Recentemente The Last Of Us Part I, remake do jogo original da série, foi lançado para PlayStation 5. Desde o seu anúncio, muitos questionamentos acerca da necessidade da existência dessa nova versão foram debatidos pela internet e nos mais variados veículos e canais sobre jogos mundo afora. Diversos argumentos tanto a favor quanto contra foram colocados na mesa, o que me fez pensar: quando se faz necessário um remake?
Desde bem antes desse momento em que estamos onde a terminologia é cotidiana, versões atualizadas e melhoradas fizeram parte da indústria. Ainda que não utilizassem os termos remaster e remake, era comum achar um jogo que havia ganhado uma nova versão em uma plataforma mais moderna de qual ele originalmente saiu. Street Fighter II, por exemplo, mudou muito desde o seu lançamento para Arcades em 1991, seja em conversões para outras plataformas ou em atualizações, já que na época a internet ainda não nós dava o luxo de atualizar um jogo por download.
Ainda assim, várias versões refeitas que poderiam facilmente ser consideradas um remake do original também apareceram. Até Mário ganhou a coletânea conhecida como Super Mario All Stars, que além de compilar os jogos da franquia lançados ao NES, ganhou melhorias tanto visuais quanto na sua jogabilidade, sendo praticamente um remake, de fato. As duas situações citadas têm contextos e motivações diferentes, mas todas movidas por popularidade: seja da plataforma que foi o Super Nintendo e do próprio Mario, e de Street Fighter, como jogo. E se tratando da primeira versão de cada um desses jogos, também eram bem experimentais. Dessa forma, ia além de uma oportunidade financeira, mas uma oportunidade como desenvolvedores de melhorarem a sua obra e visão criativa, colocando até elementos que não estavam lá desde o inicio, mas que foram pensados pra estar.
A primeira vez que eu ouvi o termo ‘’remake’’ foi quando vi pela primeira vez Resident Evil, para GameCube. O clássico de PS1 ganhava uma versão completamente nova, utilizando toda a tecnologia e poder do console da Nintendo, maximizando e expandindo a experiência como um todo, não só trazendo melhorias visuais, mas atualizando sua gameplay e reformulando completamente diversos segmentos do jogo, se tornando a sua versão definitiva.
O criador da série, Shinji Mikami, pôde refazer o jogo da forma que havia pensado no título de 1996, agora com mais recursos, tempo e da forma que ele, como criador, pensou. O jogo que saiu seis anos antes era o primeiro de uma franquia, e é perceptível o quanto ele era experimental, até pelo seu baixo custo.O salto do Resident Evil original para o segundo e o terceiro são enormes, algo que reforçava a necessidade de refazer aquele jogo, mesmo tendo sido lançado apenas seis anos antes do remake. A série ainda recebeu reimaginações do segundo e terceiro jogos, sendo remakes mais abrangentes, praticamente versão alternativas do originais, existindo junto a eles.
Outra grande referência quanto se trata de remakes é a série Pokémon. Aqui existem alguns ótimos e outros que ficaram devendo. A idéia inicial era de além de atualizar uma versão antiga e facilitar o acesso a pokémon de gerações anteriores, também expandir aquela experiêcia com os novos recursos da época. A primeira geração ganhou a sua nova versão no Game Boy Advanced com Fire Red e Leaf Green, tornando-se uma tradição na série a cada portátil novo que a Nintendo lançava. Ainda que os últimos dois remakes não tenham sido feitos com o carinho dos das duas primeiras gerações, a necessidade de existência deles e sua funcionalidade dentro da série continua a mesma, independente ou não da qualidade dos jogos.
Recentemente outro jogo que ganhou um remake foi Final Fantasy VII, e talvez seja o melhor exemplo de todos aqui; além de ser uma nova versão de um clássico sendo refeita do zero, ele é uma reimaginação do jogo original, expandindo a narrativa, construção de mundo e mudando completamente sua gameplay. O jogo, inclusive, é em partes, o que por si só já é uma grande mudança. Muito disso se dá ao fato de que o sétimo título da série sempre teve um escopo enorme, algo que em 1997 não foi colocado em prática seja por orçamento ou limitações tecnicas da época. Yoshinori Kitase, o diretor do jogo de PlayStation e idealizador deste Final Fantasy, fez questão de trazer de volta a maior parte da equipe original, justamente para que juntos pudessem fazer o jogo que de fato queriam na década de 90.
Final Fantasy VII Remake é o remake que mais gosto de analisar, porque no meu entendimento ele possui todos os requisitos que justificam a sua existência e que fazem dele uma das maiores referências do mercado nesse segmento. O original já estava datado? Sim. O remake expande a experiência e engrandece mesmo com as mudanças? Sim. Sempre vai haver a discussão sobre fidelidade e necessidade de mudar demais o jogo como um todo, mas a sua justificativa de existência é feita muito bem.
E assim, chegamos até The Last Of Us Part I e todas as discussões que cercam esse remake. Podemos ver nos exemplos dados acima que tempo de lançamento entre a nova versão e o original não é um requisito para medir quando ou não um remake se torna necessário. Resident Evil levou seis anos e Resident Evil 2, o segundo levou vinte e um. The Last Us, por exemplo, recebeu um remake nove anos depois do lançamento original, bem mais que o primeiro Pokémon e o primeiro Resident Evil. Mas o que torna essa versão desnecessária em comparação aos outros?
The Last Of Us já havia ganhado uma versão remasterizada em 2014, um anos após seu lançamento no PlayStation 3. A versão do PlayStation 4 apresentava diversas melhorias gráficas e desempenho, além de já conter no pacote o DLC The Left Behind. Naquele período não houve o mesmo criticismo de agora, já que o PS4 era um console mais acessível, assim como seus jogos, ainda que assim, houvessem criticas direcionadas as práticas, pois muitas vezes a impressão passada quando um remaster é lançado é a de preencher uma lacuna de lançamento e amenizar a falta de novos jogos. Isso não foi exclusivo da Sony, tendo Nintendo e Microsoft também sofrido com as mesmas críticas. Outro ponto crucial é do quanto The Last Of Us era um jogo acima da média em termos de produção para sua época.
É um jogo que mesmo em PlayStation 3 ainda impressiona , ao contrário de todos os exemplos citados neste texto, ao menos tecnicamente. O jogo da Naughty Dog era o último do estúdio nesse console do qual eles já haviam alcançado a excelência técnica com três jogos da série Uncharted. Ele não era de longe algo experimental, muito pelo contrário. O tempo não foi tão cruel assim com a jornada de Joel e Ellie. Por outro lado, a falta de necessidade, ao menos de indícios de que esse jogo deveria ganhar um remake, não faz da ideia inválida. Ainda que a justificativa seja seja rasa.
A Naughty Dog só atualizou tecnologicamente seu jogo, o que não é um problema dada a já conhecida capacidade do estúdio nesse campo. E de fato, deve ser a melhor forma de jogar esse clássico que é um dos grandes de sua geração. Mas porque não refazer o primeiro Jak and Dexter? Ou até o primeiro Uncharted? Séries que poderiam ser revitalizadas e agregaram muito mais que um terceira versão de um jogo que está a anos em alta e até série de TV está prestes a ganhar. A falta de necessidade de um remake de The Last Of Us se dá muito mais por fatores externos que a existência dele em si. O preço cobrado, de 70 dólares (349, no Brasil) parece completamente desproporcional.
O fator mais empolgante para justificar esse remake vem da adição das opções de acessibilidade que ainda não estavam presentes no original. Mas esse ponto justamente reforça que o preço também deveria seguir uma lógica mais inclusiva. A situação é mais crítica se lembrarmos que o remake de Shadow Of The Colossus para o PS4 custou por volta de 40 dolares e o processo de desenvolvimento foi bem parecido. A Sony sabia que The Last Of Us era dinheiro certo, independente do preço que cobrasse. Algo que a Nintendo também fez com a coletânea da série Mário e com o remaster de Skyward Sword. Em todos esses casos, eram produtos que poderiam custar pelo menos 20 dólares a menos. A postura das duas empresas a frente dessas versões contribuem muito para essa percepção, ainda que se tratasse de bons jogos.
The Last Of Us Part I é magnifico, mas poderia ter sido mais. Não pela sua falta de qualidade, mas sim pela postura de quem está por trás da obra. A discussão quanto a sua necessidade é longa, mas é inegável que com tantos exemplos de como conduzir um remake no mercado, eles tenham escolhido talvez o caminho menos propicio para os dias de hoje. Também não dá pra condenar o jogador que adquire, pois existem diversos motivos, seja emocional com a obra ou não. Mas isso tudo é um lembrete de que nós como consumidores precisamos ficar atentos a tudo e que vídeo game vai muito além do gameplay.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm