Durante a segunda metade dos anos 2000, a Square Enix passou por uma fase complicada em que parecia que a identidade da empresa estava se perdendo. Vendo a necessidade de aumentar seus lucros e alcance para uma audiência global, a empresa fez uma série de empreitadas para “ocidentalizar” seus games e tirar dele características que, à época, eram consideradas “japonesas demais” — algo que teve resultados, no máximo, mornos.
Foi somente em 2012 que a empresa decidiu fazer a iniciativa “ousada” de voltar às suas raízes com Bravely Default — uma espécie de “novo Final Fantasy” —, game que trazia de volta elementos “ultrapassados” como batalhas por turno, foco no grinding e uma história simples. O sucesso obtido pelo game de 3DS foi tanto que ajudou a abrir os olhos da companhia para o fato de que o modelo do JPRG tradicional não estava falido, como ela acreditava, mas somente carecia de títulos bem-feitos capazes de cativar o público.
Lançado no dia 24 de setembro deste ano, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um game que se encaixa bem na nova filosofia da empresa. Simulando em sua apresentação uma partida de um jogo de tabuleiro — no melhor estilo Dungeons & Dragons —, o título é em sua essência um RPG japonês bastante tradicional e convidativo para novatos, que tem sua apresentação como verdadeiro diferencial.
O mundo estava em conflito graças ao poder do Dragão, uma criatura misteriosa que dominava a todos com sua influência maligna. No entanto, um grupo de corajosos heróis conseguiu combater a criatura, que foi banida para um lugar distante onde seu mal não mais alcançava — ou ao menos é isso que a história diz. Agora, há sinais de que o Dragão está de volta, e todos os aventureiros do reino estão se reunindo para combatê-lo novamente.
Em Voice of Cards: The Isle Dragon Roars, você controla um desses grupos de aventureiros que compensa a falta de experiência com grandes ambições e o desejo de ficar rico com a recompensa oferecida pela derrota da criatura. A aventura se inicia somente com duas pessoas em seu grupo, mas não demora muito até que você encontre novos companheiros, cada um correspondente a um arquétipo de RPGs clássicos — como magos, cavaleiros e arqueiros, por exemplo.
Toda a narrativa, exploração e batalhas acontecem na forma de uma espécie de tabuleiro formado inteiramente por cartas. A maior parte do tempo é passada em um mapa que representa o mundo exterior e, conforme você se move, as cartas são viradas para revelar o que há pela frente — uma montanha, a entrada de uma caverna, uma floresta ou a chegada a uma cidade estão entre as opções.
As batalhas acontecem de forma aleatória, podendo surgir em praticamente qualquer momento (com exceção de áreas específicas, como cidades). Quando elas são iniciadas, o jogador é levado a uma tela em separado na qual deve lidar com o conflito, que se passa em turnos cuja chegada é determinada pelo atributo de velocidade de seu personagem.
O sistema é bastante simples e fácil de aprender, com algumas peculiaridades. Golpes especiais precisam de ao menos um cristal para serem realizados (uma unidade do elemento é adicionada automaticamente a cada turno), e há um sistema de resistências e fraquezas elementais que, se bem explorado, pode facilitar bastante a vida do jogador. Ao final da batalha, os heróis ganham pontos de experiência e, ao subir de nível, desbloqueiam novas habilidades e reforçam seus atributos básicos.
Além dos reforços obtidos pelos níveis, você pode melhorar sua equipe comprando novos equipamentos e acessórios, que também podem ser encontrados em baús. Também é possível carregar uma série de itens de cura, cujo uso é limitado pelo tamanho de seu inventário. Assim como nos jogos da série Dragon Quest, cada item ocupa um espaço único, então não dá para acumular dezenas de poções e antídotos, o que traz uma carga estratégica maior para os momentos em que você deve ou não os utilizar.
A descrição que fiz de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars se encaixaria muito bem em qualquer Dragon Quest, Final Fantasy ou no mais recente Bravely Default II. Isso não é exatamente um problema para o jogo em si, que configura uma aventura de JRPG básica e competente. No entanto, parece que o formato de “falso tabuleiro” é mal aproveitado, servindo mais como uma capa estética do que como um elemento cuja natureza é realmente explorada.
Em um jogo de RPG convencional, por exemplo, você poderia tentar “trapacear” com o rolar de dados ou usar outra solução que não fosse o combate para escapar de um encontro. Embora haja uma tentativa de fazer algo diferente no jogo na forma dos eventos aleatórios que acontecem, as opções disponíveis ainda são poucas e sempre há o “caminho certo” a seguir — em uma das primeiras florestas do jogo, o mesmo evento se repetiu tantas vezes que foi fácil detectar qual a rota otimizada que deveria ser seguida para a obtenção da melhor recompensa possível.
Enquanto acredito que nada disso faz de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars um game ruim, confesso que a experiência poderia ter sido mais divertida caso não fosse tão fácil prever os rumos que a trama seguiria ou os desafios que surgiriam pelo caminho. O problema em si não é ele ser um RPG para iniciantes, mas sim o fato de que eu, como alguém que tenho experiência no gênero, não vejo mais tanta atração em repetir experiências que já me são familiares — por mais que elas sejam bem executadas.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm