Análise: Voice of Cards: The Isle Dragon Roars - Neo Fusion
Análise
Voice of Cards:
The Isle Dragon Roars
23 de novembro de 2021
Cópia digital da versão de PS4 cedida pela Square Enix.

Durante a segunda metade dos anos 2000, a Square Enix passou por uma fase complicada em que parecia que a identidade da empresa estava se perdendo. Vendo a necessidade de aumentar seus lucros e alcance para uma audiência global, a empresa fez uma série de empreitadas para “ocidentalizar” seus games e tirar dele características que, à época, eram consideradas “japonesas demais” — algo que teve resultados, no máximo, mornos.

Foi somente em 2012 que a empresa decidiu fazer a iniciativa “ousada” de voltar às suas raízes com Bravely Default — uma espécie de “novo Final Fantasy” —, game que trazia de volta elementos “ultrapassados” como batalhas por turno, foco no grinding e uma história simples. O sucesso obtido pelo game de 3DS foi tanto que ajudou a abrir os olhos da companhia para o fato de que o modelo do JPRG tradicional não estava falido, como ela acreditava, mas somente carecia de títulos bem-feitos capazes de cativar o público.

Lançado no dia 24 de setembro deste ano, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um game que se encaixa bem na nova filosofia da empresa. Simulando em sua apresentação uma partida de um jogo de tabuleiro — no melhor estilo Dungeons & Dragons —, o título é em sua essência um RPG japonês bastante tradicional e convidativo para novatos, que tem sua apresentação como verdadeiro diferencial.

O Dragão volta a rugir

O mundo estava em conflito graças ao poder do Dragão, uma criatura misteriosa que dominava a todos com sua influência maligna. No entanto, um grupo de corajosos heróis conseguiu combater a criatura, que foi banida para um lugar distante onde seu mal não mais alcançava — ou ao menos é isso que a história diz. Agora, há sinais de que o Dragão está de volta, e todos os aventureiros do reino estão se reunindo para combatê-lo novamente.

Em Voice of Cards: The Isle Dragon Roars, você controla um desses grupos de aventureiros que compensa a falta de experiência com grandes ambições e o desejo de ficar rico com a recompensa oferecida pela derrota da criatura. A aventura se inicia somente com duas pessoas em seu grupo, mas não demora muito até que você encontre novos companheiros, cada um correspondente a um arquétipo de RPGs clássicos — como magos, cavaleiros e arqueiros, por exemplo.

Voice of Cards

Toda a narrativa, exploração e batalhas acontecem na forma de uma espécie de tabuleiro formado inteiramente por cartas. A maior parte do tempo é passada em um mapa que representa o mundo exterior e, conforme você se move, as cartas são viradas para revelar o que há pela frente — uma montanha, a entrada de uma caverna, uma floresta ou a chegada a uma cidade estão entre as opções.

As batalhas acontecem de forma aleatória, podendo surgir em praticamente qualquer momento (com exceção de áreas específicas, como cidades). Quando elas são iniciadas, o jogador é levado a uma tela em separado na qual deve lidar com o conflito, que se passa em turnos cuja chegada é determinada pelo atributo de velocidade de seu personagem.

O sistema é bastante simples e fácil de aprender, com algumas peculiaridades. Golpes especiais precisam de ao menos um cristal para serem realizados (uma unidade do elemento é adicionada automaticamente a cada turno), e há um sistema de resistências e fraquezas elementais que, se bem explorado, pode facilitar bastante a vida do jogador. Ao final da batalha, os heróis ganham pontos de experiência e, ao subir de nível, desbloqueiam novas habilidades e reforçam seus atributos básicos.

Voice of Cards

Além dos reforços obtidos pelos níveis, você pode melhorar sua equipe comprando novos equipamentos e acessórios, que também podem ser encontrados em baús. Também é possível carregar uma série de itens de cura, cujo uso é limitado pelo tamanho de seu inventário. Assim como nos jogos da série Dragon Quest, cada item ocupa um espaço único, então não dá para acumular dezenas de poções e antídotos, o que traz uma carga estratégica maior para os momentos em que você deve ou não os utilizar.

Apresentação diferente, mecânicas conhecidas

A descrição que fiz de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars se encaixaria muito bem em qualquer Dragon Quest, Final Fantasy ou no mais recente Bravely Default II. Isso não é exatamente um problema para o jogo em si, que configura uma aventura de JRPG básica e competente. No entanto, parece que o formato de “falso tabuleiro” é mal aproveitado, servindo mais como uma capa estética do que como um elemento cuja natureza é realmente explorada.

Em um jogo de RPG convencional, por exemplo, você poderia tentar “trapacear” com o rolar de dados ou usar outra solução que não fosse o combate para escapar de um encontro. Embora haja uma tentativa de fazer algo diferente no jogo na forma dos eventos aleatórios que acontecem, as opções disponíveis ainda são poucas e sempre há o “caminho certo” a seguir — em uma das primeiras florestas do jogo, o mesmo evento se repetiu tantas vezes que foi fácil detectar qual a rota otimizada que deveria ser seguida para a obtenção da melhor recompensa possível.

Voice of Cards

Enquanto acredito que nada disso faz de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars um game ruim, confesso que a experiência poderia ter sido mais divertida caso não fosse tão fácil prever os rumos que a trama seguiria ou os desafios que surgiriam pelo caminho. O problema em si não é ele ser um RPG para iniciantes, mas sim o fato de que eu, como alguém que tenho experiência no gênero, não vejo mais tanta atração em repetir experiências que já me são familiares — por mais que elas sejam bem executadas.

Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é uma ótima porta de entrada para quem deseja se aventurar pelo mundo dos JRPGS. Com mecânicas simples de aprender e uma história acessível, o game é bastante divertido e cumpre bem o que se propõe, mas peca por aproveitar pouco seu formato de “jogo de tabuleiro virtual” no que diz respeito às suas mecânicas. Se você gosta do gênero ou procura uma porta de entrada acessível a ele, vale a pena dedicar seu tempo a mais esse projeto com “cara clássica” da Square Enix.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm