Era fevereiro de 2005 e, sem ao menos saber da existência dos vindouros consoles da sétima geração, eu ainda me divertia bastante com o PlayStation 2 e sua extensa (e acessível aos brasileiros) biblioteca de jogos. Muitos amigos da escola, porém, já falavam em jogos online. Ragnarok, Gunbound, Counter-Strike, Runescape e Tibia eram nomes que ecoavam pelos corredores do colégio onde estudei durante o intervalo entre aulas, mas não pude conhecê-los efetivamente pela limitação da internet discada da época.

O computador disponível lá em casa, adquirido em 2004, também não era grande coisa: um Athlon XP com 256 MB de RAM. Com certo custo, minha máquina conseguia rodar os incríveis RollerCoaster Tycoon, Grand Theft Auto 2, Dracula: The Resurrection e Tomb Raider: The Last Revelation — todos adquiridos por meio de revistas acompanhadas de jogos.

Hoje relíquias do colecionismo, as revistas FULLGAMES e CD Expert eram acompanhadas de jogos em mídia física no início dos anos 2000.

Felizmente, um colega de escola me disse que havia comprado um jogo de zoológico que não rodava em seu computador e o ofereceu para mim em troca de um salgado na cantina. Começava ali uma longa história de memórias com um jogo durante minha adolescência.

O trabalho do panda

Adolescente é uma praga mesmo, confesso. Como dizem os internautas na atual era dos memes: “o jovem tem que acabar”. No auge de minhas jogatinas com as campanhas originais de Zoo Tycoon 2, convidei um dos meus amigos da escola para experienciar com os próprios olhos (também conhecidos como mouse e teclado) toda a diversão proporcionada pelo jogo. Era um período transitório tanto para as formas de comunicação em massa quanto para adolescentes em plena puberdade: bancas de jornais já sofriam com a crescente cultura dos conteúdos ilegalmente disponibilizados em PDF na internet e jovens internautas se beneficiavam, sorrateira e anonimamente, de material não apropriado a sua idade disponível na internet (para bom entendedor, meia palavra basta).

O panda é um dos animais em extinção mais raros e cobiçados no jogo, exigindo um zoológico avaliado em 5 estrelas para finalmente poder ser adotado.

Ríamos do conteúdo encontrado nas muitas pastas e arquivos, intencionalmente confusos e estranhamente nomeados, quando ouvimos passos que ressoavam dez vezes mais intensos que uma multidão. Meu pai havia chegado em casa e decidiu dar uma passada no quarto para ver se estava tudo nos conformes. “E aí, o que estão fazendo tão entretidos nesta máquina?”, perguntou ele. Sem pestanejar, respondi: “A escola pediu um trabalho sobre pandas e estamos reunindo informações deste jogo de administrar zoológicos.”, aproveitando para minimizar as pastas e arquivos abertos. Sorte minha que a capacidade de inventar desculpas de um adolescente é geralmente tão ágil quanto a habilidade de apertar Alt + Tab. Posso dizer que Zoo Tycoon 2 evitou tamanho constrangimento e ainda rende boas risadas até os dias de hoje com histórias como essa.

Será que entregam no Brasil?

Eu disse que o jovem tem que acabar uma vez, mas eu não disse como o jovem é teimoso. É teimoso e acha que sabe de tudo também, com a péssima mania de se achar dono da razão quando o assunto é modernidade. Em 2008, época na qual ouviam-se conversas mais esparsas e não muito frequentes sobre importação de jogos, decidi que iria adquirir por meios legais a versão completa do meu (até então) jogo favorito da vida. Insistente, pedi à minha mãe que entrasse em contato com uma amiga que morava há muitos anos na Flórida e que me enviasse o jogo em mídia física por correio. A solicita senhora pediu o nome do jogo e disse que compraria em alguma loja de departamentos, já que sua experiência com compras online era praticamente nula.

Enviada a mensagem via e-mail com o título Zoo Tycoon 2: Ultimate Edition e depositado um valor acima do preço listado para lançamentos de jogos, estava certo de que poderia finalmente debulhar as quatro “novas” expansões  presentes no pacote completo. Seria também a chance de experienciar a obra completa em seu idioma original e colocar à prova os três anos investidos no curso particular de língua inglesa.

Expectativa: jogo completo com tudo que tinha direito. Realidade: apenas uma expansão que não funciona sem o conteúdo anterior.

Esperei aproximadamente 70 dias até o pacote internacional chegar em terras tupiniquins para me deparar com uma desagradável surpresa: Zoo Tycoon 2: Marina Mania, terceira expansão do jogo, tinha sido encomendada no lugar da versão completa. Sem as duas primeiras expansões obrigatórias, restou-me apenas a opção de desistir por um tempo desse plano, tamanha a decepção naquele momento.

Anos após a enfadonha tentativa de importação, encontrei Zoo Tycoon 2: Zookeeper’s Edition na prateleira de bugigangas de uma loja de eletrônicos e afins. Por míseros cinco reais da época, certifiquei-me de que estava levando para casa o jogo original e as duas primeiras expansões para finalmente experimentar o conteúdo quase completo. Mais uma vez fiquei “viciado” e passei meses completando todas as campanhas e desafios — mesmo sabendo que ainda não havia colocado as mãos na mais almejada e arriscada expansão.

A última esperança

Em 2016, lembrando das dores e amores vividos com meus jogos favoritos do passado, decidi resgatar algumas dessas memórias e eternizá-las em minha prateleira, em formato de mídia física. Por conta dos altos preços e da baixa disponibilidade, desisti da versão completa àquela altura do campeonato — afinal, eu só precisava de mais uma expansão para completar a coleção.

Eu me negava a aceitar os abusivos preços das cópias importadas de Zoo Tycoon 2: Extinct Animals tanto quanto rejeitava qualquer oportunidade de adquiri-lo ilegalmente por meio de torrents e afins. Era importante demais para a minha história como jogador e valioso demais em minha memória para ser surrupiado sem qualquer pudor. A ausência de uma versão digital oficial tirava as minhas esperanças. Desisti no mesmo ano e me esqueci de minha luta por um tempo.

Felizmente minhas desventuras em série com a franquia chegaram ao fim há pouco menos de uma semana: quase três anos após eu deixar a ideia de lado, lembrei-me do quão especial esses jogos eram para mim e decidi procurar novamente por uma cópia da expansão. “Tropecei” sem querer em um link no site da Amazon US e, para minha surpresa, lá estava ela: a edição completa de ZT2 (que inclui o pacote de animais extintos) em formato digital, comercializada pelo próprio estúdio que desenvolveu o jogo. Finalmente posso ter meu tão aguardado zoológico dos sonhos repleto de animais que nunca habitaram a terra ao lado dos humanos. Ah, e não se preocupe: em breve eu retorno para contar tudo sobre esse jogo que é mais parte da minha vida do que eu gostaria!