia que retorna a Crossbell, cidade de seu nascimento. Lá, ele se une à Special Support Section (SSS), divisão da polícia que tem como objetivo promover uma união mais próxima com a comunidade local, que considera as forças da lei (justificadamente) submissas e interessadas somente em propagar seu próprio poder.
O primeiro aspecto que fica claro ao jogar Trails from Zero é que esse é um RPG denso e que não tem muitas preocupações com as sensibilidades mais modernas do gênero. Isso significa que, em vez de colocar o jogador em meio a uma batalha grandiosa e só depois explicar as coisas, o game tem um começo mais cadenciado que, aos poucos, vai desenvolvendo uma trama maior.
Enquanto no começo eu desgostei dessa opção e senti que o game era lento demais, um pouco de insistência provou que isso funciona a favor da experiência em geral. Ao forçar o jogador a acompanhar a criação da SSS, conhecer um pouco de seus companheiros e da cidade de Crossbell, o título é eficiente em fazer com que você se importe com o que está acontecendo e entenda aos poucos a amplitude de sua missão.
Felizmente, após essa introdução em marcha lenta, Trails from Zero logo engata um ritmo mais rápido e você vai se ver jogado de maneira bem dinâmica entre diferentes pontos da trama. Enquanto há missões secundárias que trazem um ritmo mais lento, elas não prejudicam a fluidez geral da trama — que tem uma quantidade generosa de diálogos que, felizmente, são muito bem construídos e ajudam a manter o interesse na história.
Outro aspecto que chama atenção no jogo é o fato de que ele teve suas origens no PSP. Enquanto o game recebeu um belo upscale e menus de alta qualidade, os modelos dos personagens ainda sofrem com algumas limitações e certos pontos dos cenários são marcados por texturas em baixa resolução.
Em minha visão, isso não prejudica o game, dando a ele um certo charme e estilo único que lembra muito as boas experiências que tive durante as eras dos 16 e 32 bits. No entanto, quem não tem essa nostalgia pode achar o jogo um pouco feio, mas vale a pena superar essa barreira dada a grande qualidade de seus demais elementos.
Assim como acontece com o roteiro, o sistema de combate de Trails from Zero também demora um pouco a engatar e a revelar suas qualidades. Cada personagem possui ataques básicos e especiais e pode equipar algumas gemas elementais que garantem diferentes tipos de poderes de ataque e defesa.
Enquanto no começo as opções disponíveis são bastante limitadas, o sistema revela sua complexidade conforme novos upgrades e tipos de gemas são desbloqueados. Ao mesmo tempo em que isso acontece, cresce a complexidade dos monstros, e saber explorar as fraquezas de cada um deles se torna chave para vencer algumas das batalhas mais difíceis do game.
Assim como acontece em outros RPGs, Trails from Zero pode ser completado na base da “força bruta”, mas isso resulta em uma experiência mais frustrante. No entanto, quem estiver disposto a explorar o que o game tem a oferecer — o que inclui ataques em conjuntos e poderes especiais para personagens de suporte — vai encontrar um jogo bastante rico e que estimula a experimentação.
Além dos poderes de cada herói, também é importante ficar atento ao posicionamento de cada um em campo de batalha — se o inimigo estiver muito longe, o comando escolhido não vai ser finalizado corretamente. Também é preciso prestar atenção à linha do tempo de ações e manipulá-la de forma a otimizar os ataques de seu grupo e a “jogar para trás” inimigos mais poderosos.
Isso se torna especialmente importante nos confrontos contra chefes, que batem bastante forte e exigem estratégias especiais para serem vencidos. Assim, vale a pena investir não somente nas partes físicas e nos equipamentos do grupo, mas também em habilidades que causam status que garantem mais defesa ou a capacidade de “desarmar” os golpes dos adversários.
Além de ser um RPG clássico de alta qualidade, Trails from Zero traz como principal qualidade ser um ótimo ponto de entrada para a série. Enquanto geralmente Trails in the Sky é apontado como a ponto de início atual, a saga de Crossbell também cumpre bem esse papel ao apresentar uma trama concisa e não exigir um grande conhecimento do resto do universo da Nihon Falcom — embora fãs das antigas vão curtir algumas participações especiais e referências.
E o melhor de tudo é saber que, além de a subsérie possui uma única sequência — Trails to Azure, que chega ao Ocidente em questão de poucos meses. Assim, o comprometimento necessário para ter uma história completa é consideravelmente menor do que o visto nas demais subséries da desenvolvedora.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm