Relato: O Teor Saudosista de Like a Dragon Gaiden - Neo Fusion
Relato
O Teor Saudosista de
Like a Dragon Gaiden
22 de abril de 2025
Atenção: esse texto contém spoilers sobre temáticas e narrativas presentes no jogo.

Por bem ou por mal, muita coisa mudou na série Yakuza desde quando se deu, repentina e involuntariamente, meu hiato na produção de textos sobre games em 2023 — e isso inclui, não ironicamente, o próprio nome da série no ocidente. A extensiva franquia da Sega hoje respira outros ares com jogos baseados em turnos em sua linha principal, intercalando-os com spin-offs de ação que buscam preencher o vazio desde o lamentável destino forçado da subsérie Judgment.

Diferenciando-se de outros títulos passados focados em aventuras totalmente alheias à timeline original da série — como Yakuza: Dead Souls e Like a Dragon: Ishin! —, o estúdio Ryu Ga Gotoku agora opta por contar uma história mais curta e contida entre títulos principais, trazendo um já conhecido personagem “do além” para brilhar, mais uma vez, sob os holofotes cinzentos das máfias e facções do Japão contemporâneo. Ou quase isso.

Dois reais ou uma morte forjada misteriosa?

Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name (ufa, que título desnecessariamente grande!) aposta em uma ficha que é, ao mesmo tempo, certeira e arriscada: certeira por trazer de volta um personagem tão amado pelos fãs da série clássica, mas arriscada por tentar justificar esse incompatível (e, para alguns, desnecessário) retorno após uma suposta conclusão definitiva de sua saga em Yakuza 6: The Song of Life.

Se até agora você não tem certeza de quem estamos falando, sejamos claros tal qual o subtítulo do jogo: o homem que apagou o próprio nome é Kazuma Kiryu. Forjando sua morte para proteger as crianças de um orfanato em Okinawa dos riscos oferecidos por seu envolvimento com o mundo do crime, o ex-yakuza se reclusa em uma propriedade da Facção Daidoji e evita ao máximo se expor publicamente quando deixa seu posto de meditação para realizar serviços de caráter duvidoso para Kihei Hanawa.

Like a Dragon Gaiden começa a mostrar seu semblante ridiculamente escrachado e afastado da seriedade logo nos primeiros minutos de sua trama. Vestindo um óculos escuro e negando qualquer envolvimento passado com o mundo do crime, o protagonista se apresenta sem qualquer pudor como Joryu para quem quer que cruze seu caminho questionando sua identidade. Sim, J-O-R-Y-U, com escrita e fonética próximas o suficiente para qualquer ser vivo inteligente concluir sem qualquer hesitação que ele, na verdade, é Kazuma Kiryu.

Mesmo assim, é divertido experienciar o tom obstinado e cínico do protagonista frente às acusações daqueles que procuram por seu outro eu ainda em vida. Suas atitudes acabam falando mais do que sua saudade de voltar para quem ama, e ele se mostra extremamente leal àqueles que lhe deram uma chance para o recomeço durante as aproximadas 12 horas de campanha.

Kiryu, Joryu ou Juntaro-chan?!

Like a Dragon Gaiden é, felizmente, um jogo menor tanto em sua rota obrigatória quanto no conteúdo opcional, mas que em momento algum deixa de ter aquela “carne para morder”. Há bons personagens na trama principal, histórias paralelas suficientemente variadas em tom e qualidade para os mais diversos gostos, além de uma seleção interessante de atividades em Sotenbori com as quais é possível interagir. Aliás, se tratando do distrito, preciso comentar: é encantador estar de volta ao local que um dia abrigou as primeiras e inesquecíveis aventuras de Goro Majima em Yakuza 0.

Tendo jogado até o momento metade dos jogos da série lançados no ocidente, eu estou particularmente familiarizado com muitas histórias e pessoas referenciadas por aqui, mas não todas. Ainda não tive a oportunidade de conhecer o terceiro, quarto, quinto e sexto jogos numerados da série, por exemplo, e senti que principalmente o último acabou fazendo falta para que eu compreendesse de forma mais abrangente o contexto no qual Kiryu (ou Joryu) está inserido.

 

E por falar nessa mistura de nomes para uma só pessoa, ainda há um momento no qual se referem ao protagonista por Juntaro-Chan, resgatando uma personalidade coadjuvante do passado da série. Essa característica, na verdade, se faz presente em alguns outros objetivos opcionais, aparecendo também nos primeiros minutos da versão demonstrativa de Like a Dragon: Infinite Wealth, quando um quarto nome é usado para distrair a atenção daqueles que querem causar discórdia na vida do Dragão de Dojima. Parece que não é somente o spin-off ambientado no Japão Feudal que nos confunde com novos nomes para personagens já conhecidos, não é mesmo?

Novos inimigos, antigos hábitos

Apesar do retorno polêmico de Kiryu aos holofotes, Like a Dragon Gaiden representa uma (tentativa de) ressignificação de sua chocante reaparição em Yakuza: Like a Dragon, respondendo alguns “como?” e “por quê?” de forma satisfatória em minha opinião. Infelizmente, as partes que se cruzam com o jogo protagonizado por Ichiban Kasuga são mais narrativamente restritas, impedindo que possamos ter qualquer agência ou controle sobre a lendária equipe de heróis de Yokohama em um jogo orientado à ação.

Para quem gosta de um bom fan service, o minigame de luta presente no novo e itinerante Castelo de Osaka traz figurões bastante conhecidos da franquia — além da atrapalhada dupla Higashi e Kaito do spin-off Judgment. Esse conteúdo opcional é parte da Rede Akame, uma nova justificativa para as abas de missões e listas de tarefas paralelas em locais, dificuldades e contextos distintos espalhados pela cidade. Mas não se sinta tão pressionado: nem tudo é obrigatório para quem almeja pegar todos os troféus e/ou conquistas do jogo.


Por fim, digo que minha experiência foi positiva tanto pelo que se cria quanto pelo que se resgata de referências marcantes. Minha admiração cresceu ainda mais em sua conclusão, após uma cena bastante emocionante envolvendo Kiryu e seu passado com o orfanato Morning Glory. Isso com certeza reacendeu uma centelha de admiração que eu ainda nutria pela série, e me fez querer buscar, a todo custo, o próximo título da série no qual devo me aventurar. Seja baseado em turnos ou orientado à ação, estou pronto para viver mais uma jornada emocionante e estranhamente cômica do jeito que só o Ryu Ga Gotoku Studio sabe fazer.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm