Uma das leis que mais valem para o mundo dos games é que adaptações de filmes de sucesso raramente são boas. Seja por orçamentos ou tempo de desenvolvimento limitados, produtos do tipo geralmente querem se aproveitar do ciclo de marketing para gerar um retorno rápido, independentemente da qualidade do produto final.

Desenvolvido pela Bithell Games, John Wick Hex é a exceção que prova essa regra. Criado com os mesmos personagens dos longa-metragens estrelados por Keanu Reeves, o título não tenta ser uma recriação total do que vemos nas telas, mas se aproxima bastante disso com um sistema de combate surpreendente quando se leva em consideração o material-fonte.

Se para muitos John Wick caberia perfeitamente bem em um game de ação nos moldes de um Max Payne, a Bithell Games decidiu que o gênero que mais se encaixava com o personagem era a estratégia. O resultado é um título com visão aérea no qual seus movimentos condicionam as ações de seus inimigos, em uma linha do tempo visível a qualquer momento.

É um pouco confuso entender como tudo funciona em um primeiro momento devido ao excesso de informação que o jogo apresenta logo de cara. No entanto, conforme o jogador começa a compreender como os sistemas funcionam, ele consegue reproduzir o “balé de tiros e mortes” visto nas coreografias da série cinematográfica — isso é, se ele conseguir jogar bem.

Brutal como os filmes

John Wick Hex usa o fato de não esconder nenhuma informação do jogador para ser brutalmente punitivo. Faça um movimento errado ou tente atacar um inimigo da maneira incorreta (cada um possui forças e fraquezas próprias) e você será punido de forma brutal. Para tornar as coisas mais complicadas, é preciso gerenciar tanto a vida de seu personagem (que vai embora rapidamente) quanto seu foco — recurso que permite rolar em segurança e ter uma vantagem sobre os inimigos.

Você também vai ter que decidir qual a melhor maneira de lidar com os oponentes: armas de fogo são uma solução fácil, mas podem adicionar um tempo que você não dispõe na timeline. Da mesma forma, seus ataques físicos podem nem sempre desabilitar totalmente um oponente, o que faz dele um problema futuro com o qual você terá que lidar rápido.

Além disso, é preciso levar em consideração que suas armas possuem munição bastante limitada — o que torna bem importante a ordem para o abatimento de inimigos, podendo oferecer novas ferramentas. Quando tudo parece perdido, também há a opção de jogar sua arma para desorientar um adversário momentaneamente — e torcer para você conseguir se armar novamente antes de tomar um tiro.

Enquanto John Wick Hex é essencialmente um jogo de estratégia, a forma direta como suas mecânicas se apresenta faz dele uma experiência bastante intensa. Em alguns momentos, tive que me lembrar que havia a opção de simplesmente parar, observar o ambiente e planejar estratégias com mais calma, tamanha a imersão e o dinamismo que o jogo oferece em seu gameplay.

Dificuldade pode ser impeditiva

Enquanto nas primeiras fases fazer tudo isso é relativamente simples — afinal, há uma quantidade generosa de recursos disponíveis —, as coisas se complicam em questão de pouco tempo. Como o game é uma experiência narrativa seguida, isso significa que são poucos os momentos em que o protagonista pausa e consegue descansar ou se recuperar.

Em outras palavras, isso significa que, se você sofreu um ferimento em uma fase e não possui recursos para se curar, vai ter que conviver com isso até encontrar um novo item de cura. Infelizmente, isso pode demorar tanto uma tela quanto dezenas delas para acontecer, o que acaba por tornar o game um pouco mais punitivo do que eu gostaria.

Confesso: não terminei John Wick Hex, e não por não gostar do jogo. Deixei a experiência de lado por ter chegado a um ponto em que, com pouca vida, era obrigado a ser “perfeito” em todos os meus passos para passar de uma fase lotada de inimigos. Isso depois de ter vencido duas batalhas contra chefes, que já haviam demandado uma quantidade generosa de tentativas.

Ao ver que não conseguiria progredir a não ser que voltasse atrás e refizesse todo meu progresso do ponto zero com uma maior maestria (para ter itens de cura o suficiente para encarar desafios futuros), decidi que havia usos melhores para o meu tempo. Eventualmente penso em retornar para o game — afinal, ele é realmente bom e tem mecânicas muito boas —, mas sinto que essa frustração poderia ser compensada por uma melhor distribuição de recursos por parte dos desenvolvedores.