Análise: Like a Dragon: Ishin! - Neo Fusion
Análise
Like a Dragon:
Ishin!
2 de março de 2023

Recentemente escrevi no Neo Fusion sobre dois relançamentos de videogames: o remake de Dead Space e Metroid Prime Remastered. Ambos apresentam abordagens diferentes perante um clássico e, nos dois casos, é notável como a base original do jogo se sustenta com a modernização. Desta vez, temos um caso um tanto diferente com Like a Dragon: Ishin!, um remake do título Ryū Ga Gotoku Ishin!.

Após jogar sete títulos da série Yakuza entre 2021 e 2022 — comecei no 0 e joguei a saga Kiryu cronologicamente até o 6 — pensei em dar uma pausa com a série, afinal cada jogo é bastante longo e sinceramente começou a ficar um pouco repetitivo. Porém, como Kazuma Kiryu voltando a Kamurocho, fui puxado novamente à série na forma do spin-off Ishin.

A Era dos Samurais

O motivo pelo qual Ishin se manteve originalmente apenas no Japão é o mesmo que o distingue dos outros jogos da série (então Yakuza, agora Like a Dragon). O jogo se passa no século XIX, no final do período Edo do Japão, que foi a era de transição entre o feudalismo e a idade moderna. Também tem uma peculiaridade muito pouco comum em videogames: é baseado em uma história real, a de Sakamoto Ryōma, que é relacionada ao fim do período Edo e ao início do Império do Japão. É uma história importante e muito conhecida pelos japoneses, mas para nós é difícil dizer a linha traçada entre história e ficção.

Like a Dragon: Ishin!

Ryoma, no jogo, é retratado por nosso já conhecido Kazuma Kiryu. Em uma decisão que dá ao jogo um aspecto de teatro, a maioria dos personagens relevantes emprestam os rostos, vozes e personalidades de personagens da série Yakuza principal, formando um elenco familiar em um novo cenário. Fãs da série sempre terão alguns momentos de surpresa ao ouvir uma voz conhecida.

Em grande parte, o aspecto narrativo histórico de Ishin é o que me fez querer jogá-lo apesar de estar um pouco cansado da série. O contexto é tão diferente e há a possibilidade de contar uma história menos carregada de eventos complicados ao longo de múltiplos jogos. Há muitos detalhes da história japonesa que o jogo não explica muito bem, mas ainda é possível acompanhar a trama sem grandes dificuldades. Para quem quiser saber um pouco mais a respeito da relação do jogo com a história, recomendo este texto da Polygon

É um tanto fascinante visitar aquele período após ter jogado Ghost of Tsushima ano passado. Ambos jogos focam nas histórias de samurais, mas Ishin se passa quase 500 anos após Tsushima. Também há um tema comum do Japão sofrer pressão de forças estrangeiras, mas Tsushima foca especificamente no combate a essas forças, enquanto Ishin elabora os conflitos internos que desenrolaram por causa essa pressão externa, mostrando por exemplo como a introdução de armas de fogo afetou a dinâmica dos samurais que se honravam por suas habilidades com a espada. Curiosamente, é Pokémon Legends: Arceus que se passa em um período mais próximo ao de Ishin (corrigindo meu texto anterior, não é o Japão feudal!) e isso é visível principalmente pelo arranjo e arquitetura das cidades.

Um remake veloz

Ishin foi lançado em 2014, na transição entre as 7ª e 8ª gerações, para PS3 e PS4, mas nunca recebeu uma localização ou saiu do Japão. O remake mantém o aspecto cross-gen do título, porém para PS4 e PS5, além de PC e também ambas gerações de Xbox. Assim, é um jogo que teve ambas as versões, original e remake, lançadas para PS4. Com apenas nove anos entre os lançamentos, o jogo se compara a The Last of Us na categoria de remakes apressados.

Like a Dragon

Há uma certa estranheza no jogo causada pelo uso da Unreal Engine 4 em seu desenvolvimento. O Ishin original usava a mesma engine dos Yakuzas de PS3, e a expectativa é que o remake usaria a Dragon Engine dos jogos mais recentes. Segundo os desenvolvedores, a Dragon Engine não produziu um resultado que os agradasse em cenas diurnas, e portanto a decisão foi tomada de usar a Unreal. É impressionante o quanto de Yakuza conseguiram replicar na engine, mas a jogabilidade remete mais aos Yakuzas contemporâneos ao Ishin original do que aos atuais. Há um certo jank, por falta de palavra melhor, que é diferente do jank familiar de Yakuza, o que deixa tudo um pouquinho estranho.

Notavelmente, voltamos a ter telas de carregamento ao entrar e sair de casas, algo que havia sido eliminado na Dragon Engine, mas por sorte as lojas têm vendedores do lado de fora e não precisamos passar por essa transição. Obviamente não joguei o Ishin original, mas a impressão que me dá é que o remake ainda se assemelha muito ao original, ao contrário do que poderia se esperar após os remakes Kiwami e Kiwami 2, que completamente retrabalham os originais.

Esse pouquinho de estranheza se extende ao combate, que é a maior diferença entre Ishin e os outros jogos da série. Temos quatro estilos de luta: com os punhos, espada, revólver, ou espada revólver. O estilo a mão livre é parecido com Yakuza tradicional, mas os outros são mais elaborados do que quando apenas usamos armas nos outros jogos. O estilo Wild Dancer, em que Ryoma empunha uma kanata com a mão direita e um revólver com a esquerda, é bastante divertido de usar contra vários inimigos, mas tem poucas opções de defesa então pode ser problemática contra um chefe 1-contra-1. Eu gostaria se a transição entre estilos fosse um pouco mais rápida para poder engatar transições no meio de um combo.

Armas e melhorias, mas com um custo

Um dos aspectos que mais gostei em Ishin é o sistema de melhoria do personagem. Temos quatro árvores de habilidades, uma para cada estilo de combate, mas cinco tipos de ponto de experiência. Quatro desses tipos de pontos são obtidos ao usar cada estilo em combate, e o quinto é um neutro que independe do estilo usado. Por este último ser mais abundante, podemos colocá-lo nas árvores de cada estilo, e depois substituí-los por pontos que são específicos àquela árvore. Assim, é viável evoluir um estilo rapidamente (escolhi o estilo espadachim, que é mais útil contra chefes) e, ao continuar a usar aquele estilo empoderado, podemos receber de volta os pontos de experiência neutros para melhorar os outros estilos.

Ishin!

O outro caráter de evolução do jogo são as armas usadas, mas desta vez não tenho elogios. Há um sistema de crafting e melhoria de espadas e revólveres usando materiais que adquirimos ao longo da aventura, mas é completamente desbalanceado. Primeiro porque os materiais são tantos e incomuns, fazendo com que eu estivesse bem avançado no jogo antes de poder fazer qualquer coisa com o ferreiro. E além disso precisamos usar o ferreiro para fazê-lo subir de nível e liberar mais opções para forjar. Como consequência, eu praticamente nunca tive a opção de forjar alguma arma melhor do que consegui pela narrativa o que simplesmente comprei de outro vendedor, tornando todo o sistema um tanto inútil.

Infelizmente, há um motivo para isso: ao acessar a página do jogo nas lojas, percebe-se que é possível comprar conjuntos de materiais para forjar espadas e armas por cerca de R$15. É impossível largar a sensação de que o sistema de melhoria de arma foi intencionalmente mal-projetado para incentivar a compra desses pacotes (que sim, podem ser comprados múltiplas vezes). É outro aspecto do jogo que me transporta de volta ao ano de 2013, quando empresas como a EA estavam abusando de microtransações desse estilo (como em Dead Space 3 👀). Também é possível comprar pontos de experiência, mas o sistema não parece ser desbalanceado da mesma maneira.

Ludonância Disnarrativa

Como em outros jogos da série, por mais que tenha várias coisas que me incomodem, eu continuo curtindo o título de forma geral e tenho vontade de continuar jogando. Neste caso, a narrativa carrega muito desse peso, que é bastante fascinante apesar de ter seus momentos extremamente enrolados. Algumas atividades secundárias também são bacanas, como brincar de Stardew Valley com uma fazendinha e ajudar os cidadãos com diversos problemas. Mas também é tosco coletar cupons para a roleta e perceber que 80% das vezes a roleta só te dá papéis inúteis. E é sempre engraçado ver Ryoma poupando as vidas de inimigos em cutscenes, para então cortar todo mundo ao meio durante o combate.

Like a Dragon: Ishin! dá nova vida a um título que anteriormente ficou apenas no Japão. De certa forma traz um frescor à série Yakuza/Like a Dragon, especialmente em termos narrativos, mas ao mesmo tempo parece muito preso às limitações do jogo original de PS3. É o tipo de jogo que é agradável de jogar (para quem gosta do estilo), mas tem problemas demais para ignorar e sempre passa a impressão de que poderia ser muito melhor. É infeliz perceber claramente que o sistema de melhoria de armas foi feito pensando em vender microtransações, tirando a satisfação de melhorar os equipamentos do nosso personagem ao longo da aventura.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm