Em pleno 2022, ano da tecnologia, foi quando menos joguei videogame nos últimos dez anos, e dá para perceber isso devido as poucas postagens que entreguei para o Neo Fusion. A falta de tempo foi regra por aqui. Mas, o engraçado é que mesmo assim tenho plena convicção que a lista dos indicados as categorias do The Game Awards foi “bisonha”. A sensação presente é a mesma do ano passado, não é preciso ter experimentado os jogos para entender que tudo gira em torno do “ecossistema Geoff Keighley”, daquele quem é o principal realizador do evento.

Sabe a premiação dos “Melhores do Ano” da Globo? Não? Então, nele, o Faustão entregava prêmios para os melhores atores, cantores, jornalistas, humoristas etc. Só que, obviamente, todos pertencentes a emissora, ou, contavam com uma espécie de vínculo, no caso dos cantores. O evento em si é uma comemoração interna, de celebrar os profissionais “da casa”.

Premiações servem ao propósito de reconhecimento, mas, nesse caso que citei, são os melhores dentro desse segmento específico, nas organizações Globo, e claramente há uma restrição a artistas e profissionais com ligações com outras emissoras ou empresas. Dito isso, o The Game Awards do ano passado me passou essa sensação de “clubinho fechado” de maneira definitiva.

A categoria que havia mais me passado essa certeza foi a de “melhor jogo independente”. Não vou nem entrar em discussão do que é indie ou não. Irei só me atentar ao fato de que dos 5 indicados, 3 eram publicados pela Devolver (Death’s Door, Inscryption e Loop Hero), 1 era da Annapurna (Twelve Minutes) e o outro era da Ember Lab, nome menos conhecido e também é o estúdio que desenvolveu o Kena: Bridge Of Spirits, que contou com uma parceria da Sony que ajudou a colocar o hype em geral.

Indicados a melhor jogo independente de 2021.

Kena foi quem ganhou como melhor jogo independente de 2021. No entanto, o vencedor não importa para esse texto, o lance é que o preenchimento de indicados se deve a publicidade. A presença do Twelve Minutes é a prova disso, um jogo de qualidade bastante questionável, um produto que ficou em evidência devido a presença de atores famosos na interpretação dos personagens, algo muito utilizado pela Annapurna para vende-lo em seu lançamento.

Categorias como “melhor jogo indie estreante” e “jogo de impacto” apresentam alguns indicados que saem um pouco desse ecossistema. No fim, o que já foi levantado em discussões, e que existe uma fundamentação apurada, é de que o que se tem no The Game Awards é o que foi jogado, o que chegou mais fácil nas mãos dos avaliadores. Como os grandes títulos requerem uma maior cobertura jornalística, existe uma dedicação maior, portanto, mais tempo para uma abordagem mais aprofundada de determinados jogos.

O que parece agora em 2022, algo que complementa o que foi falado, é uma clara visão desse ecossistema centrado no Geoff Keighley. Há jogos que vão se repetindo nos Summer Game Fest e Gamescom da vida e, no fim, são premiados no encerramento do ano, um percurso bastante encaixado. Por isso, mesmo não acompanhando a fundo os lançamentos de 2022, apenas assistindo os eventos das grandes empresas aqui e acolá, é possível apostar nos principais cogitados a competir no The Game Awards, até nas categorias dos jogos “menos conhecidos” por serem menores.

A indústria tende a seguir uma certa previsibilidade no que diz respeito as experiências de jogo cada vez mais parecidas. O The Game Awards, em cada um dos quadros de suas confusas categorias, é o retrato disso. O que faz essa sensação ser ruim, é que tínhamos, em 2018 e em 2019, um cenário em que essa premiação parecia se atentar de fato a cobrir essa indústria de maneira mais cuidadosa. O reconhecimento de Celeste e Disco Elysium indicavam algo mais otimista nesse sentido.

Indicados a melhor jogo independente de 2022.

Premiações são eventos que nós colocamos uma moldura mais ou menos adequada numa memória passada, de olhar com carinho e atribuir de qualidades o que foi vivenciado através dos jogos lançados ao longo do ano. O The Game Awards cada vez parece uma festa particular, um cenário corporativo, com lugares cativos, tão previsível como um ator de uma determinada novela ser indicado como melhor do ano segundo a emissora que transmitiu a mesma novela.

Felizmente, na premiação do The Game Awards, ainda vence o melhor jogo que chegou na disputa. Mas, para alcançar a disputa em si é necessária muita maquiagem, refletores, enquadramentos específicos para esconder as imperfeições. E nesse registro histórico fica uma galeria de aparências e de qualidades questionáveis.